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Memória da TV

Primeiro gato estrela da Globo, Zé Roberto ganhava cachê e tomava calmante

Reprodução/TV Globo

Célia Biar em cena de Estúpido Cupido (1976): atriz ficou conhecida como 'a mulher do gato' - Reprodução/TV Globo

Célia Biar em cena de Estúpido Cupido (1976): atriz ficou conhecida como 'a mulher do gato'

DANIEL CASTRO

Publicado em 21/11/2017 - 7h17

Muito antes de Priscila, a cachorra apresentadora do infantil TV Colosso, nos anos 1990, e do Louro José de Ana Maria Braga, a Globo teve em um gato a sua primeira estrela do mundo animal. Zé Roberto acompanhava a atriz Célia Biar na apresentação da primeira sessão de filmes da emissora, em 1966. Fez tanto sucesso que virou marchinha de Carnaval. Gato de carne e osso, ele ganhava cachê e tomava calmante para não agredir Célia Biar, ao vivo.

Na verdade, houve mais de um Zé Roberto. "A dona do gato, achando que era a empresária do Garfield, veio logo pedir aumento de cachê e tivemos que trocar de gato", lembra seu criador, Walter Clark, o primeiro grande executivo da Globo, no livro O Campeão de Audiência, escrito por Gabriel Prioli.

"O substituto, coitado, sofreu muito, pois a Célia tinha horror a gatos e, para fazer a cena, o contrarregra tinha de dar calmantes ao bichano. Uma pequena maldade com o pobrezinho. Mas a 'mulher do gato' ficou famosíssima no Rio, todo mundo comentava. E era uma solução barata, feita ao vivo, com cachê apenas para dois artistas: ela e o gato", conta Clark.

O gato de pelos brancos não tinha de fazer nada a não ser emprestar um ar chique à apresentadora da sessão de filmes _a primeira Sessão das Dez, aliás. Como nenhum filme era inédito, Clark pegou Célia, "com aquele jeito fresco dela", deu-lhe uma piteira e colocou Zé Roberto no colo. 

Célia Biar com Zé Roberto no único registro do gato

"Ela virou uma apresentadora chiquérrima, uma dondoca que estava em casa com o espectador, preparando-se para ver o filme. Dava lá umas informações, fazia o charme e o filme rolava", escreveu em O Campeão de Audiência.

 Com Célia Biar e seu gato, ainda no primeiro ano de exisitência, que a Globo descobriu o poder das reprises _muito antes de Silvio Santos.

"Foi com a experiência de selecionar os filmes para essa sessão que descobri o poder de O Corcunda de Notre Dame. Assim como o Silvio Santos, por algum tempo, usou filmes de terror para tirar a audiência da Globo, descobri que O Corcunda de Notre Dame estava no pacote de filmes que a Globo tinha comprado. Ele já havia passado umas três vezes, com audiência sempre abaixo dos 20 pontos. Mas, certa noite, programei-o na Sessão das Dez, com a Célia e o gato, e deu 70 pontos. Um fenômeno. Repeti a dose mais duas vezes e ele arrebentou novamente", conta Clark.

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