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Record erra ao fingir jornalismo em novela, criticam especialistas

Reprodução/TV Record

A repórter Mariana Leão finge cobrir uma briga de neonazistas na novela Vitória, da Record - Reprodução/TV Record

A repórter Mariana Leão finge cobrir uma briga de neonazistas na novela Vitória, da Record

PAULO PACHECO

Publicado em 28/7/2014 - 12h02
Atualizado em 29/7/2014 - 7h01

A Record está usando o jornalismo, carro-chefe de sua programação, para alavancar novelas e enlatados. Em Vitória, uma repórter fingiu cobrir uma briga de neonazistas e dois personagens interpretaram uma falsa entrevista no Hoje em Dia, programa de variedades. Marcelo Rezende, maior audiência diária da emissora, narrou a chamada de um filme como se fosse um crime policial. Para especialistas, a mistura feita pela Record presta um desserviço ao jornalismo.

Na última quarta-feira (23), a repórter Mariana Leão interpretou ela mesma em Vitória e cobriu o ataque de neonazistas, que destruíram o bar de Laiza (Aline Borges) durante sua inauguração. Na cena, a marca d'água indicava "ao vivo" e a repórter apareceu com o microfone da Record, como se isso convencesse o telespectador de que a interpretação era semelhante à realidade.

"Estamos registrando o ataque violento de neonazistas no Laiza's Bar. O racismo, o preconceito, e sobretudo a violência deste grupo tem que ser combatida! São marginais que merecem cadeia! Corta, vamos, vamos", gritou a repórter da Record, que saiu correndo. Assista aqui.

No capítulo de sexta (25), a Record criou um falso Hoje em Dia, programa matinal que mistura jornalismo e entretenimento, para abordar o neonazismo. Os apresentadores Celso Zucatelli, Edu Guedes e Chris Flores viraram personagens e entrevistaram Laíza (Aline Borges) e Mossoró (Ricky Tavares), também com a marca d'água de "ao vivo" para dar maior legitimidade à cena. Assista neste link.

Filme vira crime com Marcelo Rezende

Marcelo Rezende anuncia filme da Super Tela exibido na última quinta (Reprodução/TV Record)

Com mais de 16 horas diárias de jornalismo ao vivo, seja em telejornais seja em programas de variedades, a Record apelou a Marcelo Rezende, sua maior audiência diária com o Cidade Alerta, para narrar a chamada do filme Ruas Sangrentas - O Acerto Final (2005), exibido na última quinta (24). Em tom de crime policial, como faz no jornalístico sensacionalista, o jornalista contou a sinopse do longa. Assista aqui.

É a segunda vez que a Record usa Rezende como porta-voz da programação. Em janeiro, contou a história de Breaking Bad dentro do Cidade Alerta como se fosse um caso real.

Falso jornalismo não é cross media

O diálogo entre dois produtos da mesma emissora (o chamado cross media) é comum nas novelas. Fátima Bernardes, Fausto Silva e Luciano Huck já participaram de tramas da Globo. Até Silvio Santos, no SBT, fingiu apresentar o Roda a Roda em um folhetim adaptado por sua mulher, Íris Abravanel.

A inserção de jornalismo em Vitória, entretanto, é diferente de um cross media e uma atitude equivocada, na opinião de Wagner Belmonte, professor de jornalismo da Fapcom (Faculdade Paulus de Tecnologia e Comunicação).

"Toda fusão editorial que envolva o jornalismo naquilo que não é o jornalismo levanta dubiedades. Na verdade, não acho que seja um cross media, e sim uma fusão entre o comercial e o editorial, entre o entretenimento e a informação. É preciso refletir sobre o ônus e o bônus desta prática equivocada", critica Belmonte.

Para Laurindo Lalo Leal Filho, professor de Jornalismo da ECA-USP (Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo), há um alargamento das fronteiras entre jornalismo e entretenimento na televisão brasileira, exacerbado pela guerra por audiência. Os exemplos da Record, na visão dele, descaracterizm a atividade jornalística

"[O uso do jornalismo no entretenimento] é um desserviço para a informação e para o jornalismo de TV, que vem sendo deteriorado nos últimos anos. Diminui o caráter de seriedade da notícia e desqualifica a informação", opina Lalo Leal.


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