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MEMÓRIA DA TV

Sucesso em 2003, Chocolate com Pimenta quase foi barrada por ser 'picante demais'

JOÃO MIGUEL JÚNIOR/TV GLOBO

Os atores Mariana Ximenes e Marcello Novaes em baile elegante da novela Chocolate com Pimenta

Mariana Ximenes e Marcello Novaes (ao fundo) em cena de Chocolate com Pimenta: ardida demais

THELL DE CASTRO

Publicado em 24/5/2020 - 5h57

Em 2003, a Globo teve de dialogar e fechar um acordo com o Ministério da Justiça, além de fazer adaptações, para atenuar a trama de Chocolate com Pimenta e conseguir mostrar no horário das seis a trama de Walcyr Carrasco, atualmente em reexibição no canal Viva. A sinopse havia sido considerada "apimentada" demais.

Em 8 de agosto daquele ano, exatamente um mês antes da estreia da novela, a Globo foi surpreendida pela classificação indicativa do Ministério da Justiça, que vetou a exibição da produção antes das 20h.

O despacho foi publicado no Diário Oficial da União de 7 de agosto. O MJ reclassificou a novela, a partir da leitura de sinopse feita por uma equipe de técnicos, como imprópria para menores de 12 anos (20h), por "desvirtuamento moderado de valores éticos e conflitos psicológicos atenuados".

A novela era ambientada nos anos 1920 e inspirada na opereta A Viúva Alegre, de Franz Lehár (1870-1948). Em abril daquele ano, havia sido classificada como livre, mas Carrasco fez pequenas alterações na sinopse, a Globo enviou o material para Brasília (DF) e, assim, ocorreu a reclassificação.

De acordo com reportagem de Daniel Castro na Folha de S.Paulo de 9 de agosto de 2003, a medida foi recebida com surpresa dentro da Globo, que prometeu recorrer.

O jornalista explicou que Ana Francisca (Mariana Ximenes), pobre, se apaixonava pelo rico Danilo (Murilo Benício) e a família do rapaz os separava. Grávida, se casava com um rico industrial (Ary Fontoura) e se mudava para Buenos Aires, na Argentina. O marido morria e ela ficava milionária. Vingativa, ela voltaria à sua cidade-natal com um noivo. Na nova sinopse, retornava sozinha. "Não entendo. A personagem ficou mais romântica e ingênua", explicou Carrasco ao jornal.

A emissora também ficou revoltada porque programas populares como Hora da Verdade e Brasil Urgente, da Band, tinham sido classificados como livres.

Acordo

Dias depois, a Globo e o Ministério da Justiça chegaram a um acordo. Em 14 de agosto, a Folha informou que o órgão voltou atrás e liberou a trama para as 18h, "porque a emissora esclareceu que a concepção da obra não enseja qualquer prejuízo ao horário livre".

Em 24 de agosto, o jornal O Globo divulgou que Marina Oliveira, assessora de comunicação da Secretaria Nacional de Justiça, explicou que a sinopse anterior estava "mais apimentada".

Na nova versão, Carrasco atenuou o perfil da personagem. "Nesses casos, que são muito comuns, Marina diz que o Ministério da Justiça busca sempre o diálogo com a emissora", descreveu a publicação.

"A novela tomou outro rumo. Na hora que comecei a escrever, os personagens ganharam seus contornos", declarou o autor ao jornal O Estado de S. Paulo de 29 de agosto daquele ano.

Além disso, outra mudança foi a criação do personagem Sebastian, que foi dado a Tarcisio Filho, para aumentar o conflito da trama. "Ele será um vigarista que chega na cidade para conquistar a Ana Francisca", adiantou Carrasco.

Sobre Olga (Priscila Fantin), ele explicou o que mudou. "A Olga ia ser muito mais ingênua, mas a Priscila deu uma carga de antagonista, que o personagem acabou ganhando uma pimenta na interpretação. Ela não mudou nada do texto, mas o seu jeito deu outra cara para o papel", concluiu.

No fim das contas, Chocolate com Pimenta estreou em 8 de setembro de 2003 e terminou em 7 de maio de 2004, com 209 capítulos. A novela foi um grande sucesso, a segunda melhor audiência da faixa em toda a década de 2000, superada apenas por Alma Gêmea (2005), também de Carrasco.


THELL DE CASTROé jornalista, editor do site TV História e autor do livro Dicionário da Televisão Brasileira. Siga no Twitter: @thelldecastro

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