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TV para cachorros chega ao Brasil sem jazz, Metallica e cor vermelha

Fotos: Divulgação/Discovery

Programação da DogTV foi pensada tanto para relaxar quanto estimular seu público canino - Fotos: Divulgação/Discovery

Programação da DogTV foi pensada tanto para relaxar quanto estimular seu público canino

LUCIANO GUARALDO

Publicado em 26/10/2017 - 6h25

Pensado para ser visto exclusivamente para cachorros, o canal DogTV chega ao Brasil com algumas particularidades em sua programação: a trilha sonora não pode conter músicas de jazz ou de rock pesado, como as da banda norte-americana Metallica. Também são evitadas as cores vermelha e verde e até sons de latidos. O "livro de regras" da TV foi feito pelos criadores para agradar ao público canino, mas também tem feito sucesso com gatos, pássaros e até usuários de drogas.

"Não era a pretensão original, mas já me disseram que o canal faz muito sucesso com maconheiros. Imagino que seja algo bem diferente de ver quando se está chapado", conta, aos risos, Ron Levi, fundador e chefe de conteúdo do canal.

Brincadeiras à parte, o DogTV é coisa séria e fruto de muitas pesquisas científicas. "Passamos três anos apenas estudando os cachorros, contamos com quatro especialistas em comportamento animal na equipe. Precisamos levar isso muito a sério para que o DogTV não seja encarado como uma piada ou um mero artifício", lembra Ron Levi, fundador e chefe de conteúdo do canal.

Na fase de estudos, a equipe fez testes para verificar os estilos de música que não incomodavam os cachorros. "Nós achávamos que jazz seria um gênero agradável, mas não fez muito sucesso, não. Metallica, então, só deixava os bichos agitados, eles fugiam da sala", conta Levi. "Os cães gostam de música clássica, tranquila, com poucos instrumentos, que chamamos de psicoacústica."

A ausência de verde e vermelho na grade do canal tem uma explicação biológica: cães tem menos perceptores de cores que seres humanos e, por isso, não enxergam algumas tonalidades.

"Toda a programação é editada em duas telas simultâneas: uma para a visão humana, outra para a dos cães. Se uma cena não tem cores tão vivas, editamos quadro a quadro para que fique mais atrativa", explica o fundador, que trocou uma carreira à frente da TV em Londres para se dedicar ao canal.

Já a retirada dos latidos da grade ocorreu depois da estreia internacional do DogTV. "Alguns cachorros gostam, mas outros se irritam muito, latem de volta, não entendem porque alguém está latindo para eles. Como queremos agradar a todo o público, achamos melhor tirar. Preferimos sons positivos, falas de crianças..."

Todas as regras, no entanto, passam batidas pelo público do canal. "A ideia é que tenham um passatempo para quando o dono sai de casa e deixa eles sozinho durante horas. Como são animais sociais, que precisam de companhia, eles podem ter até problemas comportamentais. Começam a latir muito, podem ter estresse ou ansiedade. Se veem TV, não vão morder seu sofá ou comer seu chinelo. Se o cachorro está feliz, certamente seu dono ficará mais feliz", brinca Levi.

Ron Levi, fundador do DogTV, com representante do público-alvo: cada detalhe é planejado

Lançado em 2013 nos Estados Unidos, o DogTV está disponível em países como Japão, Coreia do Sul e Portugal. No Brasil, já pode ser visto por assinantes da Sky no esquema à la carte, com uma contratação avulsa de R$ 19,90 mensais. Ainda neste ano, chega à Net e à Claro TV e, no início de 2018, estará disponível na Vivo.

A chegada ao Brasil não ocorre por acaso: o país é o segundo maior mercado para pets do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos. Animais de estimação movimentam por aqui US$ 7,5 bilhões (R$ 24,3 bilhões) nos mais de 52 milhões de lares que possuem um bichinho.

"Os donos consideram os animais como filhos. Se há canais para crianças, por que não para os pets?", questiona o executivo.

Na grade do DogTV, programetes curtos, de 2 a 5 minutos, são agrupados em blocos temáticos, com funções diferentes. Há atrações voltadas para o relaxamento dos cachorros, outras para estimulá-los, e até uma faixa para que enfrentem seus medos.

"Nos Estados Unidos, o feriado de 4 de julho [Dia da Independência] tem muitos fogos de artifício, que deixam os animais desesperados. Então, dois meses antes, começamos a colocar sons de fogos na programação, de forma bem suave, para que eles se acostumem. Também colocamos veterinários sorridentes, bonzinhos, de fala calma. Tudo para evitar o estresse posterior do cachorro."

Levi conta que, apesar de pensada exclusivamente para cães, a grade do DogTV tem feito sucesso também com outros animais. "Recebo vídeos de gatos que ficam vendo a televisão, além de pássaros, papagaios... Não é voltada para esses bichos, mas não faz mal nenhum. Mesmo humanos, quando querem dar aquela relaxada, podem curtir a programação com seus pets. Tem um efeito tranquilizante."

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