Memória da TV
Reprodução/TV Globo
Cláudio Marzo (Marcelo) e Regina Duarte (Andréa) eram os protagonistas de Véu de Noiva (1969)
THELL DE CASTRO
Publicado em 10/11/2019 - 5h49
Há 50 anos, em 14 de outubro de 1969, a Rede Globo iniciava uma nova era para suas novelas, que perdura até os dias atuais. Na ocasião, a emissora estreava Véu de Noiva, de Janete Clair (1925-1983), primeira trama do canal com história moderna, aposentando os dramalhões rocambolescos da cubana Glória Magadan (1920-2001).
Pioneira em diversas inovações na televisão brasileira nas décadas seguintes, a Globo, neste caso, seguia a estratégia da Tupi, que exibiu Beto Rockfeller com grande sucesso desde o ano anterior. A trama de Bráulio Pedroso (1931-1990), estrelada por Luis Gustavo, é considerada o divisor de águas do gênero no Brasil, com temas atuais e diálogos coloquiais.
Até então, o canal, que estreou em 1965, exibia tramas como O Sheik de Agadir, A Rainha Louca, A Sombra de Rebeca e A Última Valsa. Apesar de algumas fazerem relativo sucesso, suas tramas não eram contemporâneas.
O Sheik de Agadir se passava na Arábia Saudita e na França; A Rainha Louca se desenvolvia durante as batalhas de Napoleão III (1808-1873); A Gata de Vison retratava a Chicago dos anos 1920; e A Última Valsa, acreditem, era situada na Áustria do século XIX. Faltavam elementos para que o público brasileiro pudesse se identificar na tela.
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Regina Duarte estreou na TV Globo em Véu de Noiva (1969) e virou a Namoradinha do Brasil
Em seu O Livro do Boni, José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, então mandachuva da emissora, contou como a iniciativa surgiu. "Assim que Beto [Rockfeller] começou, o Daniel Filho me trouxe a proposta de fazer uma novela moderna escrita por Janete Clair, que havia sido recusada por Glória Magadan várias vezes", contou.
Logo de cara, o tema causou estranheza. O protagonista masculino seria um piloto de carros de corrida. Boni protestou: "Daniel, não dá. Pela primeira vez Magadan estava certa. Automobilismo é coisa para homem, e o grande público de novela são as mulheres", explicou. "Não se assuste. O automobilismo é só pano de fundo. É uma novela romântica, muito romântica", devolveu o diretor.
Desconfiado, Boni levou a sinopse para casa e se surpreendeu, aprovando sua produção. Quanto ao automobilismo, na época, Emerson Fittipaldi iniciava uma trajetória de sucesso que culminaria em dois títulos de Fórmula 1 nos anos seguintes. Cláudio Marzo (1940-2015) foi o escolhido para viver o piloto Marcelo Montserrat.
Outro fato histórico de Véu de Noiva, que originalmente se chamaria Vende-se um Véu de Noiva, título utilizado pelo SBT em nova produção do texto, em 2009, foi a estreia de Regina Duarte na Globo, vinda da TV Excelsior. Contratada para reforçar o elenco e atrair a simpatia dos paulistas, a partir dali, participando de grandes produções, ela se tornaria a Namoradinha do Brasil.
A Globo fez questão de avisar ao público que suas novelas estavam mudando. Em anúncios nos principais jornais e revistas, enfatizou: "Em Véu de Noiva, tudo acontece como na vida real. A novela verdade".
"Além da modernidade do tema, Véu de Noiva apresentava níveis de produção até então nunca vistos em telenovelas. E tinha a vantagem de ter diálogos coloquiais, mas muito bem elaborados e distantes dos diálogos improvisados do Beto", destacou Boni em seu livro.
Outras inovações foram a criação de um trilha sonora com músicas especialmente compostas para a novela, com o inédito lançamento de um disco específico, e o encontro de personagens de Véu de Noiva e Verão Vermelho, outra trama exibida pela emissora na época, escrita por Dias Gomes (1922-1999), marido de Janete Clair.
A partir daí, Magadan deixou a emissora e o caminho foi aberto para a produção de grandes sucessos que marcaram a história da televisão brasileira, como Irmãos Coragem, sucessora de Véu de Noiva, e muitas outras.
THELL DE CASTROé jornalista, editor do site TV História e autor do livro Dicionário da Televisão Brasileira. Siga no Twitter: @thelldecastro
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