CONTINUAÇÃO DO CLÁSSICO
REPRODUÇÃO/GLOBO FILMES
Selton Mello e Matheus Nachtergaele como Chicó e João Grilo em O Auto da Compadecida 2
O Auto da Compadecida 2 chega aos cinemas em pleno Natal, 25 anos depois do lançamento da versão original da história, baseada na obra de Ariano Suassuna (1927-2014). Segundo o diretor do longa, Guel Arraes, a ideia de fazer uma continuação começou em 2019. Em meio aos anos de governo Bolsonaro (2018-2022), o diretor achou que o Brasil estava "esculhambado" e considerou que O Auto era uma boa expressão de brasilidade, uma maneira de fazer o público voltar a gostar do país.
Em entrevista para divulgar o filme, Guel confessou que teve medo de fazer a continuação de O Auto da Compadecida, um filme que já é um clássico do cinema nacional e que conquistou milhões de telespectadores.
"A ideia de fazer o 2 não foi propriamente minha, eu nem teria coragem de ter essa ideia. Ela veio dos produtores. O difícil, a etapa seguinte, é como fazer o segundo filme. Nesse momento, eu dei uma travada. Sempre tenho um pouco de medo de refazer um trabalho, e refazer esse é de apavorar", admitiu.
Arraes ponderou, no entanto, que havia uma demanda pela continuação. Ele pontuou também que O Auto da Compadecida poderia impactar o povo brasileiro no momento que o país atravessava e atravessa.
"O ponto que nos levou a decidir fazer é que a gente estava num momento --estamos num momento-- de um Brasil muito fragilizado, muito esculhambado. Um país que nós mesmos estávamos perplexos, [pensando:] 'Que país é esse?'. Sempre que a gente se sente tão perdido assim, acho que a cultura nos sustenta, nos dá chão", explicou.
Esses personagens falam com o Brasil inteiro. É como uma afirmação do país, e a cultura é um desses pontos. A gente tem, na obra do Ariano, na recriação desses personagens, um instrumento muito bom para falar disso de maneira leve, bacana. A gente precisa voltar a gostar do Brasil para voltar a entender o Brasil. A gente não está entendendo direito, eu acho. Mas voltar a gostar é mais fácil.
Matheus Nachtergaele, que interpreta João Grilo, concordou com o diretor e acrescentou que os personagens que ele e Selton Mello ganharam foram dádivas em suas vidas, pelas quais são reconhecidos até hoje.
"Esse é um grande presente que Selton e eu recebemos há 25 anos. A gente não sabia que era palhaço. Guel e Ariano nos deram os maiores personagens cômicos da dramaturgia brasileira. Todo sorriso que a gente recebe na rua, Selton e eu, é um pouco pra João Grilo e Chicó. Todas as vezes que alguém fala comigo mais calmamente, pergunta: 'Cadê teu amigo?'. Meu amigo é o Chicó", contou ele.
"Quando aconteceu esse pequeno milagre de a gente poder vestir de novo esses heróis brasileiros, eu me enchi de medo, porque era uma responsabilidade. Eu tinha que continuar o trabalho e dar a ele uma sequência bonita; era preciso respeitar esse personagem que já é de todo mundo. João Grilo e Chicó são míticos", complementou Nachtergaele.
Segundo ele, a presença do parceiro de cena e amigo Selton Mello foi fundamental para reestabelecer a conexão entre João Grilo e Chicó e entre os próprios atores com seus papéis.
"Foi muito emocionante, me apoiei no Selton imediatamente pra me reconhecer como João Grilo pelos olhos dele. Refletido pelos olhos dele, eu tive a certeza de que era possível brincar de novo de ser palhaço e, principalmente, de que era possível gostar de novo desse país e das suas histórias. O Auto virou um degrau da brasilidade, influenciou muito a gente a gostar do Brasil e a amar a cultura brasileira. Agora a gente tem a chance de dar mais um passo, que tem a ver com celebração e amor", declarou o ator.
O Auto da Compadecida 2 se passa cerca de 20 anos depois da história original e retrata o retorno de João Grilo à cidade de Taperoá. Ele e Chicó se metem em confusões, novas aventuras e um novo reencontro com o sagrado. O filme estreia em 25 de dezembro nos cinemas.
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