'Picadinho' de Amor de Mãe mata a fome do público, mas é difícil de engolir

Receita que parecia desastrosa a princípio, o "picadinho" de Amor de Mãe surpreendeu o paladar do público. Ao espremer a história dos 102 episódios da primeira temporada em duas semanas, a novela das nove cortou as "gorduras" e agradou até mesmo quem não acompanhou a história desde o início --ainda assim, algumas sequências foram difíceis de engolir.

Os números apontam que o compacto chamou mais a atenção dos telespectadores do que a estreia em si, já que a reapresentação somou 30,9 pontos de audiência na semana passada --cinco décimos a mais de média do que os episódios exibidos entre 25 e 30 de novembro de 2019.

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Com pouco espaço para reintroduzir a trama, os cortes da equipe de Manuela Dias foram certeiros ao se livrar de núcleos inteiros e costurar a trama por meio dos depoimentos de Lurdes (Regina Casé), Thelma (Adriana Esteves) e Vitória (Taís Araujo).

Outro acerto foi exibir algumas das cenas mais tocantes na íntegra, ainda que não tenham a ver diretamente com a busca da babá por Domênico/Danilo (Chay Suede). Mesmo com pouco espaço, a formatura de Camila (Jéssica Ellen) foi exibida sem sobressaltos no primeiro capítulo.

"Eu sou grata por aquela cena porque ela me ensinou qual era a relação da Lurdes com os filhos e também com a vida. Ela me colocou dentro da personagem, me mostrou com clareza como era aquela mulher", aponta Regina Casé ao Notícias da TV.

Camila (Jéssica Ellen) se forma na novela

Altos e baixos

Camila, aliás, foi fundamental para restabelecer o laço de cumplicidade entre o telespectador e o folhetim. Nem mesmo o coração mais gelado passa impassível diante do drama da professora de História. Abandonada pela mãe biológica no começo da produção, ela ainda perdeu um bebê e até levou um tiro para proteger os alunos durante uma operação policial.

O diálogo entre a personagem de Jéssica Ellen e Lurdes no hospital, em que a jovem admite que não aguenta mais precisar ser "forte" a todo tempo, traz o melhor do texto de Manuela Dias. Por pouco, faz as pessoas em casa "perdoarem" o excesso de realidade e o tom de "mundo cão" que obrigou a roteirista a reformular parte da história.

Um dos problemas centrais é que a sensibilidade da autora desaparece num passe de mágica na hora de escrever o núcleo de Vitória. A experiência de Taís Araujo salva --e muito-- o papel de se tornar um completo desastre, especialmente no momento em que a advogada revela ser mãe de Sandro (Humberto Carrão).

Depois de ver apenas o que há de melhor na novela, o público foi obrigado a engolir a seco a sequência mirabolante em que a ex-namorada de Raul (Murilo Benício) confessa que inventou um intercâmbio na França para se esconder na casa de uma traficante de crianças em uma comunidade do Rio de Janeiro --e ninguém nunca desconfiou de nada.

Esses furos no roteiro já rendem críticas até aos mais experientes, a exemplo de João Emanuel Carneiro que foi massacrado por causa do bendito pendrive de Avenida Brasil (2012). Em Salve Jorge (2012), Gloria Perez chegou a reclamar que o público não sabia "voar" por não comprar todos os seus arroubos folhetinescos.

Com a "bucha" de estrear logo na faixa mais nobre da Globo, Manuela teve que dar a cara a tapa em sua estreia. Com a volta dos capítulos inéditos na próxima segunda (15), ela vai ter a chance de virar o jogo, partir para o ataque e nocautear o telespectador --ou então ver audiência na lona.