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CONFLITO DE INTERESSES

Dormindo com inimigo? Chefão que demitiu mais de 120 na CNN é sócio da Band

Divulgação/CNN Brasil

O empresário João Carlos Camargo à frente da logomarca da CNN Brasil

João Camargo, novo presidente do conselho de administração da CNN Brasil, que é sócio da Band

DANIEL CASTRO

dcastro@noticiasdatv.com

Publicado em 12/12/2022 - 7h00

Você convidaria o sócio de seu rival para comandar a sua empresa? O empresário Rubens Menin, dono da CNN Brasil, sim. Contratado para ser o principal executivo do canal de notícias no final de outubro, João Carlos Freitas de Camargo é sócio da Band na Nativa FM. Sua grande obra na CNN Brasil até agora foi demitir mais de 120 profissionais nos primeiros dias deste mês, na primeira ocorrência de demissão em massa da curta história do canal.

A Nativa FM é uma rede com mais de 25 emissoras pelo país. Toca música popular e sertaneja. Na Grande São Paulo, já foi líder de audiência e, nos últimos tempos, tem frequentado o top cinco. Ela faz parte do portfólio de rádios do Grupo Bandeirantes, da família Saad, desde 2004.

Camargo também era sócio da Band na BandNews FM, mas deixou a empresa em 13 de outubro, 15 dias antes de assumir o cargo de presidente do conselho administrativo da CNN Brasil, substituindo Menin, que passou a se dedicar às suas outras empresas, principalmente a construtora MRV e o banco Inter. O canal pago BandNews é concorrente direto da CNN, assim como a GloboNews e a Jovem Pan News.

O representante da família Saad na Nativa FM e na BandNews FM é Paulo Saad Jafet, vice-presidente de canal pagos da Band. Em fevereiro de 2020, menos de um mês antes do lançamento da CNN Brasil, Saad Jafet deu entrevista ao colunista Flavio Ricco, então no UOL, fazendo duras críticas à concorrente, que havia contratado dezenas de profissionais da Band, alguns deles demitidos no último dia 1º.

Saad disse que a CNN Brasil não era um "projeto empresarial", mas um "projeto político", dando a entender que se tratava de uma iniciativa de Rubens Menin para conquistar prestígio nos altos círculos dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário --Menin, inclusive, publicou várias manifestações de apoio a Jair Bolsonaro (PL), mas uma fonte próxima ao presidente afirmou ao Notícias da TV que tal apoio nunca passou da fachada.

Na entrevista, Saad Jafet afirmou também que a conta da CNN Brasil "não fecha" e previu um rombo de R$ 300 milhões nos dois primeiros anos de atividade.

"Acho estranho uma emissora que 'não fecha as contas'. Ela está investindo um dinheiro que o mercado não suporta. Eu sei de quais são as rendas deles, e realmente não paga o salário de nenhum dos grandes nomes que eles contrataram", questionou o empresário a Flavio Ricco.

Ou seja, João Camargo, o novo chefão da CNN Brasil, é sócio de um dos mais ferrenhos críticos do canal de notícias de Rubens Menin.

O novo chairman da CNN Brasil é um empresário do ramo de rádio, não de televisão. Seu pai, o ex-deputado José Camargo (1928-2020), criou um grupo de rádios que inclui a 89FM, Alpha FM e Disney FM, além da Nativa. Ele é dono ainda da Esfera Brasil, uma empresa de eventos voltados ao mercado empresarial, e, por isso, alimenta boas relações com políticos.

Camargo também tem experiência política. Foi secretário de Governo da Prefeitura de São Paulo durante a gestão do conservador Janio Quadros (1917-1992), entre 1986 e 1989. Na presidência de Fernando Collor de Mello (1990-1992), exerceu o cargo de assessor especial de Zélia Cardoso de Mello, ministra da Fazenda idealizadora do confisco das cadernetas de poupança em 1990.

Em entrevista recente ao site Brazil Journal, Rubens Menin afirmou que Camargo será seu sócio na CNN Brasil. Até a semana passada, no entanto, não havia na Junta Comercial de São Paulo registro de distribuição de ações a Camargo.

Procurado pelo Notícias da TV, João Camargo não quis dar entrevista. Por meio de sua assessoria de imprensa, se limitou a declarar que não vê conflito de interesses no fato de ser sócio de uma emissora de rádio do Grupo Bandeirantes e de presidir a CNN Brasil. A Band também não comentou.

Demissão em massa

Camargo é a segunda grande alteração no comando da CNN Brasil. A primeira, em março de 2021, foi a saída de Douglas Tavolaro, ex-vice-presidente de Jornalismo da Record e principal entusiasta do canal de notícias. Tavolaro tentou comprar a parte de Menin na sociedade (65%), mas seu "sócio capitalista" inverteu a situação e acabou comprando as ações do jornalista (35%).

Tavolaro foi substituído pela também jornalista Renata Afonso. Ela deixou a CNN Brasil em novembro, menos de um mês após a chegada de Camargo.

O empresário, no entanto, entrou na CNN Brasil com um status superior ao de seus antecessores. Tavolaro e Renata Afonso eram CEO (presidente). Ele é chairman, ou presidente do conselho de administração, cargo até então ocupado por Menin.

No mercado, avalia-se que a grande missão de Camargo é tornar a CNN Brasil uma emissora rentável --o canal deve fechar 2022 com um rombo de cerca de R$ 100 milhões, conforme informou o colunista de mídia Guilherme Ravache.

Seu primeiro grande "trabalho" foi promover mais de 120 demissões em um único dia, incluindo apresentadores como Monalisa Perrone e Gloria Vanique (ex-Globo), Sidney Rezende (ex-GloboNews) e Boris Casoy (ex-Band).



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