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MEMÓRIA DA TV

Bilhete desesperado de autor ajudou novela das oito da Globo a engrenar

DIVULGAÇÃO/TV GLOBO

Glória Menezes, Tony Ramos e Regina Duarte em Rainha da Sucata (1990)

Glória Menezes, Tony Ramos e Regina Duarte em Rainha da Sucata (1990); início da trama foi conturbado

THELL DE CASTRO

Publicado em 14/8/2022 - 8h15

Apesar de todos os percalços, Rainha da Sucata, exibida pela Globo entre abril e outubro de 1990, ficou marcada na história da televisão brasileira como um grande sucesso da emissora. No entanto, o início da trajetória da trama foi bastante complicado.

Pouco mais de um mês após a estreia, o autor Silvio de Abreu, muito pressionado por conta dos baixos índices de audiência iniciais e pela concorrência da primeira versão de Pantanal (1990), que era exibida logo em seguida pela Manchete (1983-1999), tomou uma atitude drástica em maio daquele ano.

Por não estar conseguindo manter em dia a entrega dos capítulos da trama, Abreu pediu para Gilberto Braga (1945-2021) ajudá-lo na tarefa.

"Um grave problema particular, muitos problemas com computadores e a adaptação de capítulos já escritos para a nova realidade econômica brasileira foram os motivos alegados pelo escritor para o atraso", informou reportagem da Folha de S.Paulo de 11 de maio daquele ano.

Esses motivos foram listados num bilhete escrito de próprio punho por Abreu e entregue para a direção da Globo. A Folha teve acesso ao documento. Um dos problemas particulares era a morte do irmão Ubaldo.

Em busca de paz para trabalhar, o autor se refugiou no Guarujá, litoral de São Paulo, de acordo com sua secretária, e trabalharia nos próximos blocos de capítulos da história --enquanto isso, Braga entregaria os capítulos dos dias seguintes, para agilizar os trabalhos.

"Resolvi recorrer à boa vontade de um amigo brilhante e talentoso, que, generosamente, vai me ajudar a colocar a nossa vida em dia", escreveu Abreu, que ainda pediu para que os atores adequassem algumas falas e expressões aos seus personagens que ficassem faltando.

Capítulos curtos

A Folha ainda disse que existia outra razão para o pedido de socorro:

Além de atrasados, os capítulos de Rainha da Sucata estavam curtos. O diretor-executivo Roberto Talma [1949-2015] explicou que os capítulos estavam com trinta minutos, quando o comum em novelas das 20h é oscilar entre 45 e 50 minutos. Segundo ele, os capítulos estavam curtos por erro de script.

"Perdemos dois capítulos para colocar a novela no tempo", assegurou o diretor, negando que os episódios foram esticados por conta de Pantanal.

Gilberto Braga acabou escrevendo nove capítulos de Rainha da Sucata e fez significativos ajustes na forma de contar a história.

"Ele me ajudou a formatar a novela. Como estava assistindo, apontou os erros e o que precisava ser feito. Separamos os núcleos de comédia e drama e conseguimos achar uma comunicação boa com o telespectador", declarou Abreu ao livro Biografia da Televisão Brasileira, de Flavio Ricco e José Armando Vannucci.

Dessa forma, o autor conseguiu prosseguir com seu trabalho após a providencial ajuda e transformou Rainha da Sucata num sucesso, fechando a trama com 179 capítulos.

Por coincidência, seria Braga quem passaria por apertos no ano seguinte, com outra novela da Globo, O Dono do Mundo (1991), que também teve seu início rejeitado pelo público e sofreu com a concorrência da mexicana Carrossel (1989), exibida pelo SBT. Aí, a ajuda foi devolvida, com Silvio de Abreu reformulando o perfil de alguns personagens e colocando a trama nos eixos.


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