ASSUNTO DIFÍCIL
Lucas Ramos/AgNews
A apresentadora Xuxa Meneghel na apresentação do novo The Four Brasil à imprensa, na quarta (4)
REDAÇÃO
Publicado em 7/3/2020 - 8h16
A apresentadora da Record Xuxa Meneghel relembrou o abuso sexual que sofreu na infância, dos quatro aos 13 anos, e valorizou a própria coragem por ter falado sobre o ocorrido: "Sou uma das poucas pessoas que conseguiu vomitar, colocar para fora. E isso fez com que eu pudesse me ouvir, quase como um grito de socorro", disse.
Ela afirmou, em entrevista à Folha de S.Paulo, que teria outra reação caso vivesse algo parecido hoje e não se calaria durante anos. "Com a experiência e minha maturidade, com certeza agiria de outra forma. Muitas mulheres não conseguem [denunciar]. E acho que é por causa da educação que a gente recebe, porque o mundo é muito machista, porque o homem pode tudo, e a mulher, não", desabafou.
A eterna rainha dos baixinhos ainda afirmou que fica irritada quando vê pessoas tentando culpar o assédio ou o abuso sexual na vítima. "Quando ouço essas coisas, me sobe o sangue até mais do que a situação do assédio em si. Ninguém merece passar por isso. Não importa a roupa que você esteja usando, não importa o que você tenha feito ou falado. Nada justifica. Talvez seja porque eu passei por isso e não fiz nada. E me perguntei muito o que eu fiz para merecer aquilo", lamentou.
Em uma declaração controversa, Xuxa disse que não vê necessidade na existência do Dia Internacional da Mulher, celebrado neste domingo (8), justamente a data que marca sua volta à TV. "Acho que não [é importante existir a celebração]. Nós mulheres já sabemos que todos os dias são nossos. Também acho errado essa coisa de Dia da Criança, das Mães, dos Pais... Quando a gente gosta de alguém, quer homenagear alguém, não precisa de um dia", alfinetou.
A estrela da Record não soube se posicionar sobre os movimentos #MeToo e #TimesUp, que denunciam o assédio sexual dentro e fora do ambiente de trabalho e derrubou importantes executivos de Hollywood e da indústria televisiva. "Não sei se sou a favor ou contra. Porque eu vejo as pessoas usando uma camiseta tipo 'não à pedofilia'. Quem é sim para a pedofilia? Quando você está expondo sua opinião sobre uma polêmica, tudo bem, mas isso não é polêmico, é um fato", minimizou.
Por fim, Xuxa afirmou que sua principal referência feminina é a mãe, Alda Meneghel (1937-2018), que sofria de mal de Parkinson e morreu há dois anos após uma crise de insuficiência respiratória. "No mundo artístico, a Oprah [Winfrey, apresentadora] e a [cantora] Madonna, para quem eu tiro o chapéu. Ela é uma camaleoa, quando abre a boca para falar alguma coisa, para defender alguém, ela o faz muito bem", elogiou.
Xuxa falou pela primeira vez sobre os abusos que sofreu ao Fantástico, no quadro O que Vi da Vida, em 2012, quando ainda era contratada da Globo. Depois, em uma coluna da revista Vogue do ano passado, voltou ao assunto.
Segundo ela, o primeiro abuso aconteceu na casa da família, enquanto ela e os irmãos tiravam um tradicional cochilo pós o almoço. "Por que fui a escolhida? Não sei, mas me lembro de um cheiro de álcool de alguém, uma barba que machucou meu rosto e algo que foi colocado na minha boca", disse ela.
"Acordei dizendo que alguém tinha feito xixi na minha boca e meus irmãos disseram que eu tinha sonhado. Essa foi minha primeira experiência com abuso sexual", continuou a loira na publicação.
Xuxa seguiu seu relato contando que aos seis anos, durante passeios com primos de segundo grau e amigos próximos da família, sentiu tocarem nela. "Colocavam o dedo, doía, não sabia distinguir o que sentia, por isso não chorava e nem reclamava com ninguém sobre o acontecido".
Em outro trecho do depoimento, a apresentadora da Record lembrou que o mesmo parente foi responsável pelos abusos quando ela tinha entre nove e dez anos. "Por que eu não gritava, não chorava? Não sei!".
Xuxa voltou a ser atacada aos 11 anos, por um professor da escola que se masturbou na sua frente. "Me perguntava: o que seria isso? O ouvi gemer e depois se limpar", relatou.
Já na adolescência, a lembrança de mais abusos. Desta vez, o homem era o namorado de sua avó materna. "Teve uma vez que ele começou a tocar meus futuros peitos, ainda não tinha nada a não ser um mamilo um pouco maior", detalhou.
No final de seu texto, Xuxa conta que um dos melhores amigos de seu pai a tocou durante férias na praia: "Quando eu estava com 13 anos, ele me encurralou na parede da varanda e colocou suas mãos por debaixo da minha camiseta. Eu estava de biquíni. Ele tentou beijar minha boca. Me lembro que chovia e eu saí correndo pela rua até chegar na praia. Chorava muito, peguei um punhado de areia e passava no meu corpo para limpar toda sujeira que estava impregnada há anos".
As sequelas dos episódios, de acordo com a apresentadora, foram muitas, como por exemplo desenvolver uma mania de limpeza. Xuxa revelou que toma de três a quatro banhos por dia, e que tem vontade de estar mais na companhia de crianças, pois elas não fazem mal.
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