MULHER DE FÉ
ENGELS MIRANDA/DIVULGAÇÃO
Rita Batista em ensaio de divulgação; ela fala sobre religião, carreira e maternidade em conversa
Basta digitar "Rita Batista" no Google para que o buscador sugira a palavra "religião", uma das mais relacionadas ao nome da apresentadora. A baiana, que já usou mais de uma vez conchas de búzios como parte de sua vestimenta, é do candomblé. Ela professa essa fé há 21 anos e confessa que as pessoas demonstram curiosidade quando ela diz seguir uma religião de matriz africana.
A jornalista acredita que parte desse interesse vem do fato de, até pouco tempo, pouquíssimas figuras públicas falarem sobre isso. "Infelizmente, a gente vive num momento de intolerância religiosa, de desrespeito a laicidade do Estado, sabe?", diz ela, em conversa com o Notícias da TV. "A livre manifestação de fé é garantida pela Constituição. Não tem o que conversar sobre isso. Não é porque você acredita num Deus que vai desmerecer o outro."
A soteropolitana até gosta de ouvir músicas gospel, relacionadas aos protestantes. Ela, inclusive, assustou uma colega ao colocar uma playlist de músicas nesse sentido. "Ué, você não é do candomblé?", teria questionado a mulher, chocada. Para Rita, esse é um exemplo de como as pessoas só conseguem pensar sobre religião de uma maneira muito extrema.
"Por que tem que ser de um jeito só, se temos tantas determinações de fé? O Brasil é um país fincado na fé. Não pelo calendário católico, e não só pelas religiões de matriz africana, mas porque somos um povo de fé", arremata.
Para além da religião, Rita também tem crença de que coisas positivas virão. E ela levou isso a outro patamar com um conjunto de mantras que criou para si. As frases começaram a interessar quem está ao redor dela, e a apresentadora reuniu todos eles no livro A Vida É um Presente: Mantras para o seu Dia a Dia.
"Cada frase é uma sentença, mesmo, que a gente grava no universo. A palavra não sai e some; a palavra é um registro, e esse registro demanda uma energia. 'Eu sou' é um dos nomes de Deus. E qualquer coisa dita depois do 'eu sou' você carimba. Quando eu digo para as pessoas não se depreciarem, não atribuírem coisas negativas... As pessoas podem falar de você, mas é importante que você não faça um contrato com aquilo que você não quer."
As manifestações e o trabalho duro fizeram Rita se tornar não só apresentadora do É de Casa, da Globo, como também do Saia Justa, programa do GNT que ela divide com Eliana Michaelichen, Tati Machado e Bela Gil. O processo, obviamente, demorou um bom tempo: quase 20 anos separam a Rita do início da carreira para a de hoje em dia.
Formada em Publicidade, Rita Batista já entrou no mundo jornalístico ocupando o cargo de apresentadora, em 2005. Ela comandou programas locais na TV Aratu, afiliada do SBT na Bahia; e na Band Bahia. Em 2012, recebeu o o convite para um programa de alcance nacional ao lado de Adriane Galisteu, Gominho e Lysandro Kapila, ex-roteirista da Globo.
O Muito + abordava o universo das fofocas, ainda inédito para Rita. "Muita gente me perguntou: 'Rita, mas você, jornalista, apresentadora, com seus programas em Salvador... Você vai sair do seu Estado, onde você é respeitada, para fazer programa de fofoca?' Sim, minha gente. Primeiro a gente faz o que tem, para depois fazer o que quer. Olha como eu estou agora!", declara.
reprodução/gNT
Rita Batista usa conchas em penteado
O programa se encerrou dez meses depois. Em 2016, ela entrou no GNT como repórter do próprio Saia Justa. Quatro anos depois, passou a fazer reportagens de âmbito nacional para os programas que compõem a Super Manhã da Globo --Mais Você, Encontro e É de Casa.
"Eu ouvi de muitos colegas: 'Pô, mas a essa altura, você vai ser repórter?' E eu falei: 'Gente, é isso. Vamos para entender essa dinâmica, para ver o que vai acontecer'. Um ano e meio depois, fui convidada para ser apresentadora do É de Casa", conta.
Ela aceitou o convite e, com isso, precisou mudar radicalmente a rotina. Semanalmente, a apresentadora precisa deixar Salvador para ir até os Estúdios Globo, no Rio de Janeiro, onde grava o É de Casa.
"Para mim, não é um fardo, sabe? É a minha rotina de trabalho. Eu vejo tantas histórias, como a de minha mãe, de mulheres professoras que trabalham três turnos, que precisam pegar duas horas de ônibus entre uma escola e outra, e ainda chegam em casa e dão conta de filho, de relacionamento, de trabalho doméstico. E eu tenho alguém para gerir minha casa, uma funcionária que posso demandar as coisas à distância", diz.
Rita até já morou em São Paulo, mas prefere aproveitar a chance de poder voltar para Salvador, seu verdadeiro lar. "Acho que isso reforça ainda mais esse conceito de brasilidade que a Globo apresenta, de mostrar o Brasil com seus sotaques diferentes, consumos diferentes. Temos uma unicidade como brasileiros e brasileiras, mas também temos nossos regionalismos, e isso é muito bom. É a diversidade de que a gente tanto fala hoje..."
Ela carrega o filho, Martim, de seis anos, para algumas das viagens. Mas tem noção de que esse processo não é nada divertido para ele. Ainda mais com o aumento da frequência das viagens devido ao Saia Justa --todas as terças, Rita vai para São Paulo gravar as intervenções digitais, as chamadas comerciais e o próprio programa, que vai ao ar apenas às 22h30 de quarta.
Isso, no entanto, não interfere na relação dela com o pequeno. Eles se falam por chamada de vídeo o tempo inteiro, e Rita se esforça ao máximo para passar tempo com ele quando está em Salvador --leva na escola, põe o almoço, conversa, vê o dever de casa e leva para a aula de futebol.
O negócio é que nós, mulheres, temos essa pressão em cima da gente de dar conta de tudo. E se você tiver um tempo de qualidade com o menino, [a saudade que ele sente] melhora. Os homens, ao longo dos séculos, migraram para guerras, para outros trabalhos, para construir parques industriais, para desbravar outros continentes... E a gente só vai ali do lado trabalhar, sabe?
A jornalista recebe questionamentos até por deixar o filho com o pai dele, Marcel. "Já falei: 'Minha senhora, eu vou deixar com quem? Eu fiz com o dedo?'. Não, é com ele mesmo que eu tenho que deixar. E assim, graças a Deus a gente tem o pai, e ele não segura essa marimba sozinho, porque mais de 11 milhões de mulheres no Brasil sentem o peso de criar o filho sozinhas."
Aliás, Rita sabe bem que as exigências para mulheres são diferentes. Inclusive no fator aparência. "Nós nunca atenderemos às expectativas da sociedade. Os homens às vezes tem 200 cm de barriga, e ainda batem orgulhosamente e dizem: 'Um homem sem barriga é sem história'. As mulheres aplicam enzima, fazem não sei o que LED, correm na academia, botam cinta... A troco de quê?"
Ela, no entanto, vai na contramão disso. "Me perguntam: 'Ah, Rita, por que você não tem nada?'. Porque eu não quero, velho. Eu não pinto o cabelo porque eu não quero. Se me der uma grana, eu vou lá, pinto, acabou, tá tudo certo, mas eu não vou fazer algo em mim só porque estão dizendo que é bom. Sabe o negócio do 'meu corpo, minhas regras'? Não tô vendo nada disso. Estou vendo 'meu corpo, regras de todo mundo'", finaliza.
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