NADA SERÁ COMO ANTES
Fotos Estevam Avellar/TV Globo
Bruna Marquezine, Murilo Benício e Daniel de Oliveira em cena de Nada Será Como Antes
DANIEL CASTRO
Publicado em 27/9/2016 - 6h32
No ar a partir de desta terça-feira (27), Nada Será Como Antes contará em forma de drama romântico a origem da televisão brasileira. Ambientada nos anos 1950, encena o primeiro "Q.I." (Quem Indica) do veículo. Na série, a personagem de Bruna Marquezine ganha um papel de destaque sem fazer teste, apesar de ainda ser uma aspirante a atriz. Débora Falabella, que faz uma radioatriz consagrada, reclama: "Ela só está na novela porque namora o patrocinador". Surgia uma prática que se tornaria tão tradicional quanto o final feliz dos mocinhos.
Responsável pelo roteiro em parceria com Jorge Furtado e João Falcão, Guel Arraes explica que nada na produção se refere a uma personalidade específica da vida real, mas, de uma forma geral, a todos os que fizeram e fazem a televisão. "É o nosso mundo, a nossa vivência. Então, tem muito de história real de todo mundo, de gente que nós conhecemos, coisas que a gente viveu", diz.
A trama principal é a de Saulo Ribeiro (Murilo Benício), um vendedor de aparelhos de rádio que se apaixona pela voz de Verônica Maia (Débora Falabella). Ele a conquista, se casa com ela e vai atrás do sonho de ter sua própria estação de rádio. Dez anos depois, tem uma nova obsessão: quer colocar no ar a primeira emissora de TV do Brasil.
Para tanto, precisa convencer o empresário Otaviano Azevedo Gomes (Daniel de Oliveira) a investir no negócio. Saulo conhece Beatriz cantando numa boate e tem a ideia de usá-la para mostrar a Otaviano o "impacto da televisão", gravando um comercial. Funciona. Otaviano fica encantado com Beatriz, a quem compara a um poema, e decide patrocinar a TV Guanabara.
Arraes diz que Saulo não foi inspirado apenas em Assis Chateaubrind, o Chatô, fundador da primeira emissora de TV do país, a Tupi de São Paulo. "Saulo tem muito tem um pouquinho de Chatô, tem um pouco de Boni [José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, criador do padrão Globo de qualidade], tem um pouco do Walter [Clark, o primeiro diretor-geral da Globo, responsável pela decolagem da emissora], mas tem um pouco de nós todos", afirma.
Murilo Benício e Débora Falabella são um casal da vida real que interpreta um casal na série
História de um dramalhão
Em Nada Será Como Antes, a história da TV na verdade é um pano de fundo para um dramalhão. O que realmente importa são as tramas de novelas, afinal a série, a primeira de época da Globo, é uma homenagem ao principal gênero da televisão brasileira.
Assim, depois de dez anos casado e mesmo amando Verônica, Saulo decide se separar da mulher. Ele descobre que é estéril e, como a atriz quer muito ter um filho, decide deixá-la para que ela possa realizar esse sonho com outro homem. Enquanto isso, ocupa seu tempo colocando no ar a primeira TV.
Como na vida real, leva a ex-mulher para trabalhar na emissora. Verônica é a protagonista de uma adaptação de Anna Karenina, mas é Beatriz, a essa altura já namorada do patrocinador Otaviano, quem chama a atenção do público.
"A televisão é muito familiar, as pessoas namoram, vivem e trabalham juntas. Então, uma separação no trabalho, um ator e uma atriz que se separam e são obrigados a trabalhar juntos, é muito normal", lembra Guel Arraes. Não por acaso, o casal principal é interpretado por um casal da vida real, que passou a se relacionar durante uma telenovela, Avenida Brasil (2012).
Nada Será Como Antes é "uma TV de época que fala da TV como ela é hoje", na definição de Arraes. Por isso, tem uma trama ousada para o período retratado. Fala, por exemplo, da emancipação da mulher, o que só aconteceria no final da década seguinte. Essa modernidade é representada por Verônica, que se tornará mãe solteira numa época em que isso era inaceitável, e pelo triângulo amoroso formado entre Otaviano, Beatriz e Júlia (Leticia Colin). Irmã de Otaviano, Júlia namora Vitor (Igor Angelkorte) e tem um caso com Beatriz.
A modernidade também aparece na direção de José Luiz Villamarim, um dos diretores mais prestigiados da Globo na atualidade (ele comandou Amores Roubados, O Rebu e Justiça). Ao invés de optar por uma linguagem mais acadêmica, como poderia ser conveniente para uma produção dos anos 1950, Villamarim se inspirou em filmes da nouvelle vague (Acossado, 1960, de Jean Luc-Godard), no cinema novo de Glauber Rocha e no recente Birdman (2014). Trocou a câmera fixa pela câmera na mão, que segue os personagens, entra na cena em planos sequência. "A opção foi desinstalar, filmar de uma maneira mais orgânica possível", diz.
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