O que houve com a Choquei? Ministro se pronuncia após morte por fake news

[Alerta de gatilho: este texto contém informações que podem ser sensíveis a pessoas com depressão ou tendências suicidas]

À frente do Ministério dos Direitos Humanos, Sílvio Almeida voltou a defender a regulação das redes sociais após a morte de uma jovem que foi alvo de fake news. O ministro chamou as páginas responsáveis por disseminar o conteúdo de "irresponsáveis". "É inadmissível o conteúdo mentiroso", declarou.

O advogado e professor universitário, escolhido por Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para ocupar a pasta extinta no governo Bolsonaro, se manifestou por meio do X [Antigo Twitter].

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"Tragédias como esta envolvem questões de saúde mental, sem dúvida, mas também, e talvez em maior proporção, questões de natureza política", escreveu.

"A irresponsabilidade das empresas que regem as redes sociais diante de conteúdos que outros irresponsáveis e mesmo criminosos (alguns envolvidos na política institucional) nela propagam tem destruído famílias e impossibilitado uma vida social minimamente saudável", acrescentou.

Almeida voltou a defender a regulamentação das redes sociais como um "imperativo civilizatório":

Sem o qual não há falar-se em democracia ou mesmo em dignidade. O resto é aposta no caos, na morte e na monetização do sofrimento

Entenda o caso

Raphael Sousa, criador da página de fofocas Choquei, trancou o seu perfil pessoal no Instagram neste sábado (23) depois de receber uma avalanche de críticas de internautas. O Choquei é acusado de ter contribuído para a morte de uma jovem de 22 anos que teve seu nome envolvido em uma fake news.

A mulher lutava contra a depressão e não suportou a pressão após ter conversas falsas de um suposto flerte com Whindersson Nunes divulgadas na página de fofocas e em outro perfil, o Garoto do Blog. Tanto o artista quanto a jovem negaram a veracidade das conversas, mas as publicações foram mantidas.

"Resumindo, a moça disse que estão usando a imagem do perfil dela, mas ela não faz parte disso. Eu tenho prints de pessoas mandando pra páginas de fofoca como induzindo a página a postar algo relacionado à menina e, como ninguém averigua nada, postaram", escreveu Whindersson na ocasião.

"Duas páginas me mandaram dois perfis que estavam mandando essa conversa fake. Vou botar alguém na cadeia como exemplo pra vocês entenderem que, se você existe, você pode ser encontrado", prometeu o ator.

Pressionada por haters, a garota também fez um desabafo nos Stories de seu Instagram. Afirmou que aquilo era uma "brincadeira muito sem graça", com o intuito de ridicularizá-la. "Qual é a graça que existe em infernizar a vida de alguém dessa maneira?", escreveu.

Ao responsável pela fake news, ela ainda mandou perguntas diretas. "O que ou quanto você está ganhando? Até quando você vai ficar fazendo esse tipo de 'brincadeira'? Até quando você vai fazer com que eu seja ridicularizada, xingada, ameaçada e continue perdendo pessoas que eu amo?".

Ela admitiu que já tinha tentado tirar a própria vida e que chegou a ser internada. "Sabe por que estou dizendo isso? Pra vocês imaginarem como deve estar a minha mente tendo que ler todos esses absurdos, todas essas ameaças. Eu já sofro de fobia social, imagina o que eu vou fazer agora?", escreveu.

Raphael Sousa é acusado por internautas de debochar do desabafo da jovem. Depois de ela publicar os Stories, ele teria comentado: "Avisa para ela que a redação do Enem já passou. Pelo amor de Deus". Depois, o Choquei chegou a noticiar que a garota "infelizmente" tirou a própria vida.

Whindersson lamentou a morte da garota, que nem chegou a conhecer. "Estou extremamente triste. Voltei ao dia em que perdi meu filho. Que ninguém passe pela dor de enterrar um filho", disse ele, em nota à imprensa.  

"A Nonstop Produções S.A. e Whindersson Nunes lamentam profundamente o ocorrido e prestam solidariedade à família da jovem, bem como repudiam, veementemente, o linchamento virtual e o uso nocivo das redes sociais", encerra o comunicado, que classifica a situação de "massacre público" e afirma que a fake news tomou "dimensão catastrófica".

Raphael Sousa se manifestou sobre a situação por meio de uma nota assinada pela advogada Adélia Soares, famosa por cuidar de casos de pessoas públicas. Confira na íntegra:

"Lamentamos profundamente o ocorrido e nos solidarizamos com os familiares e todos os afetados pelo triste acontecimento. Reforçamos nosso compromisso em agir com diligência e responsabilidade. O perfil Choquei (@choquei), por meio de sua assessoria jurídica, vem esclarecer a seus seguidores e amigos que não ocorreu qualquer irregularidade na divulgação das informações prestadas por esse perfil.

Cumpre esclarecer que não responsabilidade a ser imputada pelos atos praticados, haja vista a atuação mediante boa-fé e cumprimento regular das atividades propostas.

Em relação aos eventos que circulam nas redes sociais e que foram associados a um trágico evento envolvendo a jovem Jessica Vitória Canedo, queremos ressaltar que todas as publicações foram feitas com base em dados disponíveis no momento e em estrito cumprimento das atividades habituais decorrentes do exercício de direito à informação.

O compromisso deste perfil sempre foi e será com a legalidade, responsabilidade e ética na divulgação de informações dentro dos limites estabelecidos na Constituição Federal, em especial ao art. 5º, inciso IX. Por fim, reafirmamos nosso respeito pela intimidade, privacidade, bem-estar e pela integridade."

Se você está atravessando um momento difícil e precisa de ajuda, ligue para o CVV (Centro de Valorização a Vida), no número 188, e receba apoio emocional e prevenção do suicídio. A ligação é sigilosa e gratuita para todo o território nacional.