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Entrevista

'Minha função é criar problemas', diz 'serial killer' Bruno Gagliasso

AgNews

Bruno Gagliasso caminha no Rio de Janeiro com o visual que aparecerá em Dupla Identidade - AgNews

Bruno Gagliasso caminha no Rio de Janeiro com o visual que aparecerá em Dupla Identidade

DANIEL CASTRO

Publicado em 8/7/2014 - 15h22
Atualizado em 9/7/2014 - 6h31

Aos 32 anos, Bruno Gagliasso já pode escolher o que fazer na Globo. Disputadíssimo por autores e diretores, ele descartou convites para as próximas novelas das nove (Império) e das sete (Alto Astral) para fazer um serial killer em Dupla Identidade, série escrita por Glória Perez, com 12 episódios que não lhe darão a mesma visibilidade nem os cachês para comerciais e eventos que os folhetins proporcionam. 

"Sempre fui fascinado por séries. Eu gosto de personagens intensos, eu gosto de personagens que me façam aprender, que me façam estudar, que façam as pessoas discutir. Sabe, eu gosto de problematizar! Eu gosto de personagens que criam problemas", justifica a escolha.

Gagliasso, que já protagonizou um beijo gay censurado em América (2005) e viveu um esquizofrênico em Caminho das Índias (2009), se preparou para interpretar um psicopata vendo séries como The Fall (2013) e filmes tais quais Taxi Driver (1976). No ar a partir de setembro, Dupla Identidade está sendo toda filmada em 4K, que traz quatro vezes a resolução da alta definição, numa rotina que parece a de cinema, com fotografia apurada e cinco cenas por dia.

Em um intervalo de filmagem, Gagliasso concedeu a seguinte entrevista ao Notícias da TV, por telefone:

Notícias da TV - Fala um pouco sobre o seu personagem.

Bruno Gagliasso - Ele se chama Edu. Edu é um serial killer. Ele acha que está acima de tudo e de todos. Como todo psicopata, acredita ser um deus e que está acima de qualquer um. Eu estou descobrindo ele, e vai ser assim até o final, sempre descobrindo alguma coisa nova.

Notícias da TV - Ele é aquele serial killer dissimulado e insuspeito?

Gagliasso - Esse é o tesão. Ele não é nada suspeito. Ele é como um psicopata. A gente conhece vários psicopatas que a gente só acredita serem psicopatas quando eles cometem alguma barbaridade. Porque a psicopatia tem vários graus: a leve, a moderada e a pesada. Geralmente, a grave, que é a pesada, são os verdadeiros psicopatas, e o Edu se enquadra nessa. Ele vive uma vida normal, como a de qualquer um. Ele é advogado, estuda psicologia e começa a trabalhar no escritório de um senador, e quem faz o senador é o Aderbal [Freire-Filho].

E ele está acima de qualquer suspeita, ninguém desconfia dele. Ele é um exemplo de ser humano, e esse é o tesão desse personagem: ele não fala hora nenhuma que é um psicopata. Então, ele se adequa a cada ambiente, como se fosse um camaleão. Ele fala o que você precisa ouvir, ele fala o que a Ray [personagem de Débora Falabella, namorada de Edu] quer ouvir, e ela não desconfia de nada. Ele fala o que o senador quer ouvir, ele se infiltra na polícia através do senador e, como estudante de psicologia, querendo entender um pouco os serial killers. Ele joga com cada um com quem ele contracena.

Notícias da TV - O senador, então, abre algumas portas para ele?

Gagliasso - Totalmente, ele vai em busca do que ele quer. E, se ele tiver que passar por cima de qualquer um, ele passa.

Detalhe do mapa de elenco de Dupla Identidade, em que aparece ao lado de Debora Falabella

Notícias da TV -  E por que ele mata? São crimes sexuais?

Gagliasso - Poder. Ele é um psicopata mesmo, ele mata porque ele se sente superior, porque ele se sente deus.

Notícias da TV - No seu Instagram, você revelou que estava revendo The Fall. Ele é meio parecido com o psicopata The Fall?

Gagliasso - Na verdade, eu acho que os psicopatas se parecem muito, apesar de serem distantes e diferentes. Eu sou viciado em séries. Eu vi todas. Eu vi Dexter, The Fall, The Following [2013]... E The Fall serviu de inspiração, mas não foi só ela. É uma das inspirações. Mas eu acho que a minha inspiração maior sem dúvida foi o noticiário, foi a realidade, foram os documentários que eu vi. O assassino BTK [codinome de Dennis Lynn Rader], o Palhaço [John Wayne Gacy], os personagens reais.

Notícias da TV - Você também reviu Taxi Driver, de Martin Scorsese.

Gagliasso - Eu revi tudo! Cara, eu gosto muito de inspiração. Eu vejo esses grandes atores, grandes diretores, grandes filmes como referência. Inspiração para poder criar, não copiar. E ter referências de gênios é fundamental.

Notícias da TV - Como estão as gravações?

Gagliasso - Já começamos! A gente fez uma preparação de 45 dias numa sala de ensaios, estudando, fazendo leitura de mesa. Eu, Débora, Luana [Piovanni], Marcello [Novaes], o elenco todo. A gente está com o Sérgio Pena também, que está nos ajudando na preparação.

É um trabalho bem diferente do que a gente costuma fazer em novela, pois a gente está tendo tempo de estudo, de preparação, de leitura. É tão gostoso fazer isso numa televisão. A gente geralmente faz no cinema, né?

Notícias da TV - Em março, no finalzinho de Joia Rara, você tinha algumas alternativas. Uma delas era um personagem em Império, outra era o mocinho de Alto Astral, e você optou por esse caminho. Por que esse trabalho? Em que ele te seduziu mais? Você queria dar um tempo de mocinho?

Gagliasso - Foi bom você ter tocado nesse assunto. Muitas vezes o que sai na imprensa sai como uma verdade absoluta. “Ah, Bruno vai fazer Império, vai fazer sei lá o que”... Não existe essa verdade absoluta. Essa é uma decisão minha em conjunto com a Globo. Essa decisão cabe a nós, é uma decisão nossa. Não é “Bruno quer fazer isso ou não quer fazer aquilo”. E a gente optou por fazer Dupla Identidade, que é um personagem que eu gosto de fazer.

Como eu te falei, sempre fui fascinado por séries. Eu gosto de personagens intensos, eu gosto de personagens que me façam aprender, que me façam estudar, que façam as pessoas discutir. Sabe, eu gosto de problematizar! Eu gosto de personagens que criam problemas. E foi natural, foi uma coisa completamente natural. Eu, antes de fazer Joia Rara, eu fiz um vilão [em Cordel Encantado], antes ainda eu fiz um mocinho. Por que não agora fazer um serial killer? Foi natural isso. O que sai na imprensa como decisão na verdade está em discussão. A única coisa certa mesmo é que eu ia fazer Dupla Identidade.

Notícias da TV - E esse personagem te desafiou mais?

Gagliasso - Eu gosto disso. Você acompanha o meu trabalho. Eu não posso ir na contramão do que me dá tesão de fazer. E a minha profissão é movida a paixão.

Caderno de estudos de Bruno Gagliasso para compor o serial killer Edu, de Dupla Identidade

Notícias da TV - No seu Instagram, você também fez uma homenagem a Marlon Brando. Ele fez parte da preparação para o personagem?

Gagliasso - Ele fez parte da minha preparação como ator em geral. Eu acho que ser um admirador de Marlon Brando, pegá-lo como referência, alimenta qualquer ator para qualquer personagem. O Marlon Brando era imprevisível, [John] Cassavetes também era assim. Eu gosto de atores e diretores assim, eu me alimento deles. Por isso que eu sou fã do Murilo Benício, do Wagner [Moura], do Johnny Depp, do Marlon Brando, do Cassavetes. Eu gosto disso, são eles que me inspiram. São imprevisíveis, você não sabe o que esperar. A cada trabalho, você fica pensando: “Nossa, o que será que eles vão fazer?”.

Notícias da TV - E depois da série, você já tem algum trabalho previsto?

Gagliasso - Bem, a gente acaba de filmar no final de outubro, aí eu tenho 15 dias pra me preparar e começo a filmar Jogos Clandestinos, em São Paulo, aliás! O filme é do Caio Cobra, o mesmo diretor de Sobrevivi ao Holocausto. Terminando Jogos Clandestinos, férias! Vou pra Fernando de Noronha!

Notícias da TV - E uma pergunta inevitável. Você fez o primeiro beijo gay da TV, que não foi ao ar. E no começo desse ano teve o Félix, depois teve as meninas de Em Família. O que você pensa diante de tudo isso? A TV evoluiu, os executivos evoluíram?

Gagliasso - Viva o amor! Isso já devia ter acontecido há muito tempo, desde lá atrás. E eu fico feliz, fico contente. Acho que é um grande passo que todos nós estamos dando. Eu me lembro que eu fui num programa (acho que é o da Fátima), e o psicanalista Francisco Daudt, da Veja, estava lá. Ele me fez essa pergunta e eu disse a mesma coisa. Fico muito feliz, a gente tinha que ter dado esse passo há muito tempo. Mas alguém perguntou: “Ah, e você acha que o público estaria preparado?”. E eu disse: Quem somos nós para julgarmos se o público está ou não está preparado? Eu me sentia preparado há muito tempo, e eu também sou público. E aí? Talvez a gente já estivesse preparado há muito mais tempo se o beijo já tivesse sido dado.

Notícias da TV - E colocando-se no lugar da emissora, você não ficaria preocupado com o público mais conservador?

Gagliasso - Eu acho que a gente tem que dar esse passo adiante. Tem até hoje esse público conservador, tem gente também que não gostou, não foi? Mas cabe a nós, artistas, quebrarmos esse tabu, e é por isso que eu sou contra a censura e a favor da arte e do amor. Porque eu gosto de questionar. A minha função social é essa: problematizar, e é isso que eu farei sempre através dos meus personagens.


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