SEM EMOÇÃO
FOTOS: DIVULGAÇÃO/PRIME VIDEO
Carla Diaz é Suzane von Richthofen nos filmes A Menina Que Matou Os Pais, lançados no Prime Video
Uma jovem paulistana de classe média alta, com 18 anos, se junta ao namorado e ao cunhado para assassinar os pais com golpes de barras de ferro e asfixia por sacos plásticos. Motivo: dinheiro. O julgamento, cercado de contradições e reviravoltas, dura mais de 65 horas e entra para a história da Justiça brasileira. O enredo até parece atraente. No entanto, nos filmes A Menina Que Matou os Pais e O Menino Que Matou Meus Pais, a história é desperdiçada em uma trama com pouco crime e muita ladainha.
Protagonizados por Carla Diaz (como Suzane von Richthofen) e Leonardo Bittencourt (como Daniel Cravinhos), os dois longas baseados em acontecimentos reais ficaram disponíveis com exclusividade no catálogo do Prime Video nesta sexta-feira (24). Cada um deles tem pouco mais de uma hora e 20 minutos de duração.
A proposta é mostrar como o casal de assassinos se conheceu e quais as alegações ou motivações para os dois cometerem o crime brutal contra o engenheiro Manfred Albert von Richthofen e a psiquiatra Marísia von Richthofen.
A Menina Que Matou os Pais é inspirado no depoimento de Daniel à Justiça, enquanto O Menino Que Matou Meus Pais se baseia no de Suzane. Não existe uma ordem certa para assistir aos filmes, apesar de a equipe recomendar começar pelo que apresenta a versão da herdeira.
A ideia ousada dos realizadores até que é boa, mas a execução falha. Ambos têm um início igual, com Suzane (Carla Diaz), Daniel (Leonardo Bittencourt) e Andreas von Richthofen (Kauan Ceglio), irmão adolescente de Suzane, recebendo policiais na noite do assassinato, em 31 de outubro de 2002.
No relato inicial à polícia, eles disseram que a residência havia sido invadida por ladrões. Após os policiais descobrirem os corpos, a história começa a ser contada. As versões são as mesmas sobre como eles se conheceram e um se interessou pelo outro, o que muda é o desenrolar da relação.
Em A Menina Que Matou os Pais, Daniel se descreve como um jovem tranquilo, trabalhador e com uma família equilibrada. Na versão dele, Suzane começou a se transformar com o uso de drogas e uma vontade frequente de dar um fim no pai e na mãe, que eram controladores ao extremo e não aceitavam o relacionamento.
De acordo com Cravinhos, ela ainda teria dito que apanhava e sofria abusos sexuais de Manfred von Richthofen. Suzane, porém, sempre negou essa versão. Apesar de os filmes não mostrarem, o adolescente Andreas também falou em seus depoimentos que os pais tinham um comportamento exemplar. O crime, segundo Daniel, foi planejado pela ex.
Carla Diaz e Leonardo Bittencourt no filme
Já em O Menino Que Matou Meus Pais, a personagem interpretada por Carla Diaz diz que teve o comportamento alterado pelo relacionamento abusivo que mantinha com Daniel Cravinhos e que começou a mentir para a família por causa do namorado. Perdeu a virgindade, passou a usar drogas e praticamente abandonou os estudos para viver um romance que não era aprovado em casa. Os assassinatos teriam acontecido por ideia de Cravinhos.
O problema é que as duas tramas são apáticas, sem graça e não prendem o espectador. A cena do crime dura aproximadamente 10 minutos. O julgamento é mal explorado, não tem as nuances de drama e reviravolta que aconteceram na realidade. Além disso, a construção da história em dois filmes se mostra desnecessária.
No julgamento real, por exemplo, o promotor Nadir de Campos Júnior fez Daniel Cravinhos ficar aos prantos. "É nojento matar alguém e dizer no motel que quer a suíte presidencial. O senhor passou mal na reconstituição porque tinha uma arma e poderia ter atirado no Manfred, mas você bateu, bateu", gritou o promotor.
"O aeromodelista chorou compulsivamente e precisou ser retirado do plenário, amparado pelo irmão Cristian", relatou o site G1, em texto publicado em 2006, ano do julgamento. A cena seria um grande acontecimento para qualquer filme, mas os dois longas não mostram o momento, pois preferem seguir pelo relato apartidário (e apático) do caso.
Na maior parte dos dois longas, a sensação é que se está vendo algum capítulo de Malhação, um episódio com os dilemas de Confissões de um Adolescente (1994) ou, no máximo, uma dramatização do extinto programa Você Decide (1992-2000). Pode parecer tudo, menos um retrato cinematográfico sobre um crime brutal que foi acompanhado pelo Brasil durante os anos 2000.
É como se tivessem escolhido as partes mais sem graça das vidas de Suzane von Richthofen e de Daniel Cravinhos para transformar em filme. E, em alguns momentos do início e do final da produção, colocaram na tela os elementos que fizeram os dois ficarem conhecidos nacionalmente: o crime. No final, a sensação é que o trailer ficou muito muito mais legal do que o filme.
Por conta da história fraca, a avaliação sobre o elenco acaba um pouco prejudicada. Mas os atores têm um desempenho positivo na atração. Além de Carla Diaz, mais paulistana do que nunca, e Leonardo Bittencourt, os filmes contam com Allan Souza Lima, Kauan Ceglio, Leonardo Medeiros, Vera Zimmermann, Augusto Madeira, Debora Duboc, Marcelo Várzea, Fernanda Viacava, Gabi Lopes e Taiguara Nazareth.
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