Menu
Pesquisar

Buscar

Facebook
Threads
BlueSky
Instagram
Youtube
TikTok

HORÁRIO INGRATO

De Monalisa a William Waack: Por que os jornalistas fogem da madrugada?

REPRODUÇÃO/TV GLOBO

Monalisa Perrone, ex-apresentadora do Hora 1, e William Waack, que ancorava o Jornal da Globo

Na Globo, Monalisa Perrone e William Waack apresentaram jornais no horário ingrato da madrugada

DANIEL CASTRO e VINICIUS ANDRADE

dcastro@noticiasdatv.com

Publicado em 9/9/2019 - 5h18

Na semana passada, dois jornalistas de TV pediram demissão de ótimos empregos com um motivo em comum: não aguentam mais trabalhar na madrugada. Monalisa Perrone, que trocou o Hora 1 da Globo pela CNN Brasil, exigiu em seu novo contrato uma cláusula determinando que não irá, em hipótese alguma, dar expediente entre meia-noite e 8h. Já Fabio Pannunzio deixou a Band, onde apresentava o Jornal da Noite, porque as jornadas até altas horas da madrugada não são compatíveis com sua necessidade de cuidar da saúde.

Monalisa e Pannunzio não são os primeiros a fugirem da madrugada. No ano passado, William Waack recusou uma proposta da Band porque o convite era para apresentar o Jornal da Noite. Uma decisão coerente para alguém que apresentou o Jornal da Globo durante 12 anos e chegou a reclamar no ar do horário tardio em que o telejornal era exibido.

Christiane Pelajo, que dividiu bancada com Waack, protestava que não tinha "vida social", que não podia ir a jantares e festas. Muito antes deles, no longínquo ano 2000, Lillian Witte Fibe deixou o telejornal (e a Globo) atirando. "Nesse momento estou preocupada com a minha qualidade de vida. Não quero mais dormir durante o dia e viver à noite", disse em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo.

Demitida pela Globo no fim do ano passado, após voltar de licença-médica, a apresentadora Izabella Camargo não têm dúvidas de que os seis anos e meio em que trocou o dia pela noite a levaram a desenvolver a síndrome de burnout, o ponto máximo do estresse profissional, desgaste emocional que danifica aspectos físicos e psíquicos da pessoa, reduzindo a naturalidade e a velocidade com que ela realiza  tarefas. Izabella chegou a ter um apagão no ar.

"Cada pessoa reage de uma maneira aos horários de trabalho. Tem gente que é mais diurna. Tem gente que produz melhor trabalhando mais tarde. Eu sempre gostei de acordar cedo. Entretanto, todos os médicos que entrevistei são categóricos e dizem que independentemente do perfil do trabalhador, inverter o ciclo circadiano, o ritmo do corpo humano que regula a produção de hormônios, é extremamente prejudicial", diz Izabella, uma estudiosa do assunto.

Em suas pesquisas, a jornalista descobriu que inverter o ciclo circadiano "traz prejuízos que podem ser fatais".

REPRODUÇÃO/BAND/GLOBO/ZÉ PAULO CARDEAL

Fabio Pannunzio, Izabella Camargo e Christiane Pelajo: jornalistas que fugiram da madrugada

"Falo isso de acordo com a entrevista que fiz com a doutora Dalva Poyares, do Instituto do Sono, e com Andrea Bacelar, da Associação Brasileira do Sono. Mulheres que trabalham à noite têm chance de desenvolver mais rapidamente 84 doenças do que pessoas que trabalham de dia. E, se não me engano, 20% mais chance de desenvolver câncer", enumera Izabella.

'Meu sono é interrompido a toda hora'

Marcia Bandini, presidente da Anamt (Associação Nacional de Medicina do Trabalho) e professora da Unicamp (Universidade de Campinas), confirma que o trabalho noturno é um fator de risco para diferentes tipos de cânceres. Segundo a médica, a explicação para isso é que a troca do dia pela noite afeta todo o eixo neuroendócrino, o que reduz a imunidade.

Os efeitos do trabalho noturno são os mais variados, como "alteração no ciclo do sono-vigília, com dificuldade para dormir, sono encurtado ou sono não reparador; distúrbios do ciclo neuroendócrino, com aumento da pressão arterial e aumento da glicemia; além de distúrbios alimentares e gastrointestinais", lista Marcia.

Os distúrbios que o trabalho noturno causa no sono são duradouros. Já faz quase 15 anos que o jornalista Sidney Rezende deixou de apresentar o Bom Dia Rio, o que exigia que chegasse à Globo todos os dias entre 3h e 4h, durante quatro anos e meio (2001-2005). "Até hoje acordo de madrugada, meu sono é interrompido a toda hora", conta ao Notícias da TV.

Por causa disso, Rezende recusou em 2014 proposta da Globo para ser o primeiro apresentador do Hora 1. "Os distúrbios interferem na sua performance no ar, você troca palavra, alguém te chama durante a transmissão e você não percebe", relata.

Âncora que vai substituir Monalisa Perrone no Hora 1, Roberto Kovalick vai usar a experiência de quem já foi correspondente da Globo no Japão, país com 12 horas de fuso em relação ao Brasil, para se adaptar à nova rotina de trabalho.

"Estou acostumado a não ter rotina, e essa é uma das coisas que mais gosto na profissão. Mas tomo alguns cuidados, cuido da alimentação, pratico atividade física. Além disso, conto com o apoio fundamental da minha mulher, já que isso envolve uma mudança na rotina da casa", disse em entrevista divulgada pela Globo.


Mais lidas


Comentários

Política de comentários

Este espaço visa ampliar o debate sobre o assunto abordado na notícia, democrática e respeitosamente. Não são aceitos comentários anônimos nem que firam leis e princípios éticos e morais ou que promovam atividades ilícitas ou criminosas. Assim, comentários caluniosos, difamatórios, preconceituosos, ofensivos, agressivos, que usam palavras de baixo calão, incitam a violência, exprimam discurso de ódio ou contenham links são sumariamente deletados.