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UM BEIJO DO GORDO

Série da Globo mostra guerra suja que ela fez para apavorar Jô Soares no SBT

Reprodução/Globoplay

Renato Corte Real e Jô Soares no programa Faça Humor, Não Faça Guerra (1970)

Renato Corte Real e Jô Soares no programa Faça Humor, Não Faça Guerra, citado em doc do Globoplay

DANIEL CASTRO

dcastro@noticiasdatv.com

Publicado em 28/7/2024 - 8h10

Um Beijo do Gordo, série documental que estreia neste domingo (28) no Globoplay, chama a atenção por rememorar uma das brigas mais ruidosas da história da televisão brasileira: a campanha sórdida que a Globo promoveu no fim dos anos 1980 contra Jô Soares (1938-2022), que ousou trocar a então hegemônica rede de Roberto Marinho (1904-2003) pela vice-campeã de audiência, o SBT.

Em 1987, Jô estava no auge da carreira. Na Globo havia 17 anos, era um dos grandes astros da emissora. Seu Viva o Gordo (1981-1987) dava 50 pontos no Ibope com um humor que muitos consideravam sofisticado, crítico da política e da sociedade da época. Também lacrava com o popular super-herói Capitão Gay, o "defensor das minorias".

Mas Jô queria provar que também era um bom entrevistador. Como a Globo não bancou seu projeto de apresentar um talk show, assinou um contrato milionário com o SBT, se tornando o artista mais bem pago da época. José Bonifácio Sobrinho, o Boni, então todo-poderoso da Globo, se sentiu ultrajado e iniciou um verdadeiro embargo ao artista.

"Aqui nessa telinha você não aparece mais. Estou vendo com os advogados para você nunca mais usar a palavra 'gordo'", teria dito Boni a Jô. "Eu falei: 'Boni, peraí, aí realmente a paixão ficou desenfreada. Olha pra mim: eu não vou poder usar a palavra gordo?'" respondeu Jô, em gravação recuperada pelo documentário.

A diretora de arte Flávia Pedras Soares, com quem Jô Soares foi casado durante 11 anos, recorda que Boni foi ainda mais cruel: proibiu a exibição na Globo de qualquer publicidade com Jô Soares: "Isso era uma sacanagem. Ele fazia muitos comerciais".

Boni, que deixou o comando das operações da Globo em 1997 (abrindo caminho para o retorno de Jô, três anos depois), comparece a Um Beijo do Gordo para dizer, nesses termos, que o humorista era como uma mulher que o traiu e que, por isso, ele queria matá-lo; era guerra mesmo.

"O Jô queria um programa daqueles em que ele faz entrevistas, um talk show, às 8 e meia da noite. Eu disse: 'Se eu garantir pra você que você vai entrar às 8 e meia da noite, você passou a ser dono da TV Globo'", se defende Boni.

Infelizmente, na versão final do primeiro episódio, a Globo teve que deixar de fora um trecho icônico do Troféu Imprensa de 1988, no qual Jô Soares dava uma dura resposta a Boni e à Globo. No programa de Silvio Santos, o showman afirmou que a emissora concorrente escolheu justamente o momento em que o Brasil escrevia sua nova Constituição para "inaugurar sua lista negra".

"Finalmente, eu gostaria de dizer que Silvio Santos foi tremendamente injusto quando chamou Boni numa entrevista de 'office boy de luxo'. Nenhum office boy consegue guardar tanto rancor no coração", sapecou Jô Soares.

Essa fala fazia parte do penúltimo corte do documentário, ao qual o Notícias da TV teve acesso. O SBT, que havia cedido o material à Globo, posteriormente pediu exclusividade, porque também prepara um documentário sobre Jô Soares para seu serviço de streaming, e a Globo teve que descartá-lo. Sem ele, Um Beijo do Gordo amenizou o tom, e a Globo perdeu a oportunidade de fazer um mea culpa.

Série é grande homenagem

Dirigida por Renato Terra e Antonia Prado, a série documental é uma grande homenagem a um dos artistas mais talentosos da história da TV brasileira, às vésperas do segundo aniversário de sua morte, em 5 de agosto. "Foram 60 anos de vida profissional, 28 anos de entrevistas, 14.426 conversas, cerca de 1.300 dias de programas de humor, 300 personagens e nove livros", resume logo nos primeiros minutos a atriz Fernanda Montenegro.

Jô não foi apenas "o maior humorista do Brasil", nas palavras de Bruno Mazzeo, filho de Chico Anysio (1931-2012), outro gigante da televisão, mas também o responsável pela sobrevivência do formato talk show no país, como bem observa Fábio Porchat. 

Para Fernanda Torres, também entrevistada pelo Globoplay, Jô foi o "elo perdido" entre as gerações que vieram depois dele ("Porchat, Gregório, Porta dos Fundos, Tatá", ela lista) e "todo mundo que veio antes", especialmente Silveira Sampaio (1914-1964), que comandou os primeiros talk shows da TV brasileira, nos anos 1950 e 1960, com quem Jô se iniciou na arte da entrevista.

"No começo da carreira dele, achavam que ele era um bom entrevistador, e ele tinha isso em mente. Ele queria ver se ele era um bom entrevistador", conta Flávia Pedras Soares, a última das três mulheres de Jô e o maior trunfo da série documental.

Um Beijo do Gordo também será exibido pelo canal pago GNT, a partir do dia 4, às 22h.


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