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Memória da TV

Morte de protagonista tumultuou final de novela da Globo em 1983

Fotos: Memória/Globo

Jardel Filho beija Irene Ravache em cena de Sol de Verão, novela que teve final tumultuado - Fotos: Memória/Globo

Jardel Filho beija Irene Ravache em cena de Sol de Verão, novela que teve final tumultuado

THELL DE CASTRO

Publicado em 14/9/2014 - 8h12

A morte aos 55 anos de Jardel Filho, protagonista de Sol de Verão, abalou o autor Manoel Carlos e o elenco da novela das oito da Globo. No dia 19 de fevereiro de 1983, o ator sofreu um ataque cardíaco em casa e não resistiu. Destacada no Jornal Nacional, a notícia caiu como uma bomba, tumultuando o desfecho da produção. O autor não conseguiu terminar a novela, que só foi em frente porque uma pesquisa mostrou que os telespectadores queriam ver seu final. “Por mim, a novela acabava agora. Será 'dificilíssimo' entrar no cenário sem o Jardel”, disse na época o diretor Jorge Fernando ao jornal O Globo.

Exibida entre 11 de outubro de 1982 e 19 de março de 1983, Sol de Verão contava a história de Rachel (Irene Ravache), que decidiu se separar do marido, Virgílio (Cecil Thiré) para buscar a verdadeira felicidade. Ela encontra o amor nos braços do mecânico Heitor, personagem de Jardel Filho, que morava num antigo sobrado com um grande jardim, onde muitos dos personagens se encontravam.

A Globo encomendou uma pesquisa urgente para ouvir a opinião do público se continuaria ou não com a novela: 55% dos entrevistados acharam que a trama deveria ir até o fim.

“O sentimento de dor é geral. Mas em termos práticos, até agora, recolhemos as seguintes opiniões: 14 pessoas sugeriram que Heitor vá para a Holanda [o sonho do personagem era se mudar para aquele país] e de lá escreva uma carta para a irmã dizendo que nunca mais voltará ao Brasil; 15 acham que a melhor solução é suspender a novela; e 12 pediram para que Heitor tenha uma morte bonita na novela. Mas a maioria parece acreditar que uma substituição é a melhor solução”, disse Júlia Estrella, então chefe do centro de atendimento de telespectadores da emissora, também ao jornal O Globo.

Efeitos colaterais

José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, então vice-presidente de Operações da Globo, anunciou que a novela não terminaria imediatamente, mas teria algumas mudanças.

O autor Manoel Carlos, muito amigo de Jardel, alegou se sentir impossibilitado de concluir a trama, passando o bastão para Lauro César Muniz e Gianfrancesco Guarnieri, que, além de integrar o elenco, também já era um experiente dramaturgo.

Paulo Autran, Juca de Oliveira, Paulo Goulart e Carlos Eduardo Dolabella foram citados como possíveis substitutos de Jardel, mas a emissora preferiu simplesmente sumir com o personagem. “Sem missa, sem enterro, sem choro e sem vela”, decretou Boni.

Jardel Filho e Irene Ravache: personagem do ator simplesmente desapareceu de Sol de Verão

Ao final da exibição do capítulo 120, o último com participação do ator, o elenco prestou uma homenagem, dando depoimentos emocionados.

No capítulo seguinte, um texto foi lido por Guarnieri, que tinha lágrimas nos olhos: “Peço a vocês que me vejam não como um dos atores, mas como todos os atores do elenco desta novela. Eu peço a todos um instante de reflexão sobre esse velho ofício de esconder a própria vida, sacrificá-la mesmo, em benefício de outras, fictícias, mas que acabam por igualar-se à verdadeira, tão bem são elas vividas. E é por isso que o homem-ator tem que ter muitas vidas dentro de si. É por isso que quando morreu um ator, morrem tantas pessoas com ele. Quando Cacilda Becker morreu, Carlos Drummond de Andrade escreveu: ‘Morreram Cacilda Becker’. Assim deve ser dito sempre. Agora... morreram Jardel Filho”.

Um fato curioso foi que, numa das sequências da novela, o personagem de Jardel disse: “Às vezes eu fico pensando... Pra onde será que vai tudo o que uma pessoa sabe quando ela morre? É a cabeça de um homem. Tantos planos, conhecimentos. Pra onde vai tudo isso que ele sabia?”, questionou.

Em outra cena, dias antes da morte do ator, Irene (Beatriz Lyra), disse para o irmão se cuidar senão ele iria morrer antes do dono do sobrado, com quem brigava constantemente.

Na retomada da novela, a primeira cena escrita por Muniz mostra um trator destruindo o famoso jardim da casa de Heitor. Abel (Tony Ramos), o surdo-mudo que cuidava do local, colocou uma placa no lugar com o nome do mecânico. Alguns dias depois, o jardim foi reconstruído pelos personagens, simbolizando a união que houve para superação da tragédia.

Rachel, que teria um final feliz com seu par romântico na Holanda, descobriu esperar um filho dele e disse que era como se fosse um pedaço de Heitor que ainda estivesse vivo dentro dela, sugerindo a morte do mecânico.

Audiência subiu na reta final

A gravação dos últimos capítulos foi tumultuada, com textos chegando em cima da hora e edição das cenas pouco antes da exibição. Apesar de tudo, com a repercussão da morte do ator, a audiência cresceu.

Como Louco Amor, de Gilberto Braga, que seria a novela seguinte, ainda não estava pronta para ir ao ar, a Globo exibiu uma versão compacta de O Casarão, de 1976, do mesmo Lauro César Muniz, entre 21 de março e 8 de abril de 1983, para preencher o espaço entre as duas tramas.

Não foi, no entanto, a primeira vez que o protagonista morreu durante uma novela da Globo. Em 1972, faltando 28 capítulos para terminar O Primeiro Amor, o consagrado ator Sérgio Cardoso morreu, também de ataque cardíaco, aos 47 anos. Naquela ocasião, a emissora optou por substituir o personagem, entrando em seu lugar Leonardo Villar.


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