ARTE NA FAVELA
REPRODUÇÃO/ARQUIVO PESSOAL
Fabiana Escobar, a Bibi Perigosa, será protagonista de filme com cenas de sexo e violência sobre a Rocinha
PAOLA ZANON
Publicado em 24/9/2019 - 13h32
Fabiana Escobar, conhecida como Bibi Perigosa, está protagonizando um filme sobre uma tentativa de invasão na Rocinha em 2017. Pela primeira vez, Bibi gravou uma cena de sexo, totalmente nua, em uma cachoeira. Mas a maior dificuldade da ex-Baronesa do Pó são as cenas de violência de sua personagem, uma mulher sedutora e ambiciosa, chamada de Furacão.
Em entrevista ao Notícias da TV, Fabiana contou que, quando soube sobre a cena de sexo, começou a rir. "Fiquei tranquila, quem contracena comigo, o Vitor Robert, é meu amigo", lembrou. O único receio que ela teve foi gravar em uma cachoeira, em plenas manhã e tarde de sábado: "Toda hora passavam grupos [pelo local] fazendo trilha. Eles paravam para olhar".
Bibi revelou que a sua maior dificuldade no filme são as cenas de violência da personagem. "A arte de sensualizar eu domino! Mas, para agredir e matar, tem que puxar um ódio. Eu acho difícil. Ficar pelada foi fácil", disse, aos risos.
Sobre as semelhanças com a personagem, a Perigosa disse que é só o meio em que as duas vivem --o tráfico. Furacão faz parte de um bando do morro rival que tenta invadir a Rocinha. "Nossas personalidades são diferentes, ela quer poder e não tem nada a perder, faz de tudo", explicou ela, que não perdeu o bom humor: "Sobre transar na cachoeira, não tenho nada contra".
Além da guerra entre os chefes do tráfico, o filme ainda conta histórias cotidianas com as quais Fabiana se identifica. "Tem uma personagem que tenta muito tirar o marido do crime e acaba se envolvendo cada vez mais. E tem toda a história de lutar pela arte dentro da comunidade também", ressaltou ela.
A Bibi Perigosa da vida real ficou conhecida no país todo ao inspirar a personagem de Juliana Paes em A Força do Querer (2017) que também levava esse nome. Na novela de Gloria Perez, Bibi era casada com Rubinho (Emilio Dantas), que virava o líder do tráfico na favela onde parte da trama acontecia. Fabiana Escobar fez uma participação na reta final da história.
"Estou há anos tentando cinema, teatro. Faço parte de tudo que envolve cultura e arte na comunidade para mudar a realidade das crianças", desabafou a atriz e escritora que, mesmo trabalhando, ainda é alvo de ofensas na internet: "É fácil julgar o outro. Mas não me atingem. Se eu errar, vai ser porque quero. Estou desde 2011 andando na linha. Até entendo [quem ofende], só acho perda de tempo".
Fabiana falou sobre suas motivações e projetos futuros. "Eles [as crianças] são eu. Tento pegar essa visibilidade para fazer o bem, eles são invisíveis até aqui dentro." Bibi, que faz parte de um grupo voltado para o meio artístico, tenta fazer disso uma ferramenta social: "Talvez eles olhando, e se reconhecendo, possam sonhar em serem reconhecidos fazendo coisas boas".
Sobre o futuro, a escritora conta que com a produtora Rocywood, que tem apenas funcionários da Rocinha, já existem vários projetos. Além do filme em que Bibi interpreta a Furacão, a Rocywood está gravando um longa de terror, chamado Vale dos Espíritos, do qual ela é roteirista.
As gravações são feitas de madrugada, no meio do mato. "Eu brinco que somos o Esquadrão Suicida. A gente se arrisca e não tem nem dinheiro, às vezes tentamos ajudar com um lanche", revelou.
A trama com as cenas de sexo na cachoeira se chama Rocinha: Toda História Tem Dois Lados. Com um elenco formado praticamente por moradores do morro e sob direção de Rayssa de Castro, é uma produção independente orçada em R$ 100 mil. O lançamento está previsto para o segundo semestre de 2020.
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