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RELAÇÃO PRÓXIMA

Como Roberto Marinho superou a censura na Ditadura e levou Globo ao topo?

REPRODUÇÃO/ACERVO ROBERTO MARINHO

Roberto Marinho posa para foto no Projac

Roberto Marinho fundou a TV Globo em 1965; o empresário firmou relações com a Ditadura Militar

JOSÉ VIEIRA

jose@noticiasdatv.com

Publicado em 5/8/2023 - 6h20

Morto há 20 anos, Roberto Marinho (1904-2003) se tornou um dos homens mais influentes do Brasil ao herdar o Grupo Globo. Sua emissora, hoje acusada por opositores de favorecer grupos de esquerda, foi fundada em 1965 como uma das principais apoiadoras da Ditadura Militar (1964-1985). Em um período de censura aos veículos de imprensa, o jornalista firmou parcerias com a direita para alçar a empresa ao topo.

Em busca de auxílio para a fundação da Globo, Marinho assinou um contrato de assistência com o grupo norte-americano Time-Life em 1962. O empresário ganhou um financiamento de US$ 6 milhões (R$ 29,2 milhões, na cotação atual, sem reajuste), o que o fez despontar entre os concorrentes.

Para efeitos de comparação, a TV Tupi (1950-1980), que era a segunda maior rede de televisão na época, havia sido montada com um capital de US$ 300 mil (R$ 1,4 milhão, na cotação atual).

Marinho era contrário às medidas impostas pelo ex-presidente João Goulart (1919-1976). À frente do jornal O Globo, ele havia colocado o veículo à disposição dos líderes do golpe. Com o início da Ditadura Militar e a expansão de seus negócios para a televisão, o empresário fortaleceu a disseminação do conteúdo pró-regime.

Aos poucos, órgãos de censura foram intensificados pelo governo. A perseguição contra a imprensa culminou na extinção da Tupi e da Excelsior (1960-1970), que sofreram com o declínio financeiro e os boicotes promovidos pelos militares.

A Globo, por outro lado, desviou das limitações direcionadas à imprensa. Programas jornalísticos da emissora ignoravam notícias que pudessem representar uma ameaça ao regime.

Emílio Garrastazu Médici (1905-1985), ex-presidente militar, chegou a elogiar o Jornal Nacional: "O Brasil marcha em paz, rumo ao desenvolvimento. É como se eu tomasse um tranquilizante após um dia de trabalho".

Em 25 de janeiro de 1984, em São Paulo, foi realizado o primeiro comício do movimento Diretas Já. Sua cobertura foi completamente negligenciada pela programação da Globo. O Jornal Nacional, por exemplo, informou que o movimento fazia parte das comemorações do aniversário da capital paulista.

José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, ex-vice-presidente do Grupo Globo, afirmou que Marinho havia determinado a censura ao comício. "O doutor Roberto não queria que se falasse em Diretas Já", disse em entrevista para a Folha de S.Paulo em 2005. Segundo Boni, o empresário temia que a cobertura dos protestos pudesse ameaçar a concessão da emissora.

A versão oficial da Globo afirma que a emissora estava sendo "pressionada pelos militares a simplesmente não cobrir os eventos".

Nos meses que antecederam o fim da Ditadura Militar, Marinho comentou sobre o apoio ao regime em uma coluna do jornal O Globo: "Participamos da Revolução de 1964, identificados com os anseios nacionais de preservação das instituições democráticas, ameaçadas pela radicalização ideológica, greves, desordem social e corrupção generalizada".

"Quando a nossa Redação foi invadida por tropas antirrevolucionárias, mantivemo-nos firmes em nossa posição. Prosseguimos apoiando o movimento vitorioso desde os primeiros momentos de correção de rumos até o atual processo de abertura, que se deverá consolidar com a posse do novo presidente", completou.

A retratação

Após anos de conivência com um regime opressivo da política brasileira, o Grupo Globo só fez uma retratação oficial em 2013. Em um editorial publicado pelo jornal O Globo e lido por William Bonner durante o Jornal Nacional, a empresa reconheceu o erro de ter apoiado a Ditadura Militar:

À luz da história, contudo, não há por que não reconhecer, hoje, explicitamente, que o apoio [ao golpe de 1964] foi um erro, assim como equivocadas foram outras decisões editoriais do período que decorreram desse desacerto original. A democracia é um valor absoluto. E, quando em risco, ela só pode ser salva por si mesma.

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