Pressão política
Reprodução/TV Globo
Alex Barbosa mostra falsa cocaína em reportagem exibida pelo Jornal da Globo do dia 13
DANIEL CASTRO
Publicado em 30/10/2015 - 17h09
Atualizado em 31/10/2015 - 9h00
Afiliada da Globo em Mato Grosso, a TV Centro América demitiu o jornalista Alex Barbosa. Repórter de rede, que produz para os telejornais de cobertura nacional, Barbosa foi preso no último dia 12 quando simulava tráfico de cocaína em uma reportagem em que testava a fragilidade do combate ao tráfico na fronteira do Brasil com a Bolívia. O jornalista e mais três funcionários da TV Centro América transportavam 240 quilos de gesso embalados como se fossem pacotes de cocaína. Eles permaneceram sete horas presos na Polícia Federal de Cáceres (MT).
Barbosa foi desligado na última quarta-feira (28). Ele agora aguarda a decisão da Globo sobre seu futuro profissional. É certo que não ficará desempregado. Deverá ser contratado por outra afiliada da rede ou absorvido por alguma das emissoras da família Marinho. Os repórteres de rede são indicados pela direção-geral de jornalismo, no Rio de Janeiro, mas são contratados e pagos pelas afiliadas. Ex-TV Mirante (Maranhão), da família Sarney, Alex Barbosa estava havia apenas três meses no Mato Grosso. Procurado pelo Notícias da TV, o repórter não quis se manifestar.
Barbosa teria sido demitido porque suas reportagens investigativas, como a que expôs a fragilidade da polícia na fronteira, incomodavam o governo local. Pressionados política e economicamente, os donos da TV Centro América teriam decidido demiti-lo. A afiliada tem um histórico de conflitos com a orientação do jornalismo da Globo. Atualmente, encontra-se sob uma espécie de intervenção. O diretor de jornalismo local foi indicado pela Globo, assim como Barbosa.
O repórter e mais três funcionários da TV Centro América foram detidos no dia 12 quando trafegavam pela BR 070. Eles já tinham rodado durante 12 horas pelas estradas do Estado do Mato Grosso com a falsa droga.
Como mostrou uma reportagem exibida pelo Jornal da Globo no dia 13, eles passaram tranquilamente três vezes diante de três postos da Polícia Rodoviária Federal, por um posto do Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte) e por blitz de policiais rodoviários. Só foram detidos à noite, em uma blitz do Gefron (Grupo Especial da Fronteira), da Polícia Militar, que os encaminhou para a Polícia Federal. Na PF, foi constatado preliminarmente que o material que transportava era gesso, mas mesmo assim foram instaurado um inquérito e apreendidos os veículos da reportagem.
A pauta desagradou autoridades. O secretário de Segurando do Mato Grosso chegou a dizer à imprensa que, "independentemente da questão de ser reportagem, eles [jornalistas] serão tratados de acordo com o que rege a lei". E cobrou publicamente a exibição da reportagem, mostrando que o repórter falhou na missão de provar a fragilidade do policiamento.
A Polícia Federal, no entanto, foi alertada pelo Ministério Público Federal de que a TV Centro América faria a reportagem. O próprio Alex Barbosa enviou ofício a procuradores da República informando previamente, como medida de segurança, que testaria a eficácia da fiscalização contra o tráfico.
Desde as 15h30 desta sexta (30), O Notícias da TV tenta falar com a direção de jornalismo da TV Centro América, sem sucesso. Os funcionários que atendem às ligações dizem que os responsáveis não se encontram na Redação.
A Globo, oficialmente, diz que Barbosa não foi demitido. Mas é fato o jornalista foi informado pela TV Centro América que seu contrato será rescindido. Ele continua à disposição da Globo, como repórter de rede, mas está sem contrato e afastado da atividade.
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