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MEMÓRIA DA TV

Em 1985, Sarney apoiou SBT em Brasília para acabar com monopólio da Globo

Divulgação

O presidente José Sarney decidiu apoiar Silvio Santos para combater avanços da Globo - Divulgação

O presidente José Sarney decidiu apoiar Silvio Santos para combater avanços da Globo

THELL DE CASTRO

Publicado em 8/7/2018 - 6h42

Em 1985, o SBT se envolveu em uma confusão com o governo federal e quase perdeu seu canal em Brasília (DF). Apesar de muita tensão e ameaças de Silvio Santos, o caso teve um fim surpreendente: além de não receber nenhuma punição, o canal recebeu o apoio do então presidente José Sarney, que afirmou ser contra o monopólio da Globo.

Em março daquele ano, dois dias depois da posse de Sarney, o então ministro das Comunicações, Antônio Carlos Magalhães (1927-2007), baixou uma portaria determinando o reexame de todas as concessões de radiodifusão realizadas a partir de outubro de 1984, quando o presidente ainda era João Figueiredo (1918-1999).

Notificado do caso, o Grupo Silvio Santos informou que continuava normalmente os preparativos para a instalação da emissora, incluindo a importação de diversos equipamentos, com investimentos de US$ 1,2 milhão.

O então diretor do Grupo Silvio Santos em Brasília, Flávio Cavalcanti Júnior, disse ao Jornal do Brasil de 22 de março de 1985 que estranhava o pedido do governo. "Nós somos um grupo empresarial que tem o segundo faturamento do país no setor de televisão. Para receber essa nova concessão, participamos de uma concorrência aberta pelo governo", declarou. "O que está feito, está feito, vamos aguardar o prazo de 60 dias que a comissão tem para examinar essas concessões", completou.

Em 11 de junho, o mesmo Jornal do Brasil informou que, se dependesse de ACM, Sarney assinaria na mesma semana um decreto cancelando as 140 concessões de rádio e televisão outorgadas entre 1º de outubro de 1984 e 15 de março de 1985.

"Com o cancelamento, o Ministério das Comunicações deverá realizar novas concorrências públicas para a instalação de emissoras. Um assessor do ministro observou, porém, que não haverá licitações para todas as concessões anuladas, porque algumas delas se situam em áreas de baixa rentabilidade econômica e outras estão superpostas com emissoras já existentes", informou a reportagem.

Magalhães considerou que houve um "festival de concessões utilizado como instrumento de ação política", de acordo com o texto publicado pelo JB.

SBT seria o único realmente afetado
De todas as 140 emissoras outorgadas, apenas uma já estava em fase de instalação. Era o canal 12 de Brasília, dado a Silvio Santos. O animador disse que, se o governo cancelasse sua concessão, entraria em uma nova concorrência. "Porque isso é um risco normal que todo empresário deve correr", ressaltou.

O próprio Silvio foi até o Palácio do Planalto para conversar pessoalmente com José Sarney. Perguntado sobre o que conversaram, respondeu: "Eu proibi todos os jornalistas da minha rede de fazerem críticas. Só quero que elogiem, porque eu acho que só os que trabalham podem acertar, e o elogio estimula".

Na época, o SBT tinha 25 canais, contra 52 da Globo. Com a suspensão de sua concessão, Silvio Santos disse que estava tendo um prejuízo de 200 milhões de cruzeiros mensais.

Alguns meses depois, em 30 de outubro de 1985, o Jornal do Brasil informou que o SBT continuaria com o canal de Brasília _o Grupo Bandeirantes também teve sua concessão mantida na cidade:

"O próprio ministro forneceu a informação após despacho com o presidente José Sarney, quando analisou a questão das 140 concessões de rádio e televisão, outorgadas pelo Governo passado e que se encontram suspensas, e a concessão de novas emissoras de televisão aos Estados da Bahia, Paraíba, Piauí e Distrito Federal".

Em 15 de julho de 1986, quando o SBT já estava no ar na capital, o JB informou os motivos da liberação. "Foi uma decisão política, baseada em critérios legais, para tentar acabar com o monopólio da Globo. Essa é a explicação do governo para a concessão do canal 12 de Brasília para o grupo Silvio Santos", enfatizou o texto.

"O próprio presidente José Sarney mostrou interesse em ajudar o grupo empresarial Silvio Santos, o único capaz de evitar o monopólio da Globo, explicou um assessor direto do chefe do governo. Acrescentou que, para o governo, não é bom ter um único grupo dominando o mercado, pois ele pode se tornar um perigoso instrumento de desestabilização política", completou a reportagem.

No entanto, apesar do sucesso da instalação do canal, um dos planos do SBT anunciados para a época nunca foi concretizado: Silvio Santos queria centralizar todo o jornalismo da rede na capital federal.

"A centralização do jornalismo em Brasília é uma decisão filosófica do empresário Silvio Santos. Ele, com sua percepção, reconheceu que qualquer rede de TV, para crescer, precisaria ter a base em Brasília, pois é aqui que se produzem os fatos políticos que influenciam a nação", disse Pedro Rogério, então diretor de comercialização do SBT.


THELL DE CASTROé jornalista, editor do site TV História e autor do livro Dicionário da Televisão Brasileira. Siga no Twitter: @thelldecastro

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