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Viva reprisa primeiro ano do Zorra Total; veja como o mundo mudou desde 1999

Divulgação/Viva

Os atores Lucio Mauro Filho e Jorge Dória em cena da primeira temporada do Zorra Total - Divulgação/Viva

Os atores Lucio Mauro Filho e Jorge Dória em cena da primeira temporada do Zorra Total

FERNANDA LOPES

Publicado em 12/7/2016 - 5h26

Quando o Zorra Total estreou na Globo, em março de 1999, ainda não existiam redes sociais e canais de humor na internet. A novela das nove ainda era das oito. O mundo temia o "bug do milênio", o colapso dos computadores na virada de século. Nesse contexto, o programa apostou na interação entre humoristas consagrados e novos atores para criar quadros com bordões que emplacaram durante 16 temporadas _até ser reformulado e virar somente Zorra, em 2015. O primeiro ano do humorístico será exibido pelo canal Viva a partir desta quarta-feira (13), às 21h30.

Divulgação/Viva

Francisco Milani e Stella Freitas no Zorra Total

Os esquetes do Zorra Total que vão ao ar nessa reprise trazem de volta grandes figuras da comédia. Chico Anysio (1931-2012) interpretava Alberto Roberto, o entrevistador inconveniente. Cláudia Rodrigues, afastada da TV para tratamento de esclerose múltipla, estava em sua melhor forma como a perua Ofélia. Nair Bello (1931-2007) e Rogério Cardoso (1937-2003) não conseguiam segurar o riso em cena com as brigas dos personagens Santinha e Epitáfio. Francisco Milani (1936-2005), por sua vez, fazia o papel do rabugento Seu Saraiva, famoso pela "tolerância zero".

Já Lucio Mauro Filho, então com 25 anos, era estreante em um humorístico da TV. Ele interpretava Alfredinho, um rapaz homossexual pressionado pelo pai para se comportar como "macho". O ator lembra como decidiu entrar para o elenco do programa. "Chico Anysio me deu uma bronca um dia quando me encontrou. Falou: 'Cara, tu tem que fazer comédia. Esquece esse negócio de novela, você está competindo com gente muito menos talentosa do que você'", conta.

No ar atualmente em Chapa Quente, depois de ter feito parte do elenco de A Grande Família durante 13 anos, ele acredita que todo seu aprendizado de comédia veio do Zorra Total, e analisa a importância da atração para a TV brasileira.

"O Zorra Total é um programa que talvez só seja lembrado daqui a algum tempo com a verdadeira dimensão que possui. Ele foi o grande celeiro dos comediantes de televisão nos últimos 20 anos. Leandro Hassum apareceu por lá, Katiuscia Canoro, Rodrigo Santana. Agora, com essa reformulação, o programa conseguiu se transformar, acho que é uma evolução. O humor no Brasil não está pior, o Brasil é que está pior. O humor está melhor do que nunca", afirma.

Com a mudança em 2015, o programa ganhou nova estética e deixou para trás todos os quadros antigos. Em comparação, os quadros de 1999 chamam a atenção pelas composições de cenários e figurinos característicos da última década do século 20 e por apresentar comportamentos sociais e culturais que hoje estão ultrapassados.

Confira algumas mudanças significativas de lá para cá:

Divulgação/viva

Jorge Dória e Lucio Mauro Filho como os personagens Alfredinho e Alfredão de Zorra Total

Alfredinho e Alfredão: homofobia

No quadro Alfredinho e Alfredão, protagonizado por Lucio Mauro Filho e Jorge Dória, a graça estava no confronto entre a homossexualidade do rapaz e a homofobia de seu pai, que tentava provar (sem sucesso) para os amigos o quanto seu filho era macho. Depois de fazer piada e até matar personagens gays em novelas, a Globo hoje mostra homossexuais se beijando e até transando.

O tom homofóbico do quadro certamente não passaria despercebido pela comunidade LGBT atualmente, que exige cada vez mais respeito e direitos humanos na sociedade. Mesmo assim, Lucio Mauro Filho acredita que as cenas não eram ofensivas. "Pelo contrário, mesmo o pai se perguntando 'Onde foi que eu errei?', não deixava que ninguém ofendesse o filho, tinha orgulho do filho homossexual. A prova disso é que eu já fui homenageado na Parada Gay de São Paulo e recebi só mensagens carinhosas", conta.

Divulgação/Viva

A atriz Claudia Jimenez durante cena como a personagem Glorinha, de Zorra Total, da Globo

Disk Glorinha: empregada maltratada

Ainda em relação a comportamentos sociais ultrapassados, destaca-se o quadro Disk Glorinha. Claudia Jimenez interpretava a atendente de telemarketing de uma empresa que, na teoria, deveria passar "boas energias" e simpatias para clientes que procuravam o serviço. Na prática, ela tratava mal todos a seu redor, inclusive a pessoa na linha.

A empresa de Glorinha poderia ser processada hoje, devido às novas leis que coordenam a atividade abusiva de telemarketing. Atualmente, todas as ligações são gravadas, para segurança e garantia do cliente e do funcionário. Glorinha também é indelicada com sua empregada doméstica, que não aparece na cena mas é alvo de xingamentos. Com as novas regras sancionadas na PEC das domésticas, em vigor desde 2013, as relações entre patroas e empregadas ficaram muito mais esmiuçadas e reguladas. Glorinha teria problemas na Justiça para explicar seus maus-tratos.

Reprodução/Viva

Lucio Mauro Filho como Da Júlia em Zorra Total; personagem usava um bip no pescoço 

Alberto Roberto: tecnologia obsoleta

O estúdio do talk show de Alberto Roberto (Chico Anysio) é composto por elementos muito modernos para 1999, mas que, em 2016, ficaram totalmente ultrapassados. O apresentador tinha, em sua mesa, um grande notebook e um celular de modelo que ainda trazia antena para captar melhor o sinal. Além disso, o assistente de Alberto Roberto, Da Júlia (Lucio Mauro), usava um bip pendurado no pescoço. O aparelho, usado para enviar e receber mensagens, foi um antecessor do celular e virou febre nos anos 1990, até ficar obsoleto e desaparecer completamente do mercado.

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Claudia Rodrigues caracterizada como Ofélia: muita pluma e acessórios espalhafatosos

Fernandinho e Ofélia: moda exagerada

A personagem Ofélia (Claudia Rodrigues) era uma clássica perua dos anos 1990 e usava várias peças que representam bem a moda do fim da década, como o tailleur, conjunto de terno e saia justa que combinam entre si. O problema é que Ofélia, uma "nova rica", não tinha limites ao escolher seus acessórios. As roupas eram complementadas por muitas joias, plumas, unhas postiças enormes e cabelo com muito laquê. Os anos 1990 no ápice do exagero deixavam o look dela caricato e totalmente datado.

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Chico Anysio em cena no Zorra Total; ele também estrelava O Belo e as Feras em 1999

A comédia na TV em 1999

O humor na televisão no fim dos anos 1990 não tinha toda a diversidade que tem hoje. Se atualmente há humorísticos de várias vertentes na Globo, como Tá no Ar, séries como Mister Brau e Chapa Quente e o Zorra reformulado, em 1999 as únicas estreias de comédia foram o Zorra Total e o programa O Belo e as Feras, estrelado por Chico Anysio e escrito originalmente para a TV Tupi, em 1958.

Em relação ao humor internacional, a série que mais fez sucesso durante a década de 1990 foi Seinfeld, considerada pela revista TV Guide como a melhor de todos os tempos. O último episódio, que foi ao ar originalmente em 1998, teve 76,3 milhões de telespectadores nos Estados Unidos. No Brasil, a série foi exibida pela Manchete entre 1991 e 1997 e pela Band entre 1997 e 1999. Outras séries que faziam sucesso em 1999 eram Arquivo X (1993-2002), Nova York contra o Crime (1993-2005) _ambas passavam na Record_ e Plantão Médico (1994-2009).  


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