Análise | Jornalismo
Reprodução/TV Globo
Sandra Annenberg durante o Vídeo Show de ontem (24), em que a Globo imitou a Record
DANIEL CASTRO
Publicado em 24/6/2015 - 19h38
Atualizado em 25/6/2015 - 6h38
A Globo, quem diria, teve ontem (24) um dia de Record. Incomodada com o crescimento da concorrente no Ibope, se viu obrigada a alterar sua grade de programação. Sacrificou a Sessão da Tarde e exibiu um Vídeo Show com mais de duas horas e meia de duração para transmitir, basicamente, uma única informação relevante: o cantor sertanejo Cristiano Araújo morreu precocemente, aos 29 anos, em um acidente de carro em Goiânia _cidade, aliás, em que rede tem um dos piores desempenhos em todo o país.
O Vídeo Show "especial" fez aquilo que a Record já ficou craque, virou referência: uma cobertura extensiva, repetitiva, baseada no blá-blá-blá e em imagens de arquivo e quase nada de informação nova. O tempo todo entravam repórteres a mostrar nada além do local onde o corpo seria velado. Sem informação, a emissora investiu na repercussão, com cantores sertanejos em imagens precárias de internet lamentando a perda e exaltando o caráter do artista morto tragicamente.
Parte do elenco foi mobilizado. A atriz Roberta Rodrigues deu longa entrevista ao vivo para lembrar do dia em que... dividiu uma cena de Salve Jorge (2012) com o então emergente Cristiano Araújo. Ana Maria Braga apareceu ao vivo contando como soube da triste notícia pouco antes de entrar no ar com o Mais Você. E Fátima Bernardes se desculpou por ter confundido Cristiano Araújo com Cristiano Ronaldo.
Mas nada foi mais constrangedor, do ponto de vista jornalístico, do que Sandra Annenberg, no cenário do Jornal Hoje, tendo que informar que o Vila Nova Futebol Clube, time do coração do cantor, enviou condolências à família. Parem as máquinas.
Obviamente, a cobertura da Globo foi maior do que a relevância do fato _sem querer aqui desmerecer a importância de Cristiano Araújo no cenário musical nacional. Nos bastidores, não foram poucos os jornalistas da própria Globo que torceram o nariz para a cobertura do Vídeo Show, felizmente, para eles, um programa de entretenimento, não um jornalístico.
Os números do Ibope, ainda preliminares, explicam o esforço e espaço generoso da Globo. De manhã, a emissora viu sua liderança ameaçada pela Record _que repetia o tempo todo as mesmas informações sobre o assunto. Das 7h às 12h, a Globo marcou 8,4 pontos na prévia, apenas 1,7 a mais do que a concorrente, quando o normal é quase o dobro de diferença.
Com o Vídeo Show "especial", o jogo virou para a Globo. Exibido entre 14h02 e 16h38, o programa fechou com 11,4 pontos preliminares, contra 6,5 da Record.
Há que se considerar, contudo, que a Globo conseguiu ser melhor do que a Record mesmo quando teve que ser a Record. Sua cobertura vespertina da morte de Cristiano Araújo foi repetitiva e baseada em informações quase sempre irrelevantes, mas teve mais glamour.
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