Depois de 36 temporadas, Disney vai matar Os Simpsons sem despedida oficial

No ar de maneira ininterrupta desde 1989, a animação Os Simpsons pode chegar ao fim nos próximos quatro meses --e sem despedida oficial. Pelo menos, do jeito como o público a conhece desde a estreia. A Disney, que virou dona da família amarela após adquirir os estúdios de televisão e de cinema da Fox, já tem movido os seus pauzinhos para mudar tudo na vida de Homer, Marge, Bart, Lisa, Maggie e companhia.

A vida longeva de Os Simpsons na rede norte-americana Fox (que não foi comprada pela Disney e segue com o magnata Rupert Murdoch) está em risco desde 2019, quando a empresa do Mickey Mouse desembolsou bilhões para absorver a estrutura e o catálogo dos estúdios Fox. O Notícias da TV apurou, porém, que o futuro da animação nunca esteve tão ameaçado quanto agora.

Em janeiro de 2023, a Fox encomendou de uma só vez mais duas temporadas da animação: a 35ª, que foi ao ar entre 2023 e 2024, e a 36ª, atualmente exibida na TV norte-americana e prevista para chegar ao fim em maio. Até o momento, nada se falou sobre uma renovação para o 37º ano da família. Ou seja, Os Simpsons podem "morrer" dentro de quatro meses. 

Para séries live-action, a indefinição sobre uma nova temporada até o último minuto é normal e até esperada. Tradicionalmente, as redes de TV aberta dos Estados Unidos só anunciam suas novas grades em maio, durante a apresentação dos programas para o mercado publicitário. Assim, tem um hiato de três a quatro meses para preparar a próxima leva de histórias.

Para uma animação, porém, o processo é bem mais demorado, o que exige que os episódios sejam encomendados com muita antecedência. Uma fonte da reportagem que trabalhou em Os Simpsons durante 12 temporadas contou que, para novos episódios irem ao ar na Fox entre setembro e outubro de 2025, a sala de roteiros precisaria ter sido iniciada em novembro do ano passado, para que os animadores pudessem trabalhar nos desenhos a partir de janeiro. Isso, pelo menos oficialmente, ainda não ocorreu.

A decisão sobre a renovação (ou não) de Os Simpsons, vale apontar, cabe aos executivos da Fox e não aos engravatados da Disney. Como não é mais dona do estúdio responsável pela animação, a rede de TV tem de pagar um valor para comprar os episódios e colocá-los no ar. Quanto mais temporadas no ar, mais alta fica essa quantia --não foi por acaso que Grey's Anatomy precisou demitir parte de seu elenco fixo e diminuir a participação de outros atores.

No passado, a Fox recuperava os custos da produção não apenas com os intervalos da animação, mas também com a venda de DVDs e dos direitos de reprise para canais locais e da TV paga. Atualmente, ela só recebe o valor dos comerciais --já que a Disney fica com as outras receitas. Deixou de ser interessante para a rede da família Murdoch pagar caro pelo produto sem ter o retorno assegurado do passado.

Nos últimos anos, a Disney até aceitou negociar e abaixou o valor que cobra por cada episódio. Mas isso já traz consequências para a própria Fox: em vez dos 22 episódios inéditos por temporada que costuma exibir, a rede teve direito a apenas 18 na atual; os outros quatro viraram exclusivos do Disney+ --dois deles, inclusive, já foram lançados pela plataforma de streaming como especiais de Natal.

Fontes que trabalham na produtora Gracie Films e na 20th Television Animation ouvidas pelo Notícias da TV apontam que o futuro de Os Simpsons deve seguir justamente esse caminho: episódios especiais feitos para o streaming, sem nenhuma periodicidade. Mais de duas dezenas de capítulos por ano? Fora de cogitação. Transmissão na Fox? Apenas se os Murdoch toparem comprar os direitos da segunda janela de exibição.

Coincidentemente (ou não), o primeiro episódio da atual temporada da família amarela brincou com o público ao insinuar que aquele seria o fim da série, escrito por uma ferramenta de inteligência artificial. É o mais perto que os roteiristas chegarão de entregar um desfecho oficial, já que o showrunner Matt Selman declarou à revista People que não deseja fazer um último capítulo especial, mas apenas mais uma aventura comum de Homer e companhia.

"Eu espero que seja um episódio normal, com uma boa história, que seja engraçada e envolva todos da família. Não acho que precisamos amarrar todas as pontas da trama nem mudar o que já fizemos esses anos todos. Não tem que ser algo mágico nem se dirigir à plateia diretamente", explicou.

Ou seja: não se surpreenda se, daqui a alguns meses, você assistir ao episódio derradeiro de Os Simpsons sem sequer saber que aquela será a sua despedida de Bart, Lisa, Maggie, Marge e Homer.

A reportagem procurou porta-vozes da Fox norte-americana e do conglomerado Disney desde 16 de dezembro para comentar sobre o futuro de Os Simpsons. Até a publicação deste texto, nenhum dos contatos foram retornados.