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TALITA MAIA

Atriz brasileira revela lado podre de Hollywood em filme: 'Cultura de exclusão'

Reprodução/Instagram

Talita Maia faz carão para foto enquanto leva sua mão a um pilar semelhante a uma coluna grega

A brasileira Talita Maia em ensaio fotográfico em Los Angeles: assumiu carreira nas próprias mãos

LUCIANO GUARALDO

luciano@noticiasdatv.com

Publicado em 21/8/2021 - 6h40

Em busca do desejo de ser atriz, Talita Maia se mudou para Los Angeles no Natal de 2010. Na meca do cinema, porém, descobriu que o "sonho americano" não é tão fácil de ser alcançado. Depois de ouvir muitos "nãos", decidiu arregaçar as mangas e escreveu, dirigiu, protagonizou e financiou o curta Tempest Desert. Na produção autoral, ela escancara o lado podre da Cidade dos Anjos.

Talita interpreta Laura, uma ilustradora que se sente invisível como imigrante em Los Angeles. A brasileira se frustra com a falta de conexão real com as pessoas à sua volta, e acaba tomando atitudes desesperadas. A atriz, é claro, já viveu na pele boa parte das emoções vividas pela personagem.

"Essa questão de ser invisível aconteceu muito, especialmente quando eu cheguei aqui. Hoje é bem melhor, mas Los Angeles é uma cidade oportunista, tem uma cultura de exclusão. Aqui, não importa tanto quem você é nem quais são os seus valores, mas sim quem você conhece e o que pode oferecer aos outros", desabafa ao Notícias da TV.

As pessoas acham que é uma profissão com muito glamour, mas não tem nada disso. É muita ralação, e você gasta muito dinheiro para ser ator. Tem que tirar headshot [foto de rosto para o currículo] toda hora, se você muda uma coisinha no visual precisa atualizar, os cursos custam caro. E eu ainda preciso de uma pessoa para trabalhar meu sotaque toda semana.

A atriz também admite que as pessoas da indústria têm certo preconceito com brasileiros --uma situação que está melhorando, ela ressalta. "O povo era ignorante, perguntava até se eu tinha macaco (risos). Vinham falar comigo em espanhol, como se os latinos fossem todos a mesma coisa. Mas hoje vejo isso bem menos do que quando eu cheguei."

O cartaz do curta Tempest Desert, que tem sido exibido em festivais de cinema (Divulgação)

Tempest Desert nasceu de uma série de infortúnios. Primeiro, Talita se cansou da rejeição. "Dizem que, matematicamente, você faz 800 testes para conseguir um papel. Eu acho que são até mais (risos). Faço umas quatro audições por semana, é muita batalha."

Disposta a ter mais controle sobre a carreira, ela arregaçou as mangas e começou a escrever seus roteiros. "Era uma maneira de não ficar sentada no banco do passageiro e assumir o volante. É uma indústria com muito nepotismo, você precisa ter as amizades certas. Se não tem isso, o jeito é sentar e esperar. Ou então criar algo você mesma."

A ideia de escrever avançou após um acidente de esqui grave, que levou Talita a fazer uma cirurgia na perna. "Percebi que não ia poder atuar, dançar nem correr durante um ano. Decidi fazer algo para não enlouquecer. A ideia do curta surgiu enquanto eu estava deitada na máquina de ressonância magnética", lembra ela.

Frustrada com tudo o que havia visto e vivido, a atriz deu à luz Tempest Desert. "Eu precisava escrever sobre essa cultura oportunista, de exclusão, que para mim é muito errada. Decidi produzir por conta, com a ajuda de um amigo, o Sascha Saballett, o filme saiu baratíssimo, chamei alguns amigos, fiz muitos favores, fui trabalhar numa empresa de pós-produção para aprender como é e depois fazer eu mesma", enumera.

Apesar do susto com o acidente de esqui e de ter precisado de muletas para se locomover durante muito tempo, Talita vê algo de positivo na experiência toda. "Alguma coisa eu precisava tirar de lição, como tudo na vida. Eu descobri que sou muito mais do que pensava ser. Achava que era só atriz, agora sei que posso fazer outras coisas. Existe uma luz no fim do túnel", valoriza.

divulgação

Com Evan Williams (de Awkward) no curta

Ela se empolga ao ver que, aos poucos, a situação tem melhorado em Hollywood. "O brasileiro sempre teve pouca oportunidade. É o único latino que não fala espanhol, e a cultura mexicana é muito forte aqui. Então, quando você pega um teste, precisa ter espanhol fluente. Até uns três anos atrás, a maioria dos meus testes era para viver mexicanas. Agora, por quererem mais diversidade, eu faço bem mais audições do que pegava antes."

A atriz também segue desenvolvendo os próprios projetos para meter o pé na porta da indústria e mostrar que está ali. "Tenho vários roteiros meus, de curtas, de longas... Estou com um em pré-produção que fala sobre codependência, por exemplo. Também escrevi uma série, já tenho o primeiro episódio e todo o planejamento da temporada, consegui uma produtora que vai tentar vendê-la. E acabei de gravar um piloto [capítulo teste de uma atração televisiva], com um papel importante", lista, animada.

E atuar no Brasil, está nos planos da artista? "Eu adoraria. Sinto falta da minha família, queria passar mais tempo com ela, não vi meus sobrinhos crescerem. E poder trabalhar para o meu povo, na minha língua, seria muito legal. Tenho muita vontade de não só representar o Brasil aqui, mas também aí", confessa. "Antes de vir para os Estados Unidos eu até fiz cadastro na Globo [no Banco de Atores da emissora], deve ser antigo, todo desatualizado, mas está lá (risos)."

Confira o trailer de Tempest Desert, dirigido, escrito e estrelado por Talita:

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