ROBERTA RODRIGUES
REPRODUÇÃO/TV GLOBO
Roberta Rodrigues denunciou atitudes racistas nos bastidores de Nos Tempos do Imperador
A Globo foi condenada a indenizar a atriz Roberta Rodrigues em R$ 500 mil por tê-la sujeitado a situações de assédio moral e racismo nos bastidores da novela Nos Tempos do Imperador (2021). A intérprete de Lupita no folhetim histórico, juntamente com Cinnara Leal (Justina) e Dani Ornellas (mãe Candida) denunciaram o diretor artístico Vinicius Coimbra por tratar o elenco negro da trama de maneira diferente dos artistas brancos. Tanto a emissora quanto Coimbra negam.
Segundo a coluna de Monica Bergamo na Folha de S.Paulo, a juíza Aline Gomes Siqueira, do Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região, interpretou que a emissora permitiu um ambiente de trabalho marcado por práticas de assédio moral e racismo institucional e determinou o pagamento da indenização. Cabe recurso da decisão.
A vitória de Roberta, porém, não foi completa. Ela solicitava o pagamento de R$ 10 milhões por conta das situações abusivas que teria vivido durante as gravações de folhetim. A Justiça do Trabalho determinou o pagamento de apenas 5% desse valor --que corresponde a RS 500 mil.
No processo, Roberta Rodrigues relatou que o ambiente adverso teria lhe provocado um diagnóstico de burnout, que forçou seu afastamento das gravações durante cerca de três meses.
Recentemente, a atriz chegou a afirmar que havia desistido da carreira; ela só voltou atrás após receber um convite de José Junior para fazer as séries A Divisão e Veronika --curiosamente, duas produções originais do Globoplay.
Em 2022, o Notícias da TV apurou que atores negros foram escalados para gravar durante o pico de casos de Covid-19, enquanto o restante do elenco, que tinha nomes como Selton Mello, Mariana Ximenes e Leticia Sabatella, foi poupado de se expor.
"Em um dado momento, Vinicius gritou no estúdio: 'O elenco vem comigo, os pretos ficam'. Na frente de várias pessoas. Quando alguns artistas pretos foram questioná-lo sobre essas falas, ele reagiu dizendo: 'Vocês deveriam agradecer de estarem aqui'", disse uma fonte ligada ao elenco.
Também eram comuns as críticas ao texto da novela, considerado racista em algumas passagens e acusado de romantizar a escravidão em outras. A emissora teve de contratar consultores para realizar uma revisão histórica e apontar os erros e as falhas nos roteiros.
A Globo negou as acusações, alegando que não houve nenhum tipo de discriminação ou segregação entre os atores brancos e os pretos. Também apontou que Roberta voltou a trabalhar na empresa em outros projetos depois da experiência em Nos Tempos do Imperador.
Apesar do posicionamento da emissora na Justiça, Vinicius Coimbra foi afastado de seu trabalho após as denúncias virem à tona e, dois anos depois, demitido. O diretor afirmou que foi informado que a motivação de seu desligamento seria assédio moral. Na ocasião, a Globo afirmou em nota à reportagem que não tolera preconceito.
"Em relação à novela Nos Tempos do Imperador, a empresa acredita que poderia ter adotado precauções extras para abordar a temática racial, nas diversas dimensões que a produção exigia. Nesse sentido, foram identificadas oportunidades de aperfeiçoar nossos processos internos para tratar adequadamente esta e outras temáticas sensíveis, garantindo que sua abordagem contribua para o avanço no caminho da diversidade, preservando a sensibilidade do público e de nossos colaboradores", informou.
A Globo não comentou a condenação por não fala sobre casos sub judice. Os advogados de Roberta Rodrigues, Carlos Nicodemos e Cinthia Carvalho, afirmaram que não vão se pronunciar sobre porque o processo está sob sigilo. Após a publicação deste texto, Coimbra procurou a reportagem para negar as acusações de assédio e racismo. Segue seu posicionamento na íntegra:
"1 - Nunca falei e ninguém do elenco me acusou de falar: 'O elenco vem comigo, os pretos ficam'. Ou pior: 'Vocês deveriam agradecer por estarem aqui'. Não há testemunhas que comprovem estas falas simplesmente porque elas não aconteceram. Que sejam ouvidas as pessoas que trabalharam comigo em toda a minha carreira na Globo.
Sempre tratei com respeito técnicos e artistas, e para isto não faltam testemunhas. Inclusive, em 23 anos de empresa, não havia nenhuma queixa contra mim no departamento de Compliance.
2 - O processo citado foi movido contra a Globo, não contra mim. Eu sequer fui chamado para testemunhar, por nenhuma das partes e nem pelo juízo. Se eu fosse parte central da denúncia, não deveria ter sido chamado?
3 - Repito o que afirmei em outras entrevistas: o que fiz quando a crise se instaurou na novela foi me reunir com vários integrantes do elenco para tentar contribuir com a solução dos problemas, inclusive com as atrizes e os atores negros, que eram os mais atingidos.
Nesta reunião com os artistas negros, ouvi por mais de duas horas suas demandas, que por sinal não se dirigiam à equipe de direção artística da novela, mas sim a processos de produção que estavam fora da minha alçada: separação de camarins, questões salariais, calendário de gravações... A reunião foi gravada e prova tudo que falo.
Eu, pessoalmente, achei justas as demandas, mas estava fora das minhas atribuições atendê-las. Não se referiam ao meu departamento, a Direção Artística. O que prometi e cumpri após a reunião foi levar estas reivindicações à direção da Globo e aos departamentos responsáveis pela solução dos problemas.
Eu fiz o que estava ao meu alcance para sanar os desconfortos, e conversar com o elenco fazia parte da minha função. O que pudemos fazer, além disso: revisamos todos os textos, reeditamos e regravamos cenas para que a novela atendesse às justas reinvindicações dos movimentos contra o racismo.
A defesa dos Direitos Humanos sempre pautou a minha vida e o meu trabalho. Basta uma simples pesquisa a meu respeito, junto às pessoas com quem trabalhei, que esta verdade aparecerá.
Fico à disposição para falar sobre os fatos ocorridos com quaisquer pessoas que se interessem em elucidá-los.
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