RENATA VARANDAS
Reprodução/Record
O presidente Lula concede entrevista à jornalista Renata Varandas, que foi demitida nesta quinta
A Record demitiu nesta quinta-feira (18) a jornalista Renata Varandas, repórter em Brasília desde 2007. Ela quebrou a confiança da emissora ao vazar trechos de entrevista exclusiva que ela mesma fez com o presidente Lula (PT) na manhã de terça (16). Descontextualizada, a "fala" de Lula causou ruído no mercado financeiro e fez o dólar disparar. Renata confessou o vazamento a seus chefes. Em nota, a Record confirmou o desligamento.
Um texto resumindo a entrevista foi divulgado no começo da tarde de terça, antes da Record, pela corretora BGC Liquidez, que creditou as informações à Capital Advice, empresa de comunicação da qual Renata é sócia ao lado de outras duas jornalistas. Fundada em 2020, a Capital Informação Política Ltda., razão social da Capital Advice, vende boletins de "análise política", "apurações on demand", "projeção de cenários" e "mapeamento de riscos políticos", segundo seu site oficial.
O vazamento causou atritos do governo com a Record. Segundo a Folha de S.Paulo, um "colaborador" direto de Lula disse reservadamente que o presidente considerou o episódio um "absurdo". Isso porque o boletim da BGC induzia o leitor a acreditar numa declaração que Lula não fez. Assim começava o texto da corretora:
Em entrevista à Record TV, que será veiculada hoje ao longo dia, o presidente Lula disse que é preciso convencê-lo de que será mesmo preciso cortar entre R$ 15 bi e 20 bi no relatório de 22 de julho. Disse ainda que se precisar modificar a meta, ele não se opõe.
Na entrevista que foi ao ar integralmente no Jornal da Record, na noite de terça, Lula não falou em cortes de "entre R$ 15 bi e 20 bi" (esses dados estavam na pergunta da repórter). Lula voltou a dizer que precisa ser convencido da necessidade de corte de gastos em 2024.
"[Meta fiscal] É apenas uma questão de visão. Você não é obrigado a estabelecer uma meta e cumpri-la se você tiver coisas mais importantes para fazer. Esse país é muito grande. Esse país é muito poderoso, o que é pequeno é a cabeça de alguns especuladores", disse Lula à Record.
O vazamento distorcido da entrevista de Lula repercutiu até no exterior e coincidiu com uma repentina alta do dólar. A moeda norte-americana era cotada a R$ 5,42, por volta das 12h20, e chegou a R$ 5,46 às 13h40. Começou a cair após a Record divulgar um primeiro trecho da entrevista, às 13h48, e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, dizer que as declarações do presidente tinham sido tiradas do contexto.
A Record soltou um contundente comunicado na terça, dizendo-se surpreendida com o vazamento da entrevista:
"A Record esclarece que soube da ligação da repórter Renata Varandas com a Capital Advice somente após a divulgação do release da agência. A emissora deixa claro que condena qualquer vazamento de informações, principalmente com recorte parcial do que é apurado em entrevistas feitas por nossas equipes. Medidas cabíveis serão tomadas."
Renata Varandas foi afastada do trabalho na quarta, quando a emissora decidiu por sua demissão. A rescisão, no entanto, só ocorreu por volta das 11h desta quinta, quando ela compareceu ao departamento de Recursos Humanos da emissora em Brasília.
"A Record informa o desligamento da repórter Renata Varandas, que, a partir desta quinta-feira (18/07/2024), não faz mais parte da equipe de jornalismo da emissora", disse nota assinada pela Record Brasília, divulgada no início da tarde.
Como qualquer profissional, a legislação não impede que jornalistas como Renata tenham um segundo emprego ou um negócio, desde que não haja conflitos de interesse. E vazar informações antes de elas serem publicadas pelo veículo para o qual se trabalha é um claro conflito de interesse. Além disso, é antiético, ainda mais quando esse vazamento beneficia um grupo que ganha dinheiro especulando no mercado financeiro.
Os jornalistas da Record também assinam um contrato em que se declaram exclusivos da emissora. Nesse documento, eles cedem as informações que apuram e os direitos de imagem e de voz. Ao vazar informações para uma empresa financeira, Renata quebrou essa exclusividade, dizem fontes bem situadas na Record. Ela confessou o vazamento a seus chefes na terça-feira.
Renata trabalhava na Record há 17 anos e meio. Nos bastidores da emissora, já era apontado um outro ponto sensível com a jornalista: ela mantém um relacionamento afetivo com o diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues, mas nunca houve indícios de qualquer desvio ético. Ela foi demitida no auge da carreira.
Procuradas, a Capital Advice e Renata Varandas não responderam às tentativas de contato.
© 2024 Notícias da TV | Proibida a reprodução
Mais lidas
Política de comentários
Este espaço visa ampliar o debate sobre o assunto abordado na notícia, democrática e respeitosamente. Não são aceitos comentários anônimos nem que firam leis e princípios éticos e morais ou que promovam atividades ilícitas ou criminosas. Assim, comentários caluniosos, difamatórios, preconceituosos, ofensivos, agressivos, que usam palavras de baixo calão, incitam a violência, exprimam discurso de ódio ou contenham links são sumariamente deletados.