PAULA SALDANHA
DIVULGAÇÃO/TV BRASIL
A ex-apresentadora do Fantástico Paula Saldanha em cerimônia indígena no Alto do Xingu (Mato Grosso)
RUI DANTAS
Publicado em 18/10/2018 - 5h46
Jornalista premiada, autora de 48 livros e documentarista de renome internacional, a ex-apresentadora do Fantástico Paula Saldanha está longe da TV desde 2014. Ela se afastou do veículo para cuidar do marido, Roberto Werneck, que em 2013 descobriu que tinha câncer no pulmão. Ele morreu em julho de 2016, e Paula ainda não marcou data para voltar ao ar.
"O Roberto fumava desesperadamente", conta. "No Xingu [na região Centro-Oeste do Brasil, onde o casal esteve diversas vezes para fazer documentários para TV e cinema], as pessoas lembravam dele por causa do cachimbo, que foi o que infelizmente fez com que desenvolvesse um câncer. Era adorado pelas tribos", diz Paula, de 65 anos, pioneira na revista eletrônica semanal da Globo.
Há cinco anos, o documentarista, que também era biólogo, foi diagnosticado com a doença. Paula seguiu liderando o Expedições, um programa que começou em 1994, na extinta Manchete, e passou por TVE e Cultura. Nessa época, a série de documentários já era exibida na TV Brasil, canal em que permaneceu até 2015 (no último ano, o programa foi liderado pelo filho do casal, Pedro Saldanha Werneck).
"Decidi me afastar de vez de todas as produções para cuidar integralmente do Roberto", diz. "Além de pai dos meus três filhos e avô dos meus três netos, ele era meu companheiro de vida, de trabalho, meu amigo e meu namorado", diz ao Notícias da TV, emocionada, ao lembrar os 45 anos de casamento.
Como a vida dá muitas voltas, o mesmo motivo que fez Paula se afastar da televisão será a razão de seu retorno. Além dos prêmios pelo jornalismo voltado ao meio ambiente, Paula e Werneck foram agraciados com uma cerimônia indígena Kuarup.
Trata-se de um ritual de despedida dos mortos. Uma honraria para poucos, entre eles o sertanista Orlando Villas-Bôas (1914-2002) e o antropólogo e escritor Darcy Ribeiro (1922-1997).
"As pessoas normalmente não têm a dimensão de o que é ser homenageado com uma cerimônia de Kuarup, uma escolha das lideranças indígenas feita como se fosse eleição", afirma. "Resolvemos transformar esse reconhecimento tão especial, que contou com a participação de mais de 800 pessoas, em um documentário."
Segundo Paula, o filme Kuarup, A Alegria do Sol vai retratar a cerimônia para seu marido e um pouco da história dos indígenas. Ela também pretende lançar um livro homônimo em 2019. Ainda não se sabe qual canal de vai exibi-lo, mas para Paula a divulgação será fácil, pois seus programas são veiculados também no exterior, por canais como a TV5 Monde e a rede americana PBS.
A jornalista ainda trabalha em outras frentes. Ela toca a organização não-governamental que leva seu nome e que atuou na recuperação da região serrana do interior do Rio de Janeiro, assolada por deslizamentos em 2011.
"Fizemos um projeto para a localização e proteção de nascentes, despoluição de rios da área, replantio de matas ciliares e formação de jovens locais para agroecologia", explica.
A ONG também cuida da preservação dos mais de 800 documentários, em película e vídeos, que o casal Paula e Werneck produziu durante mais de 40 anos.
A jornalista ficou conhecida nacionalmente ao apresentar e atuar como repórter do Fantástico, entre 1974 e 1992, e por participar das edições de sábado do Jornal Hoje. No entanto, ela mesma admite que é lembrada até hoje por outro trabalho: o Globinho, primeiro telejornal infantil do país, exibido na Globo entre 1977 e 1983.
No Fantástico, inovou ao introduzir as produções independentes da RW Cine, sua produtora, que incluíam reportagens nas fronteiras e mares brasileiros. Já no Globinho, a audiência adorou a sintonia que tinha com o macaco Loyola, que comentava as reportagens e a apresentação.
"Minha opção por deixar a Globo e ser uma produtora independente foi muito consciente. Você rala muito mais, talvez não ganhe o mesmo dinheiro, mas a liberdade de criação que você tem é muito mais gratificante."
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