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Memória da TV

Silvio Santos careca, ator enterrado vivo e mais: As lendas urbanas da TV brasileira

Reprodução/TV Globo

Cid Moreira na bancada do Jornal Nacional

Cid Moreira na bancada do Jornal Nacional; ex-âncora diz que apresentou apenas uma vez de bermuda

THELL DE CASTRO

Publicado em 15/9/2019 - 8h03

Silvio Santos careca, ator enterrado vivo e Cid Moreira de bermuda na bancada do Jornal Nacional são algumas das histórias da TV brasileira que se tornaram populares com o passar dos anos, mas não passam de lendas urbanas. Os bastidores mexem tanto com o imaginário do público que uma confusão logo no primeiro dia de funcionamento da televisão no Brasil ganhou status de verdade, mas há quem garanta que ela nunca aconteceu.

Em 18 de setembro de 1950, Assis Chateaubriand (1892-1968) teria quebrado uma garrafa de champagne numa das duas câmeras da TV Tupi durante a inauguração da emissora. Além disso, muita gente fala que, após o espetáculo inaugural, a equipe percebeu que não havia preparado nada para colocar no ar no dia seguinte.

Assis Chateaubriand (Foto: Reprodução)

Então diretor artístico do primeiro canal brasileiro, Cassiano Gabus Mendes (1929-1993) jurava que nada disso era verdade. "É tudo invenção do Lima Duarte. Como ele é muito engraçado, as pessoas acabavam se convencendo", declarou em 1993. De acordo com o profissional, a emissora contava com grade de programação para três semanas e seu proprietário não seria louco de danificar um equipamento importado caríssimo em plena inauguração.

Silvio Santos careca em montagem da Melodias

Alguns anos depois, em 1971, surgiu outra história: Silvio Santos, então no auge como animador de auditório nos domingos da Globo, seria careca. A revista Melodias, inclusive, publicou uma foto exclusiva de Silvio dessa forma.

Mas tudo não passou de uma montagem, destinada a salvar a publicação, que vivia uma crise financeira. O veículo era dirigido por Plácido Manaia Nunes (1934-2007), criador do Troféu Imprensa e amigo de longa data do apresentador. O mito sobre os cabelos de Silvio permanece até os dias atuais, e foi revivido, há alguns anos, quando Maisa Silva puxou a suposta peruca do apresentador.

Pouco depois disso, em 18 de agosto de 1972, morria Sérgio Cardoso (1925-1972), um dos principais nomes do teatro e da televisão naquela época. Ele tinha 47 anos e sofreu um ataque cardíaco. A morte do ator, que vivia o protagonista da novela O Primeiro Amor, da Globo, comoveu o Brasil. Mais de 15 mil pessoas compareceram ao seu enterro, no Rio de Janeiro.

Sérgio Cardoso: boato dizia que ele foi enterrado vivo

Surgiu um boato, repercutido em toda a mídia brasileira, de que Cardoso sofria de catalepsia, uma doença rara que deixa os membros rígidos por horas, como se a pessoa estivesse morta. Por causa disso, o ator teria sido enterrado vivo. A família sempre desmentiu essa história e garantiu que ele morreu de ataque cardíaco. O caixão, inclusive, nunca teria sido aberto --outra versão da história dizia que o corpo de Cardoso estava virado de bruços, com arranhões no rosto.

"Ninguém tem dúvida, nem os médicos, nem a família. O resto do público eu espero que não tenha mais", disparou a atriz Nydia Licia (1926-2015), esposa do ator, em entrevista ao Fantástico, em 1979.

Cid Moreira de bermuda

Lendário apresentador do Jornal Nacional entre 1969 e 1996, Cid Moreira aparecia diariamente na televisão de paletó, mas usaria bermuda por trás da bancada. Essa é outra história frequentemente difundida pelo público e pelos meios de comunicação, inclusive programas humorísticos, nos anos 1980 e 1990.

Cid jura que isso aconteceu somente uma vez, durante o Carnaval. "Me atrasei por causa de um temporal e não deu tempo de passar na minha casa para me compor. Então fui daquele jeito e só usei o paletó que tinha lá no armário. Camisa, gravata e tal. Foi um sufoco. Até hoje eu sonho com isso", declarou o locutor recentemente em vídeo publicado no Instagram.

Outra lenda urbana da televisão brasileira é mais "recente". Em 11 de setembro de 2001, o plantão da Globo informando que o primeiro avião bateu no World Trade Center teria interrompido um dos principais momentos do desenho Dragon Ball Z.

Apesar de muita gente jurar que o fato é verdadeiro --o que é conhecido como "efeito Mandela", quando um grupo de pessoas tem certeza de algo, mas não passa de uma memória falsa --, o desenho não era exibido no momento do acontecimento.

De acordo com relatórios do Ibope da época, descobertos pelo jornalista Diogo Cavalcante, de Recife, a Globo exibia outra animação: Garrafinha. Dragon Ball era exibido diariamente após às 11h, e o primeiro plantão foi ao ar às 10h.


THELL DE CASTROé jornalista, editor do site TV História e autor do livro Dicionário da Televisão Brasileira. Siga no Twitter: @thelldecastro

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