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POR TRÁS DA NOTÍCIA

Novos tempos: Jornalistas da Globo se libertam da 'ditadura da chapinha'

Imagens: Reprodução/TV Globo

A repórter Veruska Donato no Jornal Hoje, em 2018, e no Bom Dia Brasil em 2019: do liso ao livre - Imagens: Reprodução/TV Globo

A repórter Veruska Donato no Jornal Hoje, em 2018, e no Bom Dia Brasil em 2019: do liso ao livre

DANIEL CASTRO e DÉBORA LIMA

dcastro@noticiasdatv.com

Publicado em 26/8/2019 - 5h25

Em 2008, a então apresentadora do SPTV, Carla Vilhena, teve que se livrar de uma franja. Ouviu da direção da Globo que o corte de cabelo, que a deixava mais jovial, não combinava com a seriedade que o jornalismo exigia.

Pouco mais de dez anos depois, isso seria inconcebível. Hoje as jornalistas de vídeo da maior emissora do país festejam o fim da "ditadura da chapinha" e exibem cabelões cacheados e volumosos, com diversidade de penteados.

A "virada" coincide com a ascensão de Maria Júlia Coutinho, que em 2013 passou a ser treinada para ser a primeira negra a apresentar o mapa-tempo da Globo, inicialmente no Bom Dia Brasil e, a partir de 2015, no Jornal Nacional.

Mas foi só no último um ano que o padrão chanel (cabelo liso pela altura dos ombros) caiu totalmente. Em São Paulo, a cabeleireira afro de Maju abriu espaço para os loiros cacheados da repórter Veruska Donato, para as franjas e fios frisados de Michelle Barros e para o empoderado coque black de Mariana Aldano.

Apresentadoras como Monalisa Perrone e repórteres como Laura Cassano adotaram penteados mais volumosos. A transformação ocorreu aos poucos, silenciosamente.

A repórter Mariano Aldano em 2018 e 2019: da chapinha ao coque afro em menos de um ano


Mulheres livres

A Globo nunca admitiu ter imposto padrão de cabelo e de penteado para suas repórteres e apresentadoras de telejornais. "A Globo se espanta com essa afirmação. Não havia regra, escrita ou não escrita, e as mulheres na Globo sempre foram livres para usar os cabelos como desejarem", diz a emissora em nota.

De fato, os manuais antigos da casa falam sobre figurino e acessórios, mas nada sobre cortes, cores e tamanhos de cabelos. "Eram os chefes que falavam para a gente emagrecer, cortar o cabelo, pintar", conta uma profissional, que pede para não ser identificada. "O pior é que a gente achava normal."

No fundo, os chefes e as jornalistas da Globo reproduziam uma "ditadura" maior, a da sociedade. A moda impôs a elas cabelos estilo joãozinho nos anos 1990 e extremamente lisos no começo dos 2000.

Fátima de chapinha em 2002: 'Me sentia de touca'

Em 2002, Fátima Bernardes, então no Jornal Nacional, logo após fazer sucesso cobrindo a seleção pentacampeã do mundo no futebol, contrariou a máxima de que não deveria chamar mais atenção do que a notícia justamente ao se submeter a uma escova progressiva (e agressiva).

Em 2014, ela disse em seu Encontro que sentiu vergonha do resultado. "Eu fui vítima de um alisamento desejado que depois virou altamente indesejado", disse para a atriz Fernanda Torres, que passou pela mesma situação. "Eu me sentia de touca, parecia que não era o meu cabelo, foi em agosto de 2002, é inesquecível para mim", desabafou (assista aqui no Globoplay).

Assim como Fátima, inúmeras jornalistas sofreram com a pressão dos cabelos curtos, lisos e tingidos. Até hoje, são poucas as que assumem os fios brancos. Sandra Annenberg, a principal delas, está trocando um telejornal diário (o Hoje) por um programa semana, o Globo Repórter. Será substituída justamente por Maju Coutinho, a musa dos novos tempos.

Maju em 2013, quando virou moça do tempo, e hoje: cabelos mais naturais, sem escova


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