BBB 22: Rejeição a Luciano por querer fama escancara racismo do público

A rejeição a Luciano Estevan do BBB 22 escancara o racismo do público que acompanha o reality da Globo. O ator foi o primeiro eliminado da edição deste ano e conquistou 49,31% dos votos, sendo a "arrogância" do participante a principal justificativa do telespectador para tirá-lo do confinamento. Durante sua única semana no programa, o catarinense afirmou que queria ser muito, muito famoso, no nível de Beyoncé. Mas a fala desagradou a quem o assistia.

"A justificativa do público, de eliminá-lo pela 'arrogância', mostra a hipocrisia de quem assiste ao programa. Todos os confinados estão lá com esse mesmo desejo. Agora o Luciano falar sobre fama significa arrogância porque ele não é um homem com uma imagem interessante para ser entendido como famoso. Existe um incômodo na imagem de Luciano que se chama negritude", explica a psicóloga Laura Augusta Almeida ao Notícias da TV.

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A partir do momento em que ele fala sobre fama abertamente, ele é entendido como arrogante. Porque o lugar-comum em que os homens negros são colocados, especialmente na mídia, é na subserviência à branquitude.

Durante a curta passagem de Luciano pelo programa, o bailarino afirmou que a fama foi colocada para ele como não apenas uma visibilidade, mas um modo de vida de sucesso, e esse era o desejo da sua mãe. 

"Eu não posso afirmar que o desejo da fama é uma necessidade de Luciano em ser amado. Mas existe um modo de vida que ele almeja e que está muito distante da sua realidade. Ele sabe que pelo próprio trabalho, por seu processo de vida, jamais conseguiria acessar o lugar de Beyoncé. Então é sobre acessar com rapidez todos os privilégios de uma vida com as mordomias da fama", analisa a psicóloga.

Laura diz ainda que, a depender de qual tenha sido a história do participante antes do programa, a fama seria uma maneira de escapar e se afastar de situações que ele não quer mais enfrentar. "Acredito que tudo isso faz parte de um processo de desejo de não passar por algumas situações de pobreza, de violência, mas também de ter uma vida na qual a fome não precise ser ameaça, a pobreza não precise ser ameaça", pontua a profissional.

Após deixar o programa da Globo, Luciano voltou a ser chacota. Não mais pelo anseio da fama, mas por verbalizar, durante o Mais Você, que gostaria de fazer uma novela na emissora. 

"Sempre trabalhei três áreas da minha carreira: ator, dançarino e modelo. Quando veio a internet, eu comecei a criar conteúdo. Mas tenho mais de 20 anos de caminhada como ator, bailarino e modelo. Inclusive, Globo, se quiser me chamar para uma novela, estamos aí", disse ele no tradicional café da manhã do eliminado com Ana Maria Braga.

Laura Augusta Almeida se indigna ao falar sobre as "piadas" envolvendo mais um desejo de Luciano Estevan. "Eu acredito que seja ranço, racismo, perversão. Ser alvo de chacota pelo desejo de se tornar um ator? Por que ele não poderia ser? O que poderia, de alguma medida, impedi-lo de ser, a não ser o desejo das pessoas em contratá-lo?", questiona a psicóloga.

Para ela, a situação em que Luciano é colocado como alvo é ainda mais grave porque não é apenas direcionada a ele, mas atinge toda a população negra. "Não é só a autoestima de um homem negro, mas uma série de jovens negros que têm sonhos, que também têm o desejo de se tornarem pessoas famosas, de se tornarem atores, atrizes e alcançarem espaço de poder para que a destruição das vidas não seja uma ameaça", argumenta a profissional.

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