FILME INDIGESTO
Fotos: Reprodução/TV Globo e Divulgação/Universal Pictures
Agatha Moreira em A Dona do Pedaço e Francesca Hayward em Cats: diversão indigesta
Um dos musicais mais famosos da Broadway, Cats chegou ao cinema com muita expectativa. O que deveria ser um espetáculo, porém, virou piada. Roteiro fraco, efeitos especiais ruins e atores de respeito em momentos constrangedores transformaram o que deveria ser um longa cotado para o Oscar em favorito ao Framboesa de Ouro, que "premia" os piores. Para os noveleiros, o filme é como A Dona do Pedaço no cinema.
Mesmo em sua versão para os palcos, Cats já sofria de um problema claro: faltava um fio condutor para a narrativa. A história é sobre um grupo de gatos que se reúne uma vez por ano para que um deles seja escolhido para ganhar uma nova vida. Cada um deles mostra uma canção sobre sua vida e apresenta seus motivos para vencer a disputa. Não há uma grande trama, apenas uma sucessão de números musicais.
No longa, o roteirista Lee Hall e o diretor Tom Hooper até se esforçam para tentar amarrar as músicas com um fiapo de trama, mas é tudo tão mambembe que não funciona. Algo bem parecido com a novela de Walcyr Carrasco, em que a protagonista Maria da Paz (Juliana Paes) ia apenas se arrastando de problema em problema na tentativa de reconstruir sua vida e recuperar a fábrica de bolos.
Para quem gosta de música, Cats é um prato cheio. As canções escritas por Andrew Lloyd Webber estão entre as mais repercutidas pelos fãs de teatro --a mais famosa, Memory, superou até mesmo os limites do palco e foi para as rádios, algo raro no meio.
A Dona do Pedaço também tinha uma trilha sonora repleta de clássicos, como Evidências, da dupla Chitãozinho & Xororó, e Cheia de Manias, do Raça Negra. Não há sucesso no mundo, porém, que disfarce um roteiro fraco e cheio de furos.
Outro ponto controverso de Cats são os efeitos especiais. Como a trama é sobre gatos, os atores foram transformados em animais por meio de computação. Só que há momentos bizarros, em que partes humanas como mãos (com direito a aliança) estão à vista porque a equipe não conseguiu finalizar seu trabalho a tempo.
Ian McKellen como o gato Gus e Marco Nanini na pele de Eusébio: os únicos a se divertirem
Sequências malfeitas, como aquelas em que o rosto humano da gata vivida por Jennifer Hudson não fica encaixada por completo no corpo felino e seu nariz e boca parecem flutuar, remetem à infame morte do garoto de programa Lucas (Kainan Ferraz), empurrado por Josiane (Agatha Moreira) de um prédio, em uma queda que causou humor involuntário no público de tão ruim. É rir para não chorar.
De maneira geral, aliás, é melhor encarar Cats como uma grande piada para não ir às lágrimas durante a sessão. Uma pena que um elenco tão talentoso, como Taylor Swift, Idris Elba, Rebel Wilson e Ray Winstone, tenha se enfiado em um barco tão furado. Nem mesmo o talento de Judi Dench, vencedora do Oscar, consegue salvar um material de qualidade duvidosa. O mesmo pode ser dito de nomes como Juliana Paes, Paolla Oliveira, Rosi Campos, Betty Faria e Nathalia Timberg.
Mas, como sempre há uma luz no fim do túnel, Cats ganha pontos quando Ian McKellen aparece em cena como o gato Gus. O veterano parece ser o único do elenco a ter percebido que estava em uma grande furada e, como já tinha assinado o contrato, decidiu lavar as mãos. Ele mia em cena, lambe leite em um pratinho e simplesmente parece estar se divertindo o tempo todo, sem se levar a sério.
A mesma sensação passada por Marco Nanini, desperdiçado por Walcyr Carrasco em um núcleo cômico (de humor duvidoso) como Eusébio, um personagem que, entre outros conflitos surreais, precisava lidar com uma mão que tinha vontade própria. Se não deu para entreter o público, pelo menos ele tentou divertir a si mesmo. Melhor dar risada de tudo isso do que tentar uma atuação intensa.
A principal diferença de Cats e A Dona do Pedaço dá uma vantagem para o produto brasileiro: a novela foi um sucesso de público, com média final de 36 pontos na Grande São Paulo. Já o longa é considerado um fracasso total: até o momento, arrecadou US$ 54 milhões (R$ 218 milhões) no mundo todo, o que deve resultar em um prejuízo de cerca de US$ 100 milhões (R$ 405 milhões) para a Universal.
Veja o trailer de Cats, já em cartaz nos cinemas brasileiros:
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