A MAIA
REPRODUÇÃO/INSTAGRAM
Marcella Maia, conhecida como A Maia, em publicidade para seu Instagram; atriz da Globo
Marcella Maia, atriz transexual que interpretará a Morte em Quanto Mais Vida Melhor, na Globo, viveu momentos de pânico durante ataque transfóbico sofrido na semana passada. Na quarta-feira (22), a também cantora conhecida como A Maia estava em Caraíva, na Bahia, quando foi agredida por um homem na rua. "Fui abordada por um desconhecido, e esse cara começou a me agredir, puxou meu cabelo, me enforcou e tentava arrancar meu seio, gritando que eu não era de Deus", relembra.
A artista de 30 anos, que está no elenco da próxima trama inédita da faixa das 19h da Globo, relatou a agressão em suas redes sociais, na madrugada de quinta-feira (23). Registrou também sua peregrinação pela Delegacia de Atendimento à Mulher, de Porto Seguro, e o exame de corpo de delito que precisou fazer após denunciar o caso às autoridades.
A Maia conta que o passeio foi a convite de amigos e, por casualidade, encontrou lá um rosto conhecido: Tauá Biral Moreira, um modelo que já a havia hostilizado em outras ocasiões. Para ela, ele teria incitado a violência. No dia do ataque, ela estava em uma confraternização quando foi intimidada por olhares de alguns homens. Desconfortável, decidiu ir embora. Quando estava sozinha na rua, foi agredida.
"Na rua, que é pouco iluminada, fui abordada por um desconhecido. E esse cara começou a me agredir, puxou meu cabelo, me enforcou e tentava arrancar meu seio, gritando que eu não era de Deus. Consegui fugir e parei numa festa próxima, o Forró do Ouriço. Lá, encontrei o Tauá novamente, que disse que eu iria morrer. Fiquei apavorada e voltei ao Rio de Janeiro no mesmo dia", detalha.
"Na hora a gente nem entende muito bem o que está acontecendo, mas fiquei apavorada e fui embora logo em seguida", relembra. Para ela, Moreira teria incitado o ódio dos moradores locais contra sua pessoa --a informação de transfobia consta no boletim de ocorrência registrado por ela.
A artista encontrou na internet uma forma de se sentir acolhida e também de enviar um alerta importante à sociedade. "Infelizmente, a violência faz parte da vida de pessoas trans. E ela acontece de todas as formas possíveis, desde discriminação, marginalização dos corpos e vida trans, até agressões e homicídios. Já passei por situações difíceis desde antes da minha transformação, simplesmente pelas minhas escolhas. Situações que já me marcaram muito emocionalmente", compartilha.
"Essa é uma realidade absurda que vivemos, cheia de opressão e isso precisa acabar. Precisamos de respaldo, assistência, direitos garantidos, punição e a formação de uma sociedade menos misógina e machista e predadora", considera.
A Maia fez o boletim de ocorrência na Deam de Porto Seguro, precisou encarar horas de viagem de Caraíva até o local. "Rolou certo constrangimento, pois de imediato houve uma certa resistência para o boletim de ocorrência ser feito. Então, precisei esperar um bom tempo", lamenta.
Na sexta-feira (24), ela fez o exame de corpo de delito já no Rio de Janeiro. Segundo ela, o momento foi traumático. "Foi difícil. Me senti desrespeitada. No início, disseram que eu não poderia fazer. Depois, foram entendendo minha situação e acabei fazendo o exame. Meu corpo está cheio de marcas. É uma situação que vemos o quanto nosso corpo é desrespeitado, e o quanto tudo isso de alguma maneira nos viola", lamenta.
"Ainda foi atestado no exame, que é uma situação atípica, e não é. Ainda mais no Brasil, em que a violência contra a mulher é recorrente, normalizada e o país lidera o ranking dessas violências. Então, é muito difícil. Chorei lá também", recorda.
O Notícias da TV teve acesso ao B.O. registrado pela cantora. No documento, ela identifica Tauá Biral, narra que ele "começou a botar os amigos dele contra ela" e relata que foi "jurada de morte" pelo rapaz. A assessoria de imprensa da Polícia Civil da Bahia confirma que há informações sobre o suposto autor do crime.
"A Deam/Porto Seguro está apurando a denúncia realizada pela atriz, na tarde de quinta-feira (23). De acordo com o registro, ela teria sido agredida ao sair da casa de amigos, na madrugada de quarta-feira. A vítima identificou o autor e atribuiu a motivação do ataque a transfobia. A unidade expediu as guias para os exames periciais", comunicou em nota.
Manaem Duarte, advogado da atriz, aguarda o resultado do exame de corpo de delito. "No momento que saírem os resultados sobre a extensão dessas lesões e a natureza delas, vamos ter uma posição preliminar e oficial sobre os próximos passos", adianta.
A reportagem tentou contato com Tauá Biral Moreira, mas não obteve retorno até o fechamento deste texto. O modelo fazia parte da agência Way Model Management. Procurada, a empresa informou que o profissional foi afastado após a veiculação das notícias envolvendo seu nome.
"A agência repudia todo e qualquer tipo de discriminação, preconceito e violência, e promove o respeito incondicional. Por isso, o modelo acusado foi prontamente afastado do elenco, para responder à devida apuração", noticiaram.
A Maia retomou sua agenda de gravações na Globo nesta semana nas gravações de Quanto Mais Vida Melhor. "Faço o papel da Morte e sou a antagonista da novela. É uma das personagens centrais da trama e sua aparição é cheia de efeitos especiais e visuais. Um trabalho muito bonito. Estou bastante realizada por isso", finaliza.
Veja publicações de A Maia sobre o caso:
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