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FILMAGENS INTENSAS

Som da Liberdade: Como diretor preparou crianças para cenas de pedofilia e tráfico?

Reprodução/Instagram

Lucás Ávila está deitado no colo de Cristal Aparicio, que tem olhar distante; ao lado deles está o diretor Alejandro Monteverde

Os atores Cristal Aparicio e Lucás Ávila recebem instruções do diretor Alejandro Monteverde

LUCIANO GUARALDO

luciano@noticiasdatv.com

Publicado em 24/9/2023 - 8h25

Grande surpresa do cinema em 2023, o filme Som da Liberdade trata de um tema espinhoso: o tráfico internacional de crianças vítimas de pedofilia. Atores mirins encaram cenas difíceis, em que são arrancados de seus pais e trancados em contêineres, além de sequências desconfortáveis para o público --como as que fazem caras e bocas sensuais diante de uma câmera que os fotografa para um site de adultos pervertidos.

Muitas das cenas mais complicadas são interpretadas por Cristal Aparicio, que vive Rocio, e Lucás Ávila, que faz o irmão dela, Miguel. O resgate do menino é o que motiva o protagonista Tim Ballard (Jim Caviezel) a largar seu posto como agente do Departamento de Segurança Nacional para ajudar mais crianças sequestradas e forçadas a se prostituírem --em especial, a irmã mais velha do garoto, tomada como amante por um líder das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia).

Som da Liberdade, que fique bem claro, não exibe nenhuma cena explícita de abuso sexual. Mas apenas a sugestão do que já aconteceu e do que pode ocorrer já é o suficiente para causar arrepios em quem assiste à obra. Ao Notícias da TV, o diretor Alejandro Monteverde explica como preparou os atores mirins para os momentos mais intensos:

Como era um tema difícil, nós decidimos não contar para as crianças do que o filme se tratava. Com o mais novo [Lucás], eu conversei com ele, descobri o que o deixava feliz ou triste. E aí contava apenas o que ele precisava saber para cada cena. Eu diria algo como: 'Essas pessoas roubaram você, querem levar você do seu pai. Como seria se você nunca mais visse seu pai?'. Mas eu nunca contei o que aconteceria depois [o abuso sexual].

Com Cristal Aparicio, atualmente com 17 anos --mas que tinha 12 durante as filmagens--, a estratégia do diretor foi a mesma. A família da atriz, porém, optou por abrir o jogo com ela. "Mais ou menos no meio das gravações, os pais dela decidiram contar. Eles me perguntaram se isso prejudicaria o trabalho, e eu disse que a decisão era deles. Não participei dessa conversa, não sei o que eles disseram. Mas ela tinha uma cena em que precisava chorar bastante, e eles contaram bem naquele dia. As lágrimas eram verdadeiras."

Monteverde conta por que optou pelo segredo na relação com os astros de Som da Liberdade. "Quando uma criança está com problemas, e é algo perigoso, ela não pede ajuda para outra criança, ela procura um adulto. Os pequenos enxergam os adultos como protetores. Contar que os adultos são capazes de fazer coisas tão horríveis poderia gerar um trauma", justifica.

O cineasta ressalta que dirigir atores mirins traz vários obstáculos --em particular pela quantidade de horas que eles ficam disponíveis para gravar--, mas que artistas mais velhos também têm suas peculiaridades. "Cada um tem um desafio. Você pode trabalhar com Robert De Niro ou com Jim Caviezel, e serão maneiras totalmente diferentes. Então, eu vejo as crianças como atores que são mais novos, apenas", minimiza.

Logo em seu primeiro filme, Bella (2006), o diretor teve problemas com a atriz mirim Sophie Nyweide, que viveu a personagem-título. "Ela tinha quatro ou cinco anos e, depois de uma hora de filmagens, disse: 'Cansei, não quero mais'. Saiu correndo e começou a virar estrelas na praia. Eu surtei, fui até ela e falei: 'Você está demitida!'. Ela nem sabia o que aquilo significava (risos). Eu expliquei, e ela entendeu que era sério. Aí, a coisa toda mudou."

Aquilo me ensinou uma lição: se você tratar uma criança como criança, ela vai agir como tal. Mas se você explicar que um filme envolve milhões de dólares, que 400 pessoas estão esperando ela atuar, ela entende que aquilo não é uma brincadeira. É como na escola: elas sabem a hora de estudar e a hora do recreio.

Som da Liberdade quase não foi lançado

Som da Liberdade foi rodado em 2018, e o braço latino da 20th Century Fox tinha um contrato para distribuir o longa. Quando a Disney adquiriu a empresa, porém, os executivos do Mickey preferiram engavetar o projeto, que já estava pronto para entrar em cartaz.

Ator e produtor da história, Eduardo Verástegui conseguiu comprar os direitos de distribuição de volta e os ofereceu para o Angel Studios, grupo responsável pela série bíblica The Chosen (outro fenômeno recente). A empresa abriu uma vaquinha pública para bancar a exibição do longa nos cinemas, e conseguiu US$ 5 milhões (R$ 24,6 milhões) em menos de duas semanas.

Apenas no primeiro fim de semana em cartaz nos EUA, a produção arrecadou US$ 21,3 milhões (R$ 105,1 milhões), assegurando que os investidores recebessem seu dinheiro de volta. Até o momento, o longa faturou mais de US$ 210 milhões (R$ 1 bilhão) e está entre os 20 filmes de maior bilheteria neste ano. Já superou superproduções como Besouro Azul, Dungeons & Dragons: Honra Entre Rebeldes e Shazam! Fúria dos Deuses.

Confira o trailer de Som da Liberdade, já exibido nos cinemas brasileiros:


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