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VIOLÊNCIA VELADA

Gaiola de Ouro: Entenda síndrome que afeta Ana Hickmann e Naiara Azevedo

REPRODUÇÃO/RECORD E TV GLOBO

Ana Hickmann (à esquerda) e Naiara Azevedo (à direita)

Ana Hickmann e Naiara Azevedo: famosas denunciaram os companheiros após abusos dentro de casa

IVES FERRO

ives@noticiasdatv.com

Publicado em 10/12/2023 - 8h10

Ana Hickmann e Naiara Azevedo denunciaram agressões físicas e psicológicas de seus companheiros. A apresentadora acusa o marido, Alexandre Correa, de violência doméstica, enquanto a cantora alega ter sido ameaçada e prejudicada por metade dos direitos de sua carreira pertencerem ao ex, Rafael Cabral. A dificuldade em se libertar de um relacionamento abusivo, no qual o companheiro detém poder sobre a carreira, bens e até filhos, é chamada de Síndrome da Gaiola de Ouro.

O problema refere-se a mulheres vítimas de violência doméstica, que continuam reféns da relação, principalmente quando envolve status, profissão, ou famílias de renome, e ocorre principalmente em pessoas com patrimônio considerável e alto padrão de vida.

A exposição pública e o julgamento de familiares e amigos limitam a capacidade dessas mulheres de reagir. Muitas permanecem num relacionamento de fachada para preencher os anseios sociais e passar a imagem da "família perfeita" mostrada em redes sociais e eventos públicos.

Rafael Gonçalves, advogado especialista em Direito de Família e violência doméstica, conta ao Notícias da TV que os sinais da síndrome estão presentes nas entrevistas dadas por Ana ao Domingo Espetacular, na Record; e na conversa de Naiara com a reportagem do Fantástico.

"O fato da Ana ser uma apresentadora famosa, exposta na mídia e redes sociais, [com] padrão de vida elevado, e ter um filho com o investigado, já demonstra eventual dependência emocional, que acrescida aos tipos de violência relatados, provavelmente foi o fato decisivo para não denunciar naquele momento", explica.

"A mulher presa no relacionamento abusivo pelo medo de ser exposta acaba vulnerável a todos os tipos de violência, no entanto, as mais verificadas são: psicológica, moral e patrimonial. A manutenção do status social diante da violência sofrida coloca a mulher num cativeiro emocional, que pode evoluir facilmente para depressão, impedindo que ela siga a vida e perceba o quão forte é", pontua.

Alexandre Correa nega as acusações de Ana Hickmann e trava uma briga judicial contra ela por conta da dívida milionária que os dois compartilham pela empresa da apresentadora, da qual ambos são sócios --o valor declarado na Justiça ultrapassa os R$ 14,6 milhões, mas o empresário pede recuperação judicial de uma dívida de aproximadamente R$ 40 milhões.

O especialista aponta que o andamento do imbróglio judicial pode ser indiretamente uma forma de abuso: "Se verificados ataques fora do objeto discutido na ação, tentativas de protelar a ação ou utilização indevida do judiciário para finalidade diversa daquela que é --resolver a dissolução da sociedade e organizar o acervo de dívidas--, poderá incorrer a prática de violência processual e a continuidade da violência psicológica indiretamente".

É como se a porta da gaiola estivesse aberta, mas a vítima precisasse voltar várias vezes pra fazer a manutenção interna. O medo de voltar, o medo de a porta se fechar novamente, e até mesmo o pânico de ter que frequentar o mesmo ambiente que adoeceu, são fatores torturantes pra qualquer vítima.

Como identificar a Gaiola de Ouro?

Sinais de afastamento familiar e de amigos, culpabilização desnecessária e prática de violência passiva pelo companheiro são sinais de alerta. Naiara Azevedo revelou que se separou do ex após episódios de agressão física dentro de sua casa. A cantora se emocionou ao afirmar que era empoderada apenas da porta para fora.

"A minha própria abertura do meu show me encorajou a falar: 'Peraí, chega dessa patifaria. Eu não aceito mais!'. Da porta pra fora da minha casa, eu sempre fui uma mulher empoderada, mas da porta pra dentro, eu falava pra ele: 'Eu sou como um móvel qualquer no canto da casa'", discursou ela em entrevista ao Fantástico.

A ex-BBB conseguiu reunir provas das agressões ao gravar brigas e apresentar prints de conversas de WhatsApp no boletim de ocorrência, assim como Ana Hickmann. O advogado aponta que a estratégia delas foi inteligente. "Uma das principais características do abusador e do narcisista é desacreditar a vítima, tachando-a como louca ou mentirosa", acrescenta ele.

"Eu sempre sugiro criarem um e-mail exclusivo, ou acionarem alguma amiga, para encaminharem todos os tipos de provas que conseguirem captar (vídeos, prints, fotos, gravações). A sugestão é que a vítima recorra à delegacia especializada de proteção à mulher para registrar a ocorrência da agressão ou ligue para o 180. Por fim, sair do mesmo ambiente do agressor pode ser decisivo", reforça.

Segundo o especialista em violência contra a mulher, a denúncia feita por Ana Hickmann simboliza um ponto de partida para pessoas que viviam a mesma situação, como Naiara Azevedo.

"Ver uma mulher ser apoiada por milhões de outras pessoas é um impulsor que gera segurança. A repercussão de casos como o da Ana, principalmente quando há a punição do agressor, é um divisor de águas para novas denúncias de mulheres presas em gaiolas de ouro", conclui.


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