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JOANA D'ARC FÉLIX

Por tom de pele, Taís Araujo desiste de viver cientista renomada no cinema

Fotos: Reprodução/TV Globo

Taís Araujo (à esq.) ia viver a cientista brasileira Joana D'Arc Félix, mas desistiu: 'Não era adequada' - Fotos: Reprodução/TV Globo

Taís Araujo (à esq.) ia viver a cientista brasileira Joana D'Arc Félix, mas desistiu: 'Não era adequada'

LUCIANO GUARALDO, no Rio de Janeiro

Publicado em 6/5/2019 - 6h23

Taís Araujodesistiu de interpretar a cientista brasileira Joana D'Arc Félix no cinema. A atriz continua envolvida no projeto, mas terá outra personagem ou ficará apenas atrás das câmeras, na produção. Ela abriu mão do papel depois de ter sido criticada por ter um tom de pele claro demais para a personagem. "Eu não era a pessoa mais adequada", reconhece.

"É algo curioso, porque às vezes você pensa que é uma pessoa instruída, e mesmo assim comete falhas. Eu reflito sobre isso o tempo todo. Quando anunciaram que eu ia fazer a Joana D'Arc, tiveram vários comentários criticando, falando 'Ela é muito clara'. E quando li aquilo, vi que eles estavam totalmente certos", lembra Taís.

"Eu não preciso fazer a Joana D'Arc, já faço tanta coisa! Posso fazer o projeto acontecer com uma outra atriz, mais adequada para interpretar a personagem. Porque essa atriz existe, e não sou eu", ressalta ela.

A estrela da Globo justifica que dar a oportunidade para uma outra profissional, com pele mais retinta, é uma forma de ir até a raiz do problema. "Nosso país tem milhões de problemas, e essa atriz de pele mais escura deve estar cansada de ouvir que não pode fazer um ou outro papel porque não é adequado para ela. Nesse caso, o papel é absolutamente adequado, então ninguém vai dizer que ela não pode fazer."

Taís reconhece que, assim que recebeu o projeto do filme sobre a vida da cientista, não chegou a pensar sobre o tom de sua pele. "Quando eu vi aquilo, pensei: 'Caralho, é uma cientista negra, com não sei quantas patentes'... Eu sou fominha pra caramba, quero contar a história dessa mulher. Nem cogitei que não era a atriz adequada [para interpretá-la no cinema]", admite ela.

A experiência de receber críticas por ser "muito clara" abriu os seus olhos. "Percebi que nós temos de aprender todo dia, estar sempre evoluindo. Acho que essa inclusão ainda é um processo muito recente, e nós vamos cometer falhas, e vamos cometer excessos. É um caminho que nunca trilhamos, e que não sabemos onde vai dar. Mas com certeza vai ser para um mundo diferente, mais justo, porque nesse aqui nós já vivemos demais e cansou", filosofa.

Além da história de Joana D'Arc Félix, Taís também tem um projeto de levar a vida de Elza Soares para o cinema. E, engajada, fez questão de colocar roteiristas negras nos dois longas, além de se certificar de que as equipes contarão com profissionais mulheres.

"Não vale a pena fazer um filme sobre a Elza, uma mulher extremamente política, se você também não foi político nas suas escolhas. Não podemos ficar só na retórica, temos que partir para a ação", valoriza.

História de superação

Nascida em Franca, no interior de São Paulo, Joana D'Arc Félix tem uma história de superação digna de cinema. Ela teve uma infância pobre, mas conseguiu se tornar PhD em Química na prestigiada universidade de Harvard, nos Estados Unidos.

A cientista brasileira soma nada menos do que 56 prêmios em sua carreira, com destaque para o título de Pesquisadora do Ano no Kurt Politizer de Tecnologia de 2014, concedido pela Abquim (Associação Brasileira da Indústria Química).

A pesquisa dela diz respeito à utilização da pele suína em transplantes em seres humanos. O tema surgiu quando um trabalhador da sua cidade natal sofreu graves lesões ao derrubar acidentalmente um galão de ácido sulfúrico sobre o corpo. A vítima era parente de um aluno de Joana.

Joana batalhou para conquistar os títulos. Filha de uma empregada doméstica, veio de uma família com poucos recursos, mas conquistou vagas para estudar na Unicamp, USP e Unesp. Aprovada em todas, optou pela Universidade de Campinas, onde também fez seu doutorado.

A pesquisadora rompeu fronteiras após o convite para o pós-doutorado em Harvard, nos Estados Unidos. A instituição é uma das mais respeitadas no mundo.

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