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RELATOS DO MUNDO

Com Central do Brasil da Netflix, Tom Hanks busca um lugar no Oscar 2021

Divulgação/Netflix

Tom Hanks e Helena Zengel em Relatos do Mundo

Tom Hanks e Helena Zengel em Relatos do Mundo; longa estreia na Netflix nesta quarta-feira (10)

ANDRÉ ZULIANI

andre@noticiasdatv.com

Publicado em 10/2/2021 - 6h45

Vencedor de dois Oscars, Tom Hanks faz a sua estreia na Netflix com Relatos do Mundo, longa que estreia no catálogo da plataforma nesta quarta-feira (10). Em busca de sua terceira estatueta, o astro é protagonista de uma produção que apresenta semelhanças com Central do Brasil (1998), longa nacional estrelado por Fernanda Montenegro e que foi indicado em duas categorias no prêmio máximo do cinema.

Por se tratar de um filme situado nos Estados Unidos de 1870, a comparação parece absurda. As premissas, no entanto, são parecidas --e ambas contam com dois dos grandes astros de seus países encabeçando o elenco.

Em Relatos do Mundo, baseado no livro homônimo de Paulette Jiles, Hanks vive Jefferson Kyle Kidd, ex-capitão do exército dos Confederados que lutou na guerra civil norte-americana (1861-1864). Após o conflito, ele deixou a vida de militar e passou a ganhar dinheiro viajando de cidade em cidade e lendo as principais notícias do país para cidadãos sem tempo para se informar.

Em uma de suas viagens, o capitão encontra a jovem Johanna (Helena Zengel), uma garota alemã de 10 anos que andava perdida após sua família ser brutalmente assassinada. Sem o amparo social das autoridades, Jefferson assume a responsabilidade de levar a jovem ao encontro de seus parentes que restaram.

Como o ponto de partida do longa é a jornada de Jefferson e Johanna, a comparação com Central do Brasil é inevitável. No filme brasileiro, Fernanda interpretou Dora, uma professora que ganha a vida escrevendo cartas para pessoas analfabetas. Certo dia, uma de suas clientes é atropelada e morre, deixando o filho, Josué (Vinícius de Oliveira), sozinho. Ciente da situação, Dora decide ajudar o garoto a encontrar seu pai.

Em ambos os filmes, grande parte da narrativa é sobre a jornada das duplas rumo ao destino. Enquanto Jefferson e Johanna viajam pelas estradas áridas do deserto do Texas, Dora e Josué atravessam o interior do Nordeste brasileiro, igualmente pobre --apesar de mais de um século separar as realidade dos personagens.

Ex-combatente na sangrenta guerra, Jefferson é um homem cheio de traumas. Ele deixou sua cidade e a lembrança de sua mulher para viver uma vida de nômade, em busca de uma paz espiritual que parece fadado a não encontrar. Johanna, apesar da descendência alemã, viveu desde os seis anos com indígenas da tribo Kiowa e não consegue se comunicar com o capitão.

Apesar das dificuldades, a experiência lado a lado durante os 640 quilômetros que os separam de seu destino final cria (para a surpresa de poucos) um laço maior do que qualquer um dos dois esperava. Duplamente órfã, Johanna é uma criança selvagem sem qualquer vestígio de consciência social. Mas é com o afeto de Jefferson que ela aprende a se reconectar com o mundo --fazendo assim o mesmo por ele.

Em comparação com outras produções do gênero, o filme do diretor do Paul Greengrass (franquia Jason Bourne) deixa de lado os mitos do herói americano e foca em um discurso mais atual. Sem a pretensão de ser um protagonista nos moldes de Clint Eastwood, Tom Hanks evita parecer o caubói machão de outros tempos, mesmo que demonstre a valentia necessária para sobreviver em tempos difícieis.

O discurso de Relatos do Mundo é mais político do que fantasioso. Mesmo que apareçam alguns conflitos, deixa-se de lado a luta do bem contra o mal e ganham força as políticas sociais. Em uma época em que os Estados Unidos encontravam-se divididos, ouvir palavras de conforto e de incentivo do capitão é, de certa foma, necessário --principalmente ao sair de um ano como 2020.

Grande parceira de Hanks nessa jornada, Helena Zengel aparenta ser uma força da natureza. Apesar da pouca idade (12 anos), a atriz mirim iguala sua atuação à do astro. Não por acaso, recebeu indicações ao Globo de Ouro, SAG Awards e Critics Choice Awards --tornando-se uma das favoritas a aparecer na relação do Oscar deste ano.

Pode ser que Tom Hanks não receba sua sétima indicação ao maior prêmio do cinema por Relatos do Mundo, mas essa possibilidade não diminui o tamanho de seu trabalho em sua estreia na Netflix.

Ciente do potencial do longa, o serviço mostrou estratégia ao comprar os direitos de distribuição internacional da Universal, aproveitando-se da falta de segurança para o lançamento de filmes ao redor do mundo durante a pandemia. Resta aguardar se os votantes do Oscar compartilharão da mesma visão da gigante do streaming.

Confira abaixo o trailer legendado de Relatos do Mundo:


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