Jornalismo
Reprodução/Facebook
Clayton Pascarelli, que foi demitido após criticar governador por massacre no Amazonas
DANIEL CASTRO
Publicado em 6/1/2017 - 5h30
Apresentador do Bom Dia Amazonas, da afiliada da Globo em Manaus, o jornalista Clayton Pascarelli foi demitido na quarta-feira (4), um dia depois de fazer um comentário crítico ao governador do Estado do Amazonas, José Melo, do Pros, por causa da morte de 56 presos em uma guerra de facções no Complexo Penitenciário Anísio Jobim.
No telejornal de terça-feira, foi ao ar uma reportagem sobre a visita do ministro da Justiça ao Amazonas. No final, em uma entrevista coletiva, o governador dizia que avaliava conceder um pacote de regalias aos presos do Estado. Coapresentadora do Bom Dia Amazonas, Luana Borba questionou que era "no mínimo curioso" o governador dar privilégios a detentos que cometeram uma "barbárie". "Bom, deste governo nada mais me assusta", questionou Pascarelli em seguida.
Embora o comentário de Pascarelli tenha sido mais leve, somente ele foi punido. Ainda na terça, foi avisado de que não apresentaria o telejornal no dia seguinte. Um diretor da emissora entrou na Redação da emissora gritando que seu telefone não parava de tocar por causa da crítica do jornalista.
Pascarelli já estava sob a mira da direção da Rede Amazônica. Especialista em segurança pública, ele é repórter investigativo (é diretor da Abraji, a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo) e um âncora crítico. Secretários do governo estadual se recusavam a participar do telejornal matinal para evitar os questionamentos do jornalista, que já vinha recebendo alertas de superiores sobre os transtornos que seus comentários causavam à casa.
Pascarelli em post no Facebook em que se despediu dos telespectadores da Rede Amazônica
Procurado pelo Notícias da TV, Pascarelli não quis falar sobre sua demissão, mas confirmou que foi motivada pelo comentário sobre o massacre de presos. Nas redes sociais, ele publicou um texto, muito elegante, em que não faz nenhuma acusação contra a Rede Amazônica. Pelo contrário, agradece aos patrões "pela isenção, credibilidade e liberdade" que lhe deram nos onze anos de relação profissional.
A Rede Amazônica não comentou sobre o assunto até a conclusão deste texto. A Globo, via assessoria de imprensa, afirmou que se trata de um assunto interno da afiliada sobre o qual não tem nenhuma ingerência.
A demissão de Pascarelli evidencia a fragilidade da independência jornalística de afiliadas da maior rede de televisão do país. Ele não foi a primeira vítima da pressão de governos. No ano passado, por exemplo, o repórter de rede Alex Barbosa foi demitido pela TV Centro América (Mato Grosso) após tentar comprovar como o tráfico de drogas age facilmente na fronteira com a Bolívia. Ele percorreu 600 quilômetros de estrada transportando 240 quilos de gesso como se fossem pacotes de cocaína.
A pressão sobre jornalistas investigativos de afiliadas, principalmente do Norte e Centro-Oeste, é tanta que muitos deles sugerem reportagens para colegas do Fantástico, ao invés de eles mesmos as produzirem. Além do risco de perder o emprego por causa de políticos, há a ameaça de grupos criminosos.
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