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ENTREVISTA

'A verdade bateu à nossa porta', diz Bial sobre denúncia contra João de Deus

REPRODUÇÃO/TV GLOBO

Pedro Bial entrevistou mulheres que denunciaram casos de abuso sexual envolvendo João de Deus - REPRODUÇÃO/TV GLOBO

Pedro Bial entrevistou mulheres que denunciaram casos de abuso sexual envolvendo João de Deus

REDAÇÃO

Publicado em 8/12/2018 - 15h07

O médium João de Deus foi acusado de abuso sexual por quatro mulheres entrevistadas no Conversa com Bial, exibido na sexta-feira (7). De acordo com Pedro Bial, a apuração do caso durou três meses. "Um programa que procura refletir sobre a realidade e seus fatos não pode deixar de receber a verdade quando ela se apresenta. E a verdade bateu à nossa porta", disse o apresentador em entrevista publicada no site Gshow. 

Pela primeira vez desde a estreia, em maio de 2017, o talk show exibiu relatos gravados em off. Ou seja, quando os entrevistados preferem não mostrar o rosto. 

Dez mulheres contaram seus casos de abuso sexual com o médium João de Deus. Por questões de tempo, apenas quatro depoimentos foram exibidos: o de uma holandesa, que foi ao estúdio, e os de três brasileiras, que gravaram sem exibir o rosto e com a voz modificada. 

“Em setembro, eu e a Camila [Appel, roteirista do programa] nos preparávamos para entrevistar o João de Deus. Fizemos o convite para que ele viesse ao estúdio, mas eles nos convidaram para antes conhecer a casa e conversar com o médium lá", explicou Bial. 

"Topamos, mas depois decidi não ir. Como Camila já tinha iniciado a pesquisa, ela esbarrou em denúncias de abuso sexual cometidos em Abadiânia e começou a correr atrás da história”, disse o jornalista. 

De acordo com a roteirista do Conversa com Bial, depois do primeiro depoimento, muitos outros começaram a chegar até ela. “Ao todo, foram 11, um deles uma carta anônima que chegou à redação, e que nem consideramos na apuração, que inclui os testemunhos das 10 mulheres que realmente entrevistei”, relatou Camila Appel em entrevista ao Gshow. 

Poucas pessoas sabiam sobre essa apuração. A gravação da edição que denunciou João de Deus foi feita com equipe reduzida, sem plateia nem banda. Segundo a Globo, por sigilo e para deixar as entrevistadas mais à vontade. 

Pedro Bial, que já foi correspondente internacional e apresentador do Fantástico, conta que seu histórico de jornalista foi fundamental na decisão de exibir o programa.

“A maioria dos talk shows é apresentada por comediantes, com uma pegada humorística. No Conversa, também fazemos programas com muito humor, mas não há como não refletir a formação do apresentador. A minha é jornalista", disse. 

Entenda o caso
Segundo os relatos apresentados no Conversa com Bial contra João de Deus, havia um padrão nos casos. As mulheres disseram que primeiro iam para as sessões coletivas, quando o médium faz o trabalho espiritual aos olhos de uma plateia à procura de cura.

A mulher pela qual João de Deus se interessava era convidada para retornar depois e fazer um atendimento individual para conseguir o milagre desejado. 

"Você, de certa forma, se sente especial e pensa: 'Eu vou receber a cura. Uau! Finalmente isso está acontecendo'", disse Zahira Lieneke Mous, a única que aceitou mostrar o rosto no programa. "Eu entrei no escritório dele e quem quer estivesse lá, desapareceu do escritório e fiquei sozinha com ele", completou. 

O abuso começava quando ele pedia para que elas ficassem de costas. "Ele agarrou a minha mão direita e colocou pra trás de mim na calça dele. Eu congelei e pensei: 'Por que isso está acontecendo? Por que eu tenho que tocar no seu pênis para que eu possa ser curada?' Ele tinha um grande sofá no banheiro dele. Ele me puxou até lá e me colocou de joelhos na frente dele", relatou Zahira, que contou que o masturbou depois disso. 

"Ele sentou numa cadeira e pediu pra eu fazer sexo oral nele. E aí eu fiz com muito nojo. E realmente eu não fazia, porque eu não chegava perto. E ele falava: 'Faça isso direito, menina! Você não quer as coisas?", contou uma das brasileiras que preferiu não se identificar.

Outra convidada do Conversa com Bial foi Amy Biank, coach espiritual e autora americana, que levava pessoas em peregrinação para a Casa Dom Inácio de Loyola entre 2002 e 2014. Ela afirmou que as pessoas que trabalham com o médium sabem do que acontece, mas que os poucos que tentam denunciar saem da casa por medo, já que ele é um "homem muito poderoso". Amy diz ter sofrido ameaças de morte.

O programa da Globo tentou entrevistar o curandeiro, mas recebeu um posicionamento em nota da assessoria de imprensa.

"Há 44 anos, João de Deus atende milhares de pessoas em Abadiânia, praticando o bem por meio de tratamentos espirituais. Apesar de não ter sido informado dos detalhes da reportagem, ele rechaça veementemente qualquer prática imprópria em seus atendimentos". 

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