OUTRO LADO
Helkin René Diaz/A River Below
Richard Rasmussen nada com boto rosa em cena do documentário A River Below
O apresentador e biólogo Richard Rasmussen nega que tenha pago a pescadores para que matassem um boto rosa em frente às câmeras e, dessa forma, conseguisse imagens chocantes que mudaram uma lei ambiental, como acusa o documentário A River Below. "Eu nunca pagaria ou mesmo participaria do sacrifício de qualquer animal", diz.
Diretamente da Etiópia, onde grava um episódio do programa Mundo Selvagem, que apresenta no canal pago NatGeo, Rasmussen respondeu às perguntas do Notícias da TV. Confira a entrevista na íntegra:
Você chegou a assistir ao documentário A River Below?
Não. Ainda não tive acesso ao documentário, pois ele ainda não está disponível no Brasil.
O longa afirma que você pagou a pescadores de uma vila amazônica para matar a boto rosa grávida, sob condição de anonimato, para que essas imagens chocantes ajudassem a pressionar o governo a publicar a lei que proíbe essa prática. O que de fato aconteceu?
Eu nunca pagaria ou mesmo participaria do sacrifício de qualquer animal. As únicas coisas que paguei foram minhas despesas no local com alimentação e com os deslocamentos de canoa.
A matança dos botos é monitorada há anos por ambientalistas e já estava sendo investigada pelo Ministério Público. Minha intenção foi alertar o grande público que a matança de botos é uma realidade dura e cruel. Vale lembrar que eu não estava ali como um apresentador de televisão e sim como um associado da Ampa (Associação dos Amigos do Peixe-Boi), instituição de que faço parte desde 2015.
A Ampa trabalha em parceria com o Inpa (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia) no manejo e proteção dos mamíferos aquáticos da Amazônia, entre eles, o boto vermelho. Aliás, a própria Ampa já vinha acompanhando a pesca do boto nesta e em outras comunidades da região.
Quem tiver acesso às imagens perceberá a prática dos pescadores na captura e limpeza do boto. Não foi algo montado e também não era a primeira vez que aquilo estava ocorrendo.
Sentiu-se enganado ou traído pelo diretor do documentário, Mark Grieco, por te procurar com uma intenção e depois revelar que estava conduzindo outra investigação à parte?
Não há sentimento de traição. Porém, não gostei quando colocaram em dúvida minha integridade afirmando que eu estava pagando para que um animal fosse morto.
Quando fui procurado pelo diretor do documentário, eu quis colaborar cedendo o material que já havia captado e dando mais informações a ele. Entendi que o trabalho que ele estava realizando era uma ferramenta essencial para mostrar ao mundo o que estava ocorrendo com os botos na Amazônia.
Apenas questiono o apelo sensacionalista que foi incluído ao documentário. O roteiro junta um apresentador de TV, considerado celebridade, animais indefesos sendo mortos por comunidades pobres do nosso país e imagens fortes, reais, de um crime praticado há anos. Junta-se a isso uma boa dose de sensacionalismo travestida de busca por respostas e pronto: está completa a fórmula para conseguir uma situação polêmica.
Eu não abriria minha casa nem mesmo daria entrevista para o documentarista se soubesse que a intenção real não era simplesmente a de alertar o problema que acontece naquela região.
Denunciar a matança de botos, para mim, é cumprir o papel de um defensor da natureza. Portanto, penso que a vida de botos vale muito mais do que um apelo para aumentar qualquer bilheteria.
Depois, no próprio documentário, você chega a ir ao vilarejo conversar com os pescadores. O que o motivou a fazer isso?
Simplesmente a transparência. Eu nunca pretendi prejudicar a comunidade e, por isso, precisava entender por que estavam “me jurando de morte”, utilizando as palavras do diretor do documentário. Eu sempre tive a confiança das comunidades por onde passei. No Brasil e no exterior, sempre busquei mostrar as tradições e a vida dura de gente que vive, muitas vezes, isolada. Minha intenção, única e exclusiva, foi esclarecer os fatos. Acredito muito em alternativas viáveis que podem continuar mantendo essas comunidades, mas não concordo com a matança de animais para subsidiá-las.
Minha ida ao vilarejo foi para um olho no olho mesmo. Eu queria entender por que eles diziam que eu havia dado dinheiro para que matassem um boto. Eles, obviamente, sabiam que isso não era uma verdade. Eu estava diante de pescadores assustados com a repercussão da pesca dos botos e, certamente, se posicionaram de forma que não fossem vistos como criminosos, mas sim como pessoas que dependem da pesca da piracatinga para sobreviver.
Esclarecer toda a questão me pareceu ético e mais que isso, eu quis levar a eles o entendimento da importância de preservar os botos, fazê-los entender que o animal vale muito mais vivo do que morto e, claro, freando a pesca da piracatinga, chamar a atenção das autoridades para criar possibilidades viáveis e sustentáveis para as comunidades ribeirinhas sobreviverem sem precisar utilizar a carne do boto.
Sabemos pela sua trajetória televisiva que você é um cara obviamente apaixonado pela natureza, pelos animais. Acha que, em casos como esses, os fins justificam os meios, já que a moratória acabou publicada?
Não acredito que os fins justifiquem os meios. A proibição da pesca da piracatinga era necessária para tirar o boto da mira dos arpões. Os próprios pescadores sabem disso. Frear essa matança não é um desejo só meu. É uma luta de todos aqueles que visam a proteção das espécies de nosso planeta.
Importante salientar também que nunca quis ibope nenhum com essa história, tanto que nas imagens divulgadas pelo Fantástico da Rede Globo, eu pedi para que as imagens não fossem creditas a mim, mas sim a Ampa. Sou biólogo e apresentador de TV há anos e todos os meus trabalhos sempre tiveram como foco principal a proteção e conservação da vida selvagem.
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