CAETANO O'MAIHLAN
Reprodução/YouTube
Atualmente, Caetano O'Maihlan pode ser visto em um comercial de carro com Marina Ruy Barbosa
LUCIANO GUARALDO
Publicado em 17/12/2018 - 5h56
Há uma década, o departamento de dramaturgia da Band chegava ao fim com o último capítulo da novela Água na Boca. Apesar do drama de ver uma equipe inteira ser demitida, o protagonista da trama, Caetano O'Maihlan, lembra que o trabalho foi bastante agradável. Bem melhor do que os perrengues que passou quando fez Eterna Magia (2007) na Globo.
"Eu tinha acabado de fazer o Sítio do Picapau Amarelo [em 2006] e fui convidado para Eterna Magia. Ia ser uma novela linda, sobre a cultura irlandesa [a mãe de Caetano, Maureen, é da Irlanda], meu personagem se chamaria Oscar em homenagem ao [poeta] Oscar Wilde [1854-1900], foi um convite incrível", lembra.
Só que a novela, que marcou a estreia de Elizabeth Jhin como autora solo na Globo depois de nove trabalhos como colaboradora, sofreu rejeição do público no início e precisou ser transformada para deslanchar na audiência.
"Ninguém entendeu muito bem o que aconteceu, mas mudou tudo, da abertura à caracterização dos personagens. Pegou uma novela que ia mostrar a cultura rica da Irlanda, as bruxas, e virou uma novela das seis normal, sem essa riqueza. A Elizabeth acabou se focando mais nos papéis principais, e eu acabei fazendo figuração durante um ano inteiro", diz O'Maihlan ao Notícias da TV.
Em Água na Boca, a estrutura de produção era menor, mais improvisada, mas o elenco e a equipe compensavam isso com dedicação e amor ao trabalho. "Era um clima de companhia de teatro, sabe? Nós não estávamos na maior emissora, não tínhamos o maior ibope, nem o glamour, mas todos sempre celebravam o fato de estarem em cena juntos, era uma grande família mesmo."
Alçado a protagonista de novela depois de fazer "figuração" na Globo, o ator, então com 28 anos, se inspirou no que aprendeu com Eterna Magia para repetir na Band. "Como eu não tinha muitas falas, ficava observando o Thiago Lacerda. Aprendi que ser protagonista não é só ter um monte de cenas, você é o capitão do navio. Precisa deixar todo mundo da tripulação bem, para que possam fazer o seu melhor", explica.
Caetano O'Maihlan diz ainda que, apesar do volume de cenas que tinha na pele do Luca Bellini na novela da Band ser muito maior do que o seu trabalho como o Oscar de Eterna Magia, ele ficava muito mais cansado na Globo.
"Com Água na Boca, eu podia explorar várias facetas do personagem. Ele tinha uma relação com a mãe, outra com o pai, uma terceira com a namorada, com os amigos. Tinha espaço para brincar mais, investigar as múltiplas camadas dele. Quando você tem poucas cenas, não pode explorar muito, então é mais cansativo, embora você trabalhe muito menos. É bem mais gratificante poder diversificar", filosofa.
reprodução/band
Caetano e Rosanne Mulholland eram os protagonistas de Água na Boca, última novela da Band
Fim da linha
Água na Boca marcou o fim da dramaturgia nacional na Band. Atualmente, a emissora se dedica à exibição de tramas turcas. Porém, há dez anos, o clima nos bastidores da novela não era de velório. Pelo contrário.
"A questão da Band é que trocaram pelo futebol, eu não sei dizer o que aconteceu. Quem quer implantar um departamento de dramaturgia precisa olhar para a frente e seguir com o plano. Como a Record fez [com novelas bíblicas], por exemplo. 'Nós vamos fazer pelo menos uns dez anos disso', e não importa se vai perder dinheiro no começo, tem que sustentar sua aposta. Eu já trabalhei na Record e é impressionante o quanto aquela linguagem funciona para eles, e o quanto a emissora faz bem."
"Já as questões da Band ficavam restritas à Band, não influenciaram em nada no nosso trabalho. Ali, estávamos todos lado a lado, como se fosse uma grande peça de teatro. Ninguém queria o lugar do outro, sabe? Eu sinto falta desse tipo de clima, que todo mundo gosta um do outro, o foco é sempre melhorar. Não dá para saber se algo vai ser sucesso ou não, mas o legal é apreciar a trajetória, a experiência, as pessoas com quem você convive. Isso faz de você um ator e uma pessoa melhor."
Depois de Água na Boca, Caetano passou pela Record, pela Globo e até atuou na série norueguesa Lilyhammer, da Netflix. Nos últimos anos, porém, tem se dedicado mais ao teatro: ele acabou de encerrar uma temporada em São Paulo da peça 12 Homens e uma Sentença, um clássico do dramaturgo Reginald Rose (1920-2002).
"Eu gosto do palco porque existe a possibilidade de se aprofundar, na repetição do mesmo texto a cada apresentação você acaba descobrindo coisas diferentes. Mas não sou eu quem me navega, quem me navega é o mar, então não fico fazendo muitos planos", filosofa ele, em tom poético.
A poesia, aliás, também é uma parte importante da vida do ator. E lhe rendeu o seu próximo papel na TV. A atriz e produtora Bruna Lombardi viu o trabalho de Caetano com os versos e nos palcos e escreveu para ele o papel de Christian, personagem que estará na segunda temporada da série A Vida Secreta dos Casais, da HBO.
"É um alto executivo que vive em um ambiente de muita pressão, faz milhões em um dia, perde trilhões no seguinte. Essa gangorra emocional faz com que ele tenha uma sexualidade exacerbada, muitas mulheres, drogas... A empresa não pode demiti-lo porque ele gera muito dinheiro, então manda ele fazer terapia, e ele procura a sexóloga vivida pela Bruna, achando que vai ser divertido. E, sem dar muitos spoilers, ela acaba resgatando aquele ser humano que estava escondido nele", adianta o intérprete.
Mesmo afastado da TV aberta, Caetano não pode reclamar da falta de trabalho. Tem emendado peças de teatro, gravou a série para o canal pago e também desenvolve um trabalho de apresentação de poesia para pessoas doentes em hospitais.
"Eu tive dois finais de semana de folga nesse ano inteiro, em todos os outros trabalhei. Mas eu sou muito apaixonado pelo que faço, então trabalho com prazer. Como diz o Roberto Bontempo, essa é uma profissão para os fortes. Porque os primeiros dez anos são difíceis, os segundos dez anos... Também são difíceis!", finaliza o ator de 38 anos, entre risos.
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