REGRAS VIOLADAS
Reprodução/TV Globo
Leilane Neubarth no Edição das 18; jornal de 5 de março foi o último antes de ela criticar Bolsonaro e sumir
REDAÇÃO
Publicado em 8/4/2019 - 6h27
As apresentadoras da GloboNews Leilane Neubarth e Mônica Waldvogel ficaram fora do ar durante cinco dias depois de críticas e bate-boca com Jair Bolsonaro nas redes sociais. Os episódios aconteceram há um mês, quando o presidente publicou no Twitter um vídeo obsceno gravado em um bloco no Carnaval de rua de São Paulo.
A atitude das jornalistas contraria os Princípios Editoriais do Grupo Globo, que, desde meados do ano passado, proíbem os profissionais de se manifestarem politicamente nas redes sociais, para não comprometer o princípio da neutralidade.
Em 6 de março, Leilane publicou: "Estou desde ontem tentando entender o que leva um Presidente da República a postar uma cena escatológica como esta". E marcou Bolsonaro. O tuíte gerou 6.100 comentários.
Estou desde ontem tentando entender o que leva um Presidente da República a postar uma cena escatológica como esta. https://t.co/2M0RViOUGS
— Leilane Neubarth (@LeilaneNeubarth) 6 de março de 2019
Num outro post, a apresentadora, que entrou na Globo em 1979, foi ainda mais enfática. Disse que, em seus 60 anos de vida, nunca tinha visto tanta "escatologia". Confira:
A cena postada pelo Presidente não é como ele diz “o que tem virado muitos blocos de rua” . Trabalho no carnaval, nas ruas , há décadas e nunca vi nada parecido . Aliás em 60 anos de vida só vi tamanha escatologia neste post. E vi sem escolher... passou na minha TL
— Leilane Neubarth (@LeilaneNeubarth) 6 de março de 2019
No mesmo dia, uma quarta-feira, o edição das 18h da GloboNews, telejornal do qual Leilane é a titular, passou a ser apresentado pela substituta Leila Sterenberg. Leilane só voltou na segunda, 11, cinco dias depois.
Já Mônica Waldvogel questionou se a postagem do vídeo carnavalesco era mesmo de Bolsonaro. Em seguida, rebateu um comentário de uma seguidora, dizendo que faltava "decoro" ao presidente. O ex-capitão logo respondeu: "E pra vocês. Falta o quê"?
Essa @ é mesmo do Presidente da República do Brasil? https://t.co/7pnDyTQihW
— Mônica Waldvogel (@MonicaWaldvogel) 5 de março de 2019
E falta decoro.
— Mônica Waldvogel (@MonicaWaldvogel) 6 de março de 2019
E pra vocês. Falta o que?
— Jair M. Bolsonaro (@jairbolsonaro) 6 de março de 2019
Como o Entre Aspas, programa de entrevistas do qual Mônica é a titular, é exibido nas noites de terça, sua falta não foi sentida no ar, mas nesse período de cinco dias, ela também não apareceu no Em Pauta, do qual faz parte do elenco rotativo.
O "sumiço" das jornalistas gerou comentários nas Redações da Globo de que elas teriam sido suspensas. A Globo nega. Afirma que elas estiveram fora do ar naqueles dias por motivos particulares ou para descansar, já que era Carnaval.
O fato é que, pelas regras internas da emissora, descritas no documento chamado Princípios Editoriais do Grupo Globo, jornalistas, figuras públicas ou não, são proibidos de fazer comentários políticos ou declarar posições ideológicas, mesmo em redes privadas, como o WhatsApp.
Em abril do ano passado, o diretor-geral de Jornalismo da Globo, Ali Kamel, enviou um e-mail a todos os subordinados em que voltava a alertar sobre o uso de redes sociais. O executivo advertiu que os profissionais do departamento não devem expressar publicamente preferências políticas e partidárias porque isso causa "dano" à emissora.
O e-mail foi disparado horas depois de vazar nas redes sociais um conjunto de áudios em que o jornalista Chico Pinheiro, apresentador do Bom Dia Brasil, fazia uma apaixonada defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, preso há um ano.
Dois meses depois, a Globo lançou uma nova edição dos seus Princípios Editoriais, documento que normatiza a conduta ética dos jornalistas da emissora. Regras sobre o comportamento dos profissionais em redes sociais foram incluídas. Desde então, estão expressamente proibidas, por exemplo, manifestações de preferência por clubes de futebol e curtidas de posts de políticos.
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