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MARGINAL ALADO

Sem pegar leve, documentário sobre Chorão retrata vida controversa do cantor

Reprodução/O2 Filmes

Chorão anda de skate em vídeo caseiro reproduzido no documentário Chorão: Marginal Alado

Documentário sobre a vida do cantor Chorão estreia nesta quinta (8) nos cinemas e em plataformas digitais

REDAÇÃO

redacao@noticiasdatv.com

Publicado em 8/4/2021 - 6h50

Chorão: Marginal Alado, documentário sobre a vida do fundador e vocalista da banda Charlie Brown Jr., estreia nos cinemas e nas plataformas digitais nesta quinta-feira (8) com um retrato da jornada controversa do cantor como um dos grandes astros rock nacional, sem pegar leve com a sua dualidade.

Nascido Alexandre Magno Abrão, Chorão (1970-2013) liderou o Charlie Brown Jr. durante toda a existência da banda, entre 1992 e 2013, sendo o único integrante a permanecer em todas as suas formações. Conhecido por seu bom coração e temperamento forte, o vocalista colecionou tanto amizades quanto conflitos durante o seu tempo como líder do grupo.

Dirigido por Felipe Novais, o documentário conta a história repleta de extremos do artista. Vindo de São Paulo, Chorão adotou Santos, no litoral paulista, como a cidade do seu coração. Foi lá que ele aprofundou duas das grandes paixões da vida: a música e o skate.

Para fãs pouco familiarizados com a origem do cantor, o longa faz um retrato importante de seus tempos de juventude. Antes de se tornar um rockstar, Chorão surpreendia nas ruas de Santos com a sua habilidade em cima do skate e sua identificação com a cena do esporte no país. Vídeos caseiros e nunca antes vistos mostram o astro fazendo manobras impressionantes.

Essas imagens íntimas do cantor curtindo o seu hobby fazem parte de um compilado de mais de 700 fitas cedidas pela família de Chorão. É através delas que o documentário exibe a figura por trás da câmeras e dos palcos, sua relação com os companheiros e a dedicação à carreira pela qual tanto batalhou.

REPRODUÇÃO/02 FILMES

Chorão em show do Charlie Brown Jr.

Apesar de ter abandonado a escola na sétima série, Chorão mostrava um conhecimento ímpar como letrista. Era de sua mente que, como ele mesmo afirmava, saiam quase 90% das músicas do Charlie Brown Jr. Sua genialidade e devoção são destacadas por Rick Bonadio, antigo empresário da banda e um dos muitos convidados especiais entrevistados para falar sobre o ídolo.

A lista de artistas que aparecem não é apenas extensa, mas especial. Novais começou a realizar o filme em 2013, pouco após a morte de Chorão. Isso permitiu que o cineasta conversasse até com Luiz Carlos Leão Duarte Júnior, o Champignon (1978-2013), ex-baixista do Charlie Brown Jr. que tirou a própria vida sete dias após a entrevista.

Para os fãs mais antigos da banda, os relatos sinceros de Champignon servem para ilustrar a complicada relação entre os amigos. Por conta de diversas brigas, o músico deixou o grupo e ficou ausente durante sete anos, retornando ao posto apenas em 2012. "Tem coisas que só nós dois sabemos e que ninguém nunca vai saber", diz o baixista, sem negar a admiração que tinha pelo ex-companheiro.

A personalidade forte de Chorão não lhe rendeu apenas atritos com os companheiros de banda. Marginal Alado relembra o famoso soco em Marcelo Camelo, dos Los Hermanos, além de discussões nos bastidores com João Gordo, líder do Ratos de Porão e um dos entrevistados por Novais.

Mas nem de polêmicas viveu o astro. O documentário também relembra a paixão do cantor pela mulher, Graziela Gonçalves, e o carinho pelo filho, Alexandre, e pelo irmão, Fábio. A fidelidade de Chorão aos próximos é explanada nos depoimentos de seu advogado, seu motorista e seu segurança, todos amigos próximos e que expõem as várias camadas desconhecidas do astro.

Artistas como Zeca Baleiro, Otto e Digão, ex-Raimundos, também aparecem para explicar como a pressão por ser o líder e o grande rosto do Charlie Brown Jr., acumulada em quase duas décadas na estrada, ajudou na decadência de Chorão e na sua aproximação das drogas. A separação de Graziela por conta do seu vício adquirido em cocaína acabou por selar o destino trágico que deixou órfãos milhões de fãs pelo Brasil.

REPRODUÇÃO/02 FILMES

Champignon durante sua entrevista

Desconstruindo o ídolo

Reunir tanto material para retratar a linha temporal da jornada de Chorão não foi uma tarefa fácil. Mesmo tendo começado a produzir o longa em 2013, o diretor Felipe Novais só foi ter contato com o material exclusivo das fitas íntimas quando encontrou Xandy Abrão, filho do cantor, em 2017.

Além dos vídeos caseiros, a equipe do documentário também entrou em contato com emissoras de TV para que disponibilizassem apresentações e entrevistas do Charlie Brown Jr. e de seus integrantes. O resultado desse trabalho foram as quase 1.200 horas de material prontas para serem filtradas.

Para a sorte de Felipe, o astro era acompanhado por um cinegrafista quase o tempo todo durante o seu tempo em turnê e durante os shows da banda.

"O Chorão tinha um controle muito forte da própria imagem dele. Dificilmente você achava um material muito exclusivo da convivência. Foi um desafio encontrar esse material e, depois de encontrado, garimpar quase 800 horas de material do arquivo pessoal de um cinegrafista que o acompanhava", contou o cineasta em entrevista à imprensa para divulgar o filme.

REPRODUÇÃO/02 FILMES

Cantor foi de skate no Jô Soares Onze e Meia

De acordo com o diretor, a figura controversa de Chorão foi o que lhe chamou a atenção para a ideia de produzir o documentário --principalmente após a sua morte.

"Não foi só a partida precoce, o que me chamou a atenção foi o fato dessa morte mexer muito com as pessoas pelos extremos. Ele era amado ou demonizado. Eu fiquei instigado a descobrir quem era essa pessoa. Só o víamos na mídia, era um cara muito presente, mas eu fiquei curioso pra ver quem era o Chorão e entender a sua trajetória, as contradições, para saber como acabou ali", explicou.

Sobre as tantas imagens que recebeu para construir seu filme, Novais destacou uma que retrata uma das qualidades muito citadas pelos amigos do astro: a empatia por aqueles que ama. Em um vídeo caseiro, Chorão aparece dando atenção a uma fã e a incentiva a baixar as músicas da banda em vez de comprar os discos.

"[Essa cena] Me tocou muito. Não à toa é que mais comentam comigo. É uma cena que condensa tudo o que estamos vendo sobre ele. É um momento intimo e uma entrega genuína dele com o público. Aquilo me toca porque era um cara que ganhava a vida vendendo discos e direitos autorais e fala para a fã baixar as músicas, não gastar com isso e que não teria problema", confessou.

Na visão de Novais, Chorão foi "vítima" de uma geração que problematizava homens que demonstravam emoções. Para o diretor, ele era um artista que se manifestava além das letras de música, o que o fazia conversar muito com o público durante os seus shows.

"A vida é isso, estamos falando de um artista que sentia com um pouco mais de ímpeto e não tinha tantos instrumentos para trabalhar. Ele falava pela música, nas letras, em cima do palco. Por isso ele falava tanto em shows. Ele era um pedregulho do rock, ficou preso a essa personalidade. Acho que ele era um rapaz que não foi tão ensinado a lidar com sentimentos. Quando misturamos talento, mídia e fama, tudo fica mais intenso", finalizou.

Chorão: Marginal Alado está disponível nos cinemas e nas plataformas Now, Google Play, Apple TV e Vivo Play. Assista ao trailer:

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