Jornalismo e fé
Reprodução/Linkedin/Facebook
A pranaterapeuta Elizabeth Ribeiro, que fez trabalho na GloboNews, e o guru Choa Kok Sui
DANIEL CASTRO
Publicado em 3/9/2015 - 6h26
Os jornalistas que trabalham na GloboNews, canal de notícias da Globo, se depararam com uma cena inédita no último sábado (29). Encontraram na Redação, um ambiente que preza pela objetividade, uma esotérica em plena sessão de "faxina espiritual". O objetivo seria eliminar energias ruins que estariam travando o crescimento do canal e afastar a crise que ameaça os meios de comunicação com demissões e cortes de despesas. O apelo à fé deixou jornalistas da Globo indignados.
A pranaterapeuta Elizabeth Ribeiro confirma ter realizado a "limpeza energética" na GloboNews. Sem saber que conversava com um jornalista que produzia uma reportagem, Beth, como é chamada, contou que "harmonizou o ambiente [da Redação do canal], que estava muito denso".
Presidente do Instituto Pranaterapia Botafogo (IPB), no Rio, Beth foi contratada pelo chefe de Redação da GloboNews, Carlos Jardim, que pagou do próprio bolso. A especialista diz que cobra R$ 350 por metro quadrado pelo "trabalho de limpeza e energização" de grandes ambientes corporativos.
A pranaterapia, de acordo com o site do IPB, "é um sistema altamente desenvolvido de medicina energética que, por meio da sensibilização das mãos, avalia o campo energético do indivíduo (...). Após a detecção de alguma anormalidade energética, retira-se a energia que está causando o dano e, em seguida, procede-se à energização para acelerar as reações bioquímicas envolvidas no processo de recuperação ou equilíbrio natural do corpo".
Elizabeth Ribeiro segue técnicas desenvolvidas pelo guru filipino Choa Kok Sui, que popularizou a "cura prânica".
"É uma limpeza energética, de frequências de energia", simplifica Beth. Nas empresas, explica ela, as pessoas, que são corpos de energia, emitem "formas de pensamento muito intensas" e fazem "coisas" ficarem estagnadas, emperrarem o desenvolvimento. A pranaterapia, defende Beth, elimina essas energias negativas e deixa as pessoas mais satisfeitas, o que aumenta a produtividade.
"Na GloboNews, eu mexi no ambiente, mas o resultado será nas pessoas", diz. Segundo ela, os jornalistas do canal "ficaram meio assim" quando a viram em ação. "Mas, no final, as pessoas que estavam lá ficaram numa energia só".
Para Beth,o ideal seria o trabalho na GloboNews continuar, mas isso está indefinido. "Agora vamos ver como as coisas vão continuar".
A Comunicação da Globo diz que a emissora não foi infomada previamente nem pagou pelos serviços de Elizabeth Ribeiro. "A Globo não comenta as crenças individuais de seus funcionários. Da mesma forma, não comenta as razões pessoais dos funcionários que decidiram contratar tais serviços", diz. A emissora nega que a GloboNews vá sofrer cortes.
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