ANÁLISE
Reprodução/TV Globo
Paula von Sperling no último dia de confinamento no BBB19: ganhou por falar tudo o que não deve
Ao longo dos 88 dias no BBB19, Paula von Sperling disparou declarações polêmicas, foi acusada de racismo e passou a ser investigada por intolerância religiosa. Seu "castigo"? O público deu para ela o prêmio de R$ 1,5 milhão. Assim, o reality show da Globo se tornou um microcosmo do que há de pior no Brasil atual --o mesmo que elegeu Jair Bolsonaro presidente.
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A bacharel em Direito, assim como o militar da reserva que virou político, funciona como válvula de escape para uma parcela da população que até então era (ou pelo menos deveria ser) reprimida pelo senso do ético e do correto.
Como falar mal de negros é visto de maneira ruim, torna-se um ato internalizado; pensado, mas não dito. Preconceito com religiões de matrizes africanas? O raciocínio é o mesmo --a pessoa tem medo do que não entende, mas se cala para não ser criticada pela "patrulha do politicamente correto". Era assim. Não é mais.
Quando Bolsonaro falou que "quilombolas não servem nem para procriar" ou que uma colega de Congresso não seria estuprada por ele "porque não merece", abriu a porteira para quem pensava de forma similar, mas tinha medo de se pronunciar.
Paula, com voz e jeito de criança tonta, também externalizou discursos que seriam reprimidos por qualquer pessoa com um mínimo de consciência. Chamou cabelo enrolado de "ruim", se espantou ao descobrir que um criminoso era "branquinho", afirmou que cota na universidade é uma forma de racismo e provou que não tem a menor ideia de qual é a definição de "humor negro".
Em outubro do ano passado, o presidente encontrou apoio às suas ideias antiquadas em 57,7 milhões de eleitores do país. Nesta sexta (12), Paula recebeu a aprovação de 61% de quem tirou um pouco de seu tempo para votar no reality da Globo. Ou seja: uma parcela expressiva da população concorda com o que eles pregam.
Curioso é que, no ano passado, o Big Brother apresentava um cenário totalmente oposto. Na ocasião, Gleici Damasceno foi eleita campeã com 57% dos votos (em uma final tripla, contra Kaysar Dadour e a família Lima). Assim que deixou o confinamento e foi encontrar Tiago Leifert e rever sua família, a acreana gritou "Lula livre". Foi aclamada pela esquerda e, claro, detonada por seguidores de Bolsonaro.
Em 2010, o dançarino Uilliam Carvalho entrou para os anais do BBB ao declarar que, "em época de Carnaval, as máscaras caem". Muito antes disso, nos anos 1970, o craque Edson Arantes do Nascimento, o Pelé, havia declarado que o brasileiro não estava preparado para votar, em uma defesa torta da Ditadura Militar (1964-1985).
As duas afirmações seguem extremamente atuais, embora em um contexto bastante diferente. O povo continua não sabendo votar, na política ou em reality shows. E as máscaras da população que pagava de politicamente correta, de fato, caíram. Para alegria dos milhares de Bolsonaros e das Paulas que existem por todo o país --e que durante anos todo mundo tentou varrer para baixo do tapete. E salve-se quem puder!
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