DESCENTRALIZAÇÃO
Divulgação/Solo Filmes
Alexandre Cioletti em cena do especial Santino e o Bilhete Premiado, exibido pela Globo Minas
LUCIANO GUARALDO, em Belo Horizonte
Publicado em 26/8/2017 - 6h59
Maiores polos econômicos e culturais do país, São Paulo e Rio de Janeiro ainda são os principais produtores de conteúdo audiovisual brasileiro. Mas a Ancine (Agência Nacional do Cinema) vai investir pesado para que outras regiões comecem a ganhar espaço nesse mercado. A ideia é destinar R$ 100 milhões por ano para a produção de séries fora do eixo.
Durante a MAX (Minas Gerais Audiovisual Expo), feira de fomento à produção criativa brasileira que acontece em Belo Horizonte até este sábado (26), a diretora-presidente da Ancine, Debora Ivanov, mostrou uma nova política de descentralização.
Na proposta, aprovada pelo comitê-gestor do órgão federal em julho, produtoras não localizadas no Rio ou em São Paulo terão uma dedução adicional de 50% do valor de pré-licenciamento de seus conteúdos para programadoras do eixo.
Ou seja: emissoras terão desconto se comprarem programas feitos em regiões menos populares. Também será estimulada a coprodução entre realizadoras de Rio e São Paulo com as de outros Estados.
Segundo dados apresentados por Debora, o Brasil tem mais de 9 mil produtoras de conteúdo. Dessas, 3.488 estão em São Paulo e 1.840 no Rio de Janeiro. Mais de 50% das realizadoras estão concentradas em dois Estados. Terceiro colocado, o Rio Grande do Sul tem apenas 574.
"Essa discrepância é notável e precisa ser reduzida. Por isso, estamos incentivando a descentralização da produção", disse Debora. Dos R$ 100 milhões destacados, R$ 94 milhões irão para as regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. A região Sul e os Estados de Minas Gerais e Espírito Santo dividirão os outros R$ 6 milhões.
Por lei, 30% do valor do FSA (Fundo Setorial Audiovisual) é destinado às regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, enquanto 10% vai para Sul, Minas e Espírito Santo. Porém, esses percentuais dificilmente são cumpridos pelas produtoras locais e a verba acaba se perdendo.
"Acho importante valorizarmos as produções regionais porque representam a riqueza da nossa cultura e reafirmam a identidade de cada área", discursou Debora.
Na sexta (25), um painel da MAX abordou um exemplo de produção regional bem-sucedida: o especial de fim de ano Santino e o Bilhete Premiado, feito pela Solo Filmes, do diretor Guilherme Fiúza Zenha, e exibido pela Globo Minas no ano passado, com curadoria artística de Jayme Monjardim.
A ideia de descentralização parece ser bem aceita entre players importantes do mercado. Diretora de conteúdo original do grupo A&E, Krishna Mahon parabenizou a Ancine. "Nós já fizemos alguns programas fora do eixo e rendem resultados interessantes. Se esse incentivo gerar mais produções, será muito bem-vindo", disse.
Luca Paiva Mello e Roberto Martha, da Scriptonita Films, também valorizaram a iniciativa. "Estamos desenvolvendo projetos com uma equipe do Piauí. Em termos de cultura regional, é uma das coisas mais empolgantes que eu já fiz", adiantou Luca.
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