MARCELA MESQUITA
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Marcela Mesquita em jornal de afiliada do SBT: âncora vence processo contra TV Vanguarda
Ex-apresentadora e repórter da TV Vanguarda, afiliada da Globo no interior e litoral de São Paulo, a jornalista Marcela Mesquita venceu uma ação na Justiça contra a emissora. Ela foi vítima de gordofobia e demitida após a licença-maternidade. A empresa pertence a José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, que foi o chefão da Globo entre 1967 e 2001.
O Notícias da TV teve acesso completo com exclusividade à ação de Marcela, que hoje apresenta um jornal matinal na TV Thaiti, afiliada do SBT. Ela foi contratada da Vanguarda entre 2009 e 2021, inicialmente como editora. Posteriormente, a jornalista virou repórter. Ela alega que começou a ter problemas em 2016, quando chefes de redação exigiram que ela perdesse peso, uma orientação vinda do dono da empresa.
Para provar sua tese, Mesquita anexou diversas conversas de WhatsApp que teve principalmente com Therezinha Almeida, hoje gerente de Jornalismo da TV Vanguarda, e Adul Roberto e Ricardo Guedes, chefes de reportagem. Em uma dessas situações, no plantão de Ano-Novo de 2018, Roberto orientou que Marcela gravasse uma passagem --jargão jornalístico para o trecho da reportagem em que o jornalista fala diante da câmera-- para Boni avaliar.
Caso ele desse o aval, ela voltaria a ter reportagens de destaque. "Oi, tudo bem? Seguinte, você deve ficar na rua no plantão, tá? Amanhã conversamos melhor, mas você deve gravar passagens para avaliação. Queremos mandar as passagens para o Boni avaliar depois", disse o chefe de Marcela, que alega ter ficado constrangida com a ordem.
Em outra situação, datada de 2018, Marcela Mesquita ficou proibida de aparecer ao vivo no Bom Dia Brasil, da Globo, e na Edição das 10, da GloboNews, diretamente do helicóptero da emissora, por causa do seu peso. "Se o pessoal da Globo perguntar, você diz que a câmera está com problema", pediu Guedes.
Um depoimento de uma testemunha do processo confirmou a versão apresentada por Marcela sobre o assunto. "Eu fui orientado a não mostrar a Marcela Mesquita no vídeo", diz o depoente.
Em 2020, durante o auge da pandemia de Covid-19, a jornalista engravidou de sua primeira filha. A gestão durou até dezembro. Quando sua licença-maternidade terminou, em abril, a ex-funcionária da Vanguarda foi colocada de férias.
Assim que voltou, em maio de 2021, Marcela Mesquita foi demitida sem justificativa. Para ela, houve retaliação porque, pouco antes de o coronavírus explodir, ela depôs a favor de Michelle Sampaio --jornalista que também foi demitida da Vanguarda por causa do peso.
Na ação, a TV Vanguarda negou os argumentos da sua antiga âncora e alegou que ela eventualmente fazia reportagens e apresentações. Ela teria sido contratada para trabalhar na edição, como aconteceu até um dia antes de ela ser afastada por causa da gravidez.
"De qualquer forma, é importante ressaltar que, mesmo na condição de editora, a Reclamante [Marcela], eventualmente, realiza reportagens, situação esta que perdurou durante todo o seu período de gestação, até o dia anterior ao seu afastamento em licença maternidade", diz a TV. A afiliada da Globo também negou qualquer discriminação por causa do peso da ex-funcionária.
"De imediato, cabe destacar que a Reclamada [Vanguarda] jamais praticou qualquer ato discriminatório, especialmente em razão de padrão estético relacionado ao peso corporal de suas jornalistas. Desta forma, não é verdade que a Reclamante teria sofrido assédio, por parte dos superiores da Reclamada, em razão do seu suposto sobrepeso, muito menos que teria sido afastada dos principais programas da empresa por esse motivo, restando expressamente impugnadas tais alegações", argumenta a defesa da TV.
Após as provas serem apresentadas, a Vanguarda procurou os advogados da jornalista para propor um acordo amigável, o que aconteceu. Marcela receberá a partir de dezembro a indenização.
"A Reclamada pagará à Reclamante o valor líquido de R$ 500.004,00 (quinhentos mil e quatro Reais), em 12 (doze) parcelas iguais de R$ 41.667,00 (quarenta e um mil seiscentos e sessenta e sete Reais)", diz o documento do acordo.
O Notícias da TV conversou com Marcela Mesquita, que se sente aliviada pela vitória que obteve judicialmente. "Eu resolvi entrar com a ação judicial por achar que a empresa não podia agir da maneira que agiu comigo e ficar por isso mesmo. Eu sempre fui extremamente correta e achei que o certo, nesse caso, era entrar na Justiça para que a empresa respondesse pelo que fez. Quem sabe, assim, eles não repensem essa maneira preconceituosa e desumana de tratar as mulheres ali dentro, né?", afirma ela.
A jornalista comentou que sempre teve certeza da vitória porque tinha como provar toda as situações que passou na TV de Boni. Ela se emociona e diz que o seu momento profissional atual lhe dá um alívio imenso.
"Eu sempre estive muito confiante com relação à minha ação. Tudo o que eu mencionei para a Justiça de fato aconteceu. Eu jamais diria algo tão sério se não pudesse provar. Eu tenho provas! E todas foram apresentadas no processo. Diante de todas as provas apresentadas, a empresa procurou o meu advogado propondo um acordo. O valor foi negociado, e a indenização a ser paga por eles é maior do que a ação inicial. Foi bom assim!", comenta.
"Não via a hora de virar essa página definitivamente. Hoje estou muito feliz no meu atual trabalho. Apresento o jornal matinal da TV Thathi (SBT) e somos vice-líderes de audiência. Graças a Deus, o público que acompanha o meu trabalho nunca soltou a minha mão, e muitos mudaram de casa junto comigo", completa ela.
A coluna procurou os advogados da TV Vanguarda por e-mail e tentou entrar em contato com a empresa por telefone, mas não conseguiu falar com nenhum responsável que quisesse comentar o caso. Caso a empresa se pronuncie, a reportagem será atualizada.
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