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30 ANOS DE EMISSORA

Globo manda afiliada demitir diretor por ação trabalhista de R$ 3,8 milhões

REPRODUÇÃO/VERDES MARES

Kaio Cézar (à esq.) e o diretor demitido, PC Norões, durante cobertura da Copa América na TV Verdes Mares, em 2015

Kaio Cézar (à esq.) e o diretor demitido, PC Norões, durante cobertura esportiva da TV Verdes Mares, em 2015

VINÍCIUS ANDRADE

Publicado em 14/11/2019 - 5h20

Processado por assédio moral em uma ação trabalhista de R$ 3,8 milhões, Paulo César Norões, diretor de relações institucionais do Sistema Verdes Mares, afiliada da Globo no Ceará, foi demitido na segunda (11) a pedido da matriz. A dispensa aconteceu um dia útil depois de audiência realizada no Tribunal Regional do Trabalho da 7º Região, em Fortaleza.

Funcionário da empresa desde 1989, o executivo é acusado de assédio moral por Kaio Cézar, ex-narrador da Verdes Mares, que pediu demissão ao vivo em uma edição do Globo Esporte local em fevereiro deste ano. Também são alvos da ação trabalhista a Globo, a TV Verdes Mares, a TV Diário e a Rádio Verdes Mares, empresas do grupo para as quais o jornalista prestou serviços durante 11 anos.

De acordo com fontes ouvidas pela reportagem, a ordem para que Norões fosse demitido partiu da própria Globo, que estava representada por advogados na audiência da última sexta (8). A orientação foi dada depois que a emissora matriz tomou conhecimento das provas de assédio moral apresentadas por Kaio.

O apresentador que pediu demissão confirma ao Notícias da TV que conseguiu testemunhas e provas para a sua denúncia: "Sei que ele foi demitido um dia útil depois de uma audiência na Justiça do Trabalho, onde apresentei muitas provas e indícios de tudo o que vivi, incluindo denúncias de outros profissionais".

"Não sei se foi a Globo que demitiu, talvez somente agora eles [Globo] tiveram conhecimento da gravidade do que vinha acontecendo", indica Kaio.

O processo tramita em segredo de Justiça, mas, na petição inicial de março, o narrador exigia o pagamento de verbas, como adicionais de viagem e integração de salário para serviços prestados para os canais esportivos de TV por assinatura do Grupo Globo. De acordo com o jornalista, a Globosat repassava o dinheiro para a Verdes Mares, que não o pagava.

Além disso, ele quer o reconhecimento de uma rescisão indireta do contrato de trabalho em razão do assédio moral sofrido, da redução salarial imposta e do não pagamento de verbas trabalhistas. Kaio ainda pede indenização por danos morais e danos existenciais, "em razão da extenuante jornada de trabalho".

Procurada, a Globo disse que a equipe do Sistema Verdes Mares é que deve se pronunciar sobre o caso. Já a afiliada, procurada insistentemente pela reportagem na quarta (13), não deu nenhum posicionamento até o fechamento deste texto.

Kaio Cézar durante apresentação do Globo Esporte: ele pediu demissão ao vivo, em fevereiro

Já foram realizadas duas audiências para julgar a ação trabalhista, a primeira em abril e outra no último dia 8. Uma terceira já está marcada, mas a data é mantida em sigilo. Kaio afirma que ficaria surpreso caso Norões pedisse desculpas a ele, o que ainda não aconteceu.

"Eu me surpreenderia muito positivamente se ele reconhecesse os erros graves que cometeu e pedisse desculpas. Mas aí é um problema dele com a própria consciência. O que eu posso dizer é que procuro não guardar mágoas. Quanto ao processo, independentemente do valor, eu quero tudo o que me é de direito. Nem mais nem menos. E é nesse sentido que a Justiça do Trabalho, acredito, existe", diz.

Após o pedido de demissão ao vivo e do processo trabalhista, o jornalista percebeu que "as portas das grandes emissoras de Fortaleza se fecharam", mas ele conseguiu recolocação profissional na web.

"Já foi mais difícil, até a gente descobrir que há vida fora [da Globo]. Permaneço trabalhando na área, graças ao poder da internet. Hoje tenho uma parceria do meu canal no YouTube com uma web rádio. Fazemos transmissões de jogos para uma rede de FMs e outras web rádios parceiras pelo interior do Ceará", explica o narrador.

Acusação de assédio moral

No dia seguinte à demissão, em 16 de fevereiro, Kaio Cézar publicou um texto em seu Facebook, no qual chamava Paulo César Norões de "arrogante" e dizia que nunca foi aceito "por ter raízes, convicções e personalidade extremamente opostas": "Lembro-me que um dia, no meio de uma reunião do Esporte, quando era nosso editor-chefe, mandou-me 'tomar no cu' por ter discordado dele".

"Depois de o diretor ter me xingado, sabe o que ele falou da minha família? No meio da Redação, disse gratuitamente: 'Esse é um doido, pega uma mulher que tem menino, vai lá e faz outro menino nela. É um doido'. Nem que eu fosse doido ele teria direito de falar isso. Nesse dia eu saí da Redação chorando, não falei nada com ele com medo de perder meu emprego. Simplesmente por isso", confessou o narrador.

Kaio Cézar é casado com a também jornalista Mirela Forte, com quem tem um filho de dois anos, e uma enteada, de cinco. A ofensa à sua família teria acontecido em 2017, quando sua mulher estava grávida. Ela também trabalhava no Sistema Verdes Mares, era âncora de um jornal local na TV Diário. Foi demitida em maio do ano passado, logo após voltar de licença-maternidade.

"Um diretor expôs a minha família desse jeito, além de diversas situações de perseguição. Perdi emprego na rádio, minha mulher perdeu o emprego dela, saí dos jogos do Premiere e, por último, a gota d'água, foi eu perder espaço como narrador na TV Verdes Mares, que era o que me restava", lamentou o ex-Globo Esporte.

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