BRENO SILVEIRA
João Linhares/TV Globo
O diretor Breno Silveira, responsável pelo filme 2 Filhos de Francisco e pela série 1 Contra Todos
LUCIANO GUARALDO
Publicado em 22/4/2018 - 6h15
"A gente está passando por uma crise no cinema. O futuro do audiovisual está na televisão". A previsão já chamaria a atenção apenas por ser dita em voz alta, mas se destaca por ter saído da boca do diretor Breno Silveira. Ele ganhou fama ao comandar o longa 2 Filhos de Francisco (2005), que na época se tornou a maior bilheteria do cinema nacional desde a retomada, em 1995, e até hoje segue na lista dos filmes mais vistos do país.
Silveira, de 54 anos, descobriu o potencial da televisão por acaso em 2014, quando tentava apresentar um projeto para produtoras de cinema. Ninguém se interessou. Quando foi desabafar com Zico Góes, que havia acabado de assumir a direção de conteúdo dos canais Fox, saiu da mesa de bar com o projeto transformado em série: 1 Contra Todos chegou à TV em 2016 e estreia seu terceiro ano nesta segunda (23).
Acostumado a passar até sete anos trabalhando em um filme, como ocorreu com Gonzaga - De Pai para Filho (2012), o diretor se encantou com o ritmo acelerado da televisão: ele teve apenas quatro meses para desenvolver toda a primeira temporada da série. Da conversa inicial com Goes até a estreia na TV, foram menos de dois anos.
"Fiquei fascinado com isso. Estava acostumado a guardar minhas histórias comigo, desenvolvê-las sempre foi um processo muito demorado. Fazer série é diferente. Podemos nos envolver mais com os personagens, criar histórias paralelas e ir mais longe do que o previsto", discursou ele, no dia 18, durante uma master class promovida pelo projeto NetLabTV, que descobre e incentiva novos roteiristas.
A paixão pela TV é tamanha que Silveira considera que a minissérie Entre Irmãs, exibida no início deste ano pelo Globo, é muito melhor do que a versão cinematográfica da mesma história, lançada em outubro do ano passado. "A história é muito mais completa, e os ganchos funcionam bem", se autoelogia.
divulgação/netlabtv
Breno Silveira (à dir.) em papo com o roteirista Aleksei Abib, em master class do NetLabTV
"O bacana das séries, diferentemente do que ocorre com filmes, é que elas acham o público muito rápido. Tem audiência para tudo que você faça, isso é legal. O cinema hoje é muito nichado ou apelativo. Só tem Batman, daqui a pouco Hollywood não tem mais a quem premiar. Isso precisa ser revisto porque, de alguma forma, o conteúdo inteligente está todo nas séries", diz ao Notícias da TV.
O panorama que o diretor faz do audiovisual brasileiro é bem diferente da visão que tinha há oito anos. Na época, foi chamado para conversar com uma turma de alunos de uma faculdade e apresentou uma visão pessimista.
"Falei: 'Vocês vão brigar muito no mercado, porque tem pouco espaço'. Hoje, se fizesse a mesma palestra, diria o oposto: 'Vocês estão no caminho certo, e no momento certo", conta.
"O que está acontecendo é fruto de uma demanda gigantesca de mercado, não só no Brasil como no mundo. Temos pouquíssimos profissionais formados, um gargalo gigantesco de roteiristas. Eu mesmo estou desesperado atrás de bons autores, porque os meus são levados pela Globo, pela Netflix, por não sei mais quem. Não consigo nem manter meus roteiristas mais (risos)", aponta Silveira.
E trabalho não falta para a equipe de texto do diretor: às vésperas de estrear a terceira leva de episódios de 1 Contra Todos, ele já trabalha na quarta temporada (ainda não confirmada pela Fox), tem um outro projeto encomendado pelo canal e desenvolve mais duas ideias.
Silveira só não abandona por completo o cinema pois dirigirá a cinebiografia de Roberto Carlos. "Foi um convite dele, tive que aceitar."
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